Publicamos a nota do Movimento pela Frente Socialista Revolucionária saída em ocasião da comemoração dos 60 anos do golpe militar de 1964. Ao contrário do governo Lula, que proibiu atos comemorações para pactuar com a cúpula militar e a extrema direita, e de setores da esquerda da ordem, que pensam que essa é uma data apenas para ser comemorada, pensamos que esse deve ser um dia de combate contra a anistia aos torturadores, assassinos e repressores militares e civis do regime autoritário, que durou 21 anos. Por isso, a nossa luta deve ser pelo fim da anistia aos criminosos do regime militar, pela reabertura por Lula da Comissão de Mortos e Desaparecidos, pelo fim da Polícia e dos Tribunais Militares e de qualquer tutela militar sobre o Estado, como é o caso do artigo 142. Mas, também, temos que lutar contra os golpistas de hoje através da prisão e expropriação dos bens de Bolsonaro e de todos os golpistas que na história recente tentaram reeditar o regime de 64. Apenas com esse conjunto de medidas podemos superar as ameaças golpistas da extrema direita e a política de tortura, perseguição e extermínio à população negra e trabalhadora que impera nas polícias militares e civis em todo o Brasil.

Redação

Golpes e Ditaduras nunca mais: Vamos Avançar para uma Democracia Popular e da Classe Trabalhadora!

31 de março de 2024

O 31 de março (para alguns 1° de abril) completa, hoje, 60 anos do golpe empresarial-militar no Brasil, quando inaugura um dos períodos mais tenebrosos e sangrentos da nossa História. Isto porque foram milhares de desaparecidos, mortos, torturados, perseguidos e demitidos por suas convicções políticas; quando os Partidos de Oposição – principalmente os Operários e os Sindicatos, foram colocados na ilegalidade ou sofreram intervenções brutais do regime militar. Como consequência, tiveram o fim do direito à organização e mobilização sindical, o que acarretou um período dos mais violentos arrochos salariais para a classe operária, em que a corrupção reinava sem que ninguém pudesse denunciar.
Entretanto, os militares não agiram sozinhos. Contaram com o apoio dos países imperialistas, outras ditaduras americanas, com empresas multinacionais e empresários brasileiros financiando os centros de detenções e torturas clandestina; da mesmo forma os empresários dos meios de comunicação, como a Rede Globo, Silvio Santos e o Grupo Bandeirantes, contribuíram com propagandas a favor dos militares, com divulgações de mentiras contra militantes dos movimentos populares, estudantis, sindicais e organizações de esquerda, para a massa da população.
Depois de muitos anos de lutas (de múltiplas formas) conseguiu-se derrotar, em parte, a ditadura a partir das lutas estudantis e operárias, que culminou na campanha pelas “Diretas Já!”, a qual reuniram milhares de pessoas, constituindo um dos maiores Movimentos Populares da nossa História.
Foi sem dúvida uma importante vitória da classe trabalhadora brasileira; mas, por outro lado, as direções do movimento das “Diretas Já!” (Brizola, Ulysses Guimarães, Lula, Jair Meneguelli, entre outros) aceitaram apenas um acordo com os militares – com a Anistia -, garantindo a impunidade aos golpistas e torturadores, quando o impuseram à toda a sociedade brasileira.

Esquecer o passado? Não, Lula, não concordamos!!!

Durante o último governo de Bolsonaro e os militares, comemoram o 31 de março como um “ato heroico” aos militares e de apoio às torturas e torturadores, numa demonstração de que “o espírito macabro de 64” continua às soltas.
De nosso lado, lembramos o 31 de março como um marco de resistência do povo brasileiro, para manter viva a História de Lutas; e, que ainda é preciso punir os golpistas, os torturadores, as empresas, assim como o Estado brasileiro capitalista, que precisa ser também responsabilizado. Por isto lutamos para manter viva a Memória desse acontecimento, para que nunca mais volte a ocorrer.
Mas, os Lula – conciliador com os golpistas e traindo a memória de mortos e vivos que lutaram contra a ditadura – proibiu a realização do ato que relembraria a perseguição e a resistência, que seria realizado no Museu da República, com o argumento de não “remoer o passado”. Segundo Lula, essa proibição é para não tensionar a relação com as Forças Armadas. Aliás, foi essa mesma orientação política que levou ao esvaziamento dos Atos pela prisão de Bolsonaro e seus cúmplices. Esse ato político de Lula é, na prática, uma colaboração com os que apoiaram o golpe e trabalham para o esquecimento desse período da nossa História; também, é uma colaboração com os que deram o golpe, e, na surdina das Associações e Clubes Militares, vão se embebedar, brindando ao que ofensivamente chamam de “Revolução de 64”. Não! Não é possível esquecer e perdoar a tudo o que fizeram com o nosso povo.
Pois, relembrar o 31 de março é um momento para refletir, recordar e homenagear as vítimas do terrorismo do regime ditatorial e incentivar as novas gerações, que não viveram diretamente as brutalidades da ditadura, a conheceram o papel opressor das Forças Armadas na sociedade capitalista, com consequências da atual política de tortura, encarceramento em massa e extermínio perpetradas pela polícia militar de São Paulo, assim como em vários outros estados do país, inclusive os governados pelo PT, como é o caso emblemático da Bahia.
Isto porque olhar para o passado é transformá-lo em uma força viva na formação do presente, para que se possa alimentar as lutas políticas de hoje, para que golpes – como o de 1964 e o frustrado de 8 de Janeiro de 2023 -, não se repitam nem como farsa, muito menos como tragédia.

Continuar a luta, enfrentar a extrema-direita e ser contra a rendição política de Lula e a esquerda liberal

Essa democracia burguesa do pós-ditadura, que se constituiu, carrega muito da trágica ditadura; como vemos, por exemplo, o papel que desempenha a Polícia Militar, que assassina os jovens nas periferias, os ativistas perseguidos (e demitidos) nas empresas; com a proibição de greves, a imposição do arrocho salarial, a retirada de direitos dos trabalhadores e até com a espionagem policial nos movimentos sociais e populares.
Não fazemos um sinal de igual do nosso momento histórico com a ditadura militar passada, mas não temos ilusões de que essa democracia burguesa possa garantir a liberdade que tanto almejamos. Porque a conquista da liberdade democrática exige muita luta e organização contra as heranças institucionais, ideológicas e políticas vivas do regime ditatorial, nesse regime democrático burguês atual e, principalmente, neste momento de enfrentamento à extrema-direita bolsonarista e suas variantes, com seus métodos protofascistas.
Por conseguinte, nossas formas de luta e organização da classe trabalhadora se farão contra a rendição política de Lula, assim como a essa esquerda liberal, para que possamos mobilizar a Classe Trabalhadora para o avanço concreto das nossas lutas políticas.

Movimento pela Frente Socialista Revolucionária