Em abril de 2021, Anasse Kazib, candiata a presidente para esta eleições na França, junto à organização da qual é parte – Revolução Permanente – protagonizou uma ruptura com o NPA ao optar por uma posição extremamente sectária e divisionista que favoreceu a ala mais à direita do NPA. Uma posição que tem refletido profundamente políticas e métodos recorrentes desta organização internacional. 

Em uma movimentação auto proclamatória, Anasse mantém sua candidatura e diz apresentar um programa autodeclarado comunista, revolucionário, ambientalista, anti-imperialista e anti-discriminatório. Contudo, diálogos mais recentes com o STRASS, Sindicato do trabalho sexual, entidade francesa que promove a regulamentação da prostituição como um trabalho formal, vêm levantando questionamentos sobre a ambiguidade de sua campanha e sobre o desserviço e retrocesso na luta pelo abolicionismo das pessoas que vivem sob a dura realidade da prostituição.

Neste sentido, Las Rojas Paris lançaram uma nota de análise que debate as inconsistências e contradições de campanha de Kazib sob a perspectiva feminista socilialista que nossa organização defende, fazendo um paralelo com a visão etapista de Andrea D’Atri em sua obra “Bread and Roses”.

Redação

Las Rojas Paris – Vermelhas Paris

Na semana passada, Anasse Kazib e STRASS reuniram-se no âmbito da campanha presidencial de 2022. O sindicato tem apelado a todos os candidatos para se encontrarem com eles e conseguir que firmem uma promessa de campanha de que assinarão um compromisso para regular a prostituição como trabalho sexual uma vez que estejam no poder. Este sindicato não só tem apelado, mas também feito lobby para aceitar a reunião ou para estigmatizar nas redes sociais todos aqueles que optam por não se encontrar com eles.

Neste artigo procuramos clarificar as posições que foram apresentadas neste debate, que não são novidade para o feminismo, nem na França nem internacionalmente, a fim de estabelecer uma posição necessária para nós, que é o abolicionismo dos revolucionários.

Acreditamos que a posição desenvolvida por Bread and Roses (Pão e Rosas) nos últimos anos é suficientemente ambígua para ser considerada oportunista. Numa altura em que as condições de vida de vastos setores da população e dos jovens estão a deteriorar-se, as vozes reguladoras ganharam terreno ao confiarem na precariedade material da vida das mulheres para apoiar e afirmar a categoria do trabalho sexual. Apoiando-se na tendência ascendente destas posições, Bread and Roses decidiu posicionar-se como “abolicionista em último recurso”, e mesmo no seu texto francês declaram que não são “nem abolicionistas nem regulamentadores”[1].

O texto mais central desta posição é da autoria de Andrea D’Atri[2], uma das principais teóricas feministas do Bread and Roses, no qual ela assinala que o abolicionismo é a posição de princípio de todos os revolucionários, mas que no contexto atual é correto considerar e militar pela regularização do trabalho sexual como um “slogan transitório”.

Nós, Las Rojas Paris, não pensamos que um slogan transitório possa ser formulado com base na capitulação do programa, muito menos como a afirmação do programa exatamente oposto. A experiência recente mostra-nos que a formulação a que os camaradas do Bread and Roses chegaram leva-os mais frequentemente a militar a favor do regulamentarismo do que a envolverem-se em lutas abolicionistas.

Continuamos sendo intransigentemente abolicionistas. Não encontramos qualquer utilidade em ceder à pressão dos sectores reguladores que nos oferecem o empoderamento das mulheres enquanto legitimam a violência que a regulamentação representa para a grande maioria daqueles que se encontram em situações de prostituição e a vivem dia após dia. Somos contra a legitimação dos lobbies dos proxenetas e dos consumidores da prostituição para que possam continuar a explorar as mulheres, sejam elas migrantes, mulheres e transexuais na prostituição, ou mesmo menores que são recrutados para tal exploração.

Não concordamos com a confusão de categorias que atualmente querem propor de que os abolicionistas sejam um setor conservador e reacionário, contra as pessoas na prostituição. Somos contra a perseguição policial e criminalização de todas as mulheres, cis e trans, pelas forças policiais. Mas o que queremos é lutar por melhores condições de vida para todos e não somos a favor da legitimação da precariedade que está atualmente a ser experimentada.

Aproveitamos também esta oportunidade para salientar que o abolicionismo não é em si mesmo, como setores como o STRASS nos fariam crer, uma posição transfóbica. Em todos os locais onde intervimos, lutamos ao lado de pessoas  transexuais pela sua integração em condições de trabalho decentes. Por exemplo, na Argentina, temos participado nesta luta, impulsionada principalmente por mulheres trans que sobrevivem à prostituição. Compreendemos que condições reais e dignas de trabalho para a população de travestis/trans, tornarão possível uma alternativa para aqueles setores que até agora não conheciam outra solução para a sobrevivência a não ser a violência da prostituição.

Não há “slogan de transição” que nos possa levar à capitulação do objetivo estratégico da emancipação da mulher. Continuaremos a lutar contra todas as formas de exploração e violência contra as mulheres e a construir um feminismo abolicionista e revolucionário.

Tradução Júlia Bachiega