Crédito: Adriano Machado/Reuters

Na tarde deste domingo, 08/01, milhares de bolsonaristas ocuparam a Praça dos Três Poderes com o objetivo de criar condições para fechar o regime. Apesar do caráter farsesco que teve essa ação, existe uma crise política profunda no Brasil que não pode, como quer Lula e seu governo, ser resolvida pela institucionalidade burguesa. Exige sim colocar de pé um amplo movimento antifascista organizado desde as bases dos sindicatos, movimentos e organizações políticas comprometidas com os direitos democráticos das massas e dos oprimidos.

ANTONIO SOLER

Vimos, a pouco, em Brasília, Distrito Federal, milhares de bolsonaristas invadindo e depredando prédios do Congresso Nacional, do STF e do Palácio do Planalto, sedes do legislativo, do judiciário e do governo federal, respectivamente. Esses prédios, que concentram os poderes federais da República, ficam dispostos um diante do outro na chamada Praça dos Três Poderes, foram invadidos e depredados.  

Essa não é uma ação inesperada, um raio em céu aberto, pois foi aberta e amplamente anunciada pelos neofascistas. Ainda no poder, o bolsonarismo se utilizou de instrumentos institucionais e não-institucionais para se manter no poder e, depois das eleições, tivemos bloqueios das estradas, acampamentos em frente aos quartéis, quebra-quebra em Brasília e, agora, essa ação coordenada de demonstração de forças – tudo isso sem a menor responsabilização, prisão ou processamento destes golpistas.

Obviamente que esse golpismo político de baixo impacto, mas que se não for aplastado é extremamente perigoso, não conta com amplas massas, com apoio direto de setores das forças armadas, do grande empresariado ou do imperialismo, só pode ser entendido em um cenário em que a derrota eleitoral de Bolsonaro não foi acompanhada diretamente de uma derrota do bolsonarismo como um todo, que  elegeu 3 governadores e uma ampla bancada de parlamentares e conta com simpatia entre parte significativa das forças armadas e repressivas. 

A ação de hoje, além deste contexto de derrota eleitoral de Bolsonaro, mas de fortalecimento relativo do bolsonarismo, da complacência generalizada das instituições e do apoio de setores da classe dominante, só pode ser explicada pela cumplicidade direta do governador do Distrito Federal (DF), Ibaneis Rocha (MDB), e do seu Secretário de Segurança Pública, Anderson Torres (Torres foi ministro da Segurança Pública de Bolsonaro), que sabedor das ameaças sair de Brasília.

Certamente que a responsabilidade política direta sobre essa ação golpista é de responsabilidade política de Bolsonaro e do governador Ibaneis Rocha, pois esse tinha amplo conhecimento do deslocamento de 100 ônibus, da maior concentração em frente ao Quartel General do Exército e da intenção do bolsonarismo de invadir a Praça dos Três Poderes. Os dados que vão chegando enquanto escrevemos essa nota demonstram que a Polícia Militar do DF foi totalmente cúmplice diante da movimentação golpista, pois não apenas não interveio para conter a invasão, fez antes dessa ação uma verdadeira escolta da turba neofascista do Quartel General do Exército até a Praça dos Três Poderes.

Diante da aberta cumplicidade de Ibaneis Rocha ao golpismo, Lula está determinando uma intervenção federal apenas na segurança pública do Distrito Federal. Até o momento, Lula e seu governo, que tinham pleno conhecimento da movimentação neofascista, limita-se – como não poderia deixar de ser pelo seu caráter de classe – a tomar uma medida institucional na segurança pública, não responsabiliza o governo Rocha e não faz o menor apelo à mobilização popular para desmantelar o golpismo neofascista.

A ação de hoje, em que pese seu caráter meio que farsesco, pois não tem base hoje, por hoje para qualquer mudança de regime, não pode passar ileso sem que todos os envolvidos – lideranças, empresários, políticos, agentes da segurança pública e das forças armadas – direta e indiretamente sejam responsabilizados. No entanto, como já afirmamos em outras notas ao longo dos anos, o bolsonarismo é uma poderosa força extraparlamentar neofascista que atua com instrumentos institucionais e extra institucionais com a estratégia permanente de criar o caos com o objetivo de fechar o regime político.

Por essa razão, pela ameaça à soberania popular e aos direitos democráticos de organização e luta, os explorados e oprimidos não podem – como querem Lula, PT e seu governo de conciliação de classes – ficar prostrados à espera da ação das instituições burguesas diante do neofascismo. É preciso, mantendo toda a independência política diante do governo Lula, colocar de pé, desde as bases, a unidade de ação antifascista nas ruas que organize e mova de forma direta todas as forças políticas, sindicais, populares, estudantis e, também, todas as organizações que se dizem democráticas. Essa unidade de ação deve, de forma imediata, exigir nas ruas o impeachment de Ibaneis Rocha, prisão e processamento de Anderson Torres e de todos os responsáveis e cúmplices por essa ação golpista, e de forma permanente, organizar um movimento que tenha como tarefa política central esmagar o neofascismo no Brasil.  

Unidade de ação para derrotar o neofascismo nas ruas

Extradição e prisão de Bolsonaro

Prisão de Ibaneis e de todos responsáveis politicos pelos atos golpistas