Vitória Antunes
Nesta segunda-feira, 23, após a postagem de um story no perfil de Wesley Safadão no Instagram, notou-se em um dos vídeos André Vitor, pastor e amigo de longa data de Wesley, abraçando uma criança de biquíni pelas costas, apalpando-a na região dos seios. A menina se desvincula e André dá um passo atrás, enquanto puxa a camisa para baixo. Após a repercussão, tanto o pastor, quanto o cantor e a família da criança saíram em defesa de André no caso, acusando quem nota o visível desconforto da garota como ‘maldosos’ com o ‘demônio nos olhos’. Para Wesley Safadão, a presença assídua do pastor em sua casa já é razão suficiente para defendê-lo.
Diante de uma ocasião como essa, por quê não lembrar dos impactos do assédio e do abuso infantil na vida de uma criança? Desde a infância, as garotas são incentivadas a não sairem de casa com o short mais curto, com vestidos, saias e camisas decotadas ou justas. Porém, já não é mais segredo que essa cultura de proibições, no final, não é o suficiente, pois além de reprimir, reproduz que o culpado é a vítima, e não o seu abusador. A crescente repressão historicamente imposta impede que crianças conheçam seus próprios corpos, direitos e vontades. Como no caso de Safadão, onde a garota do vídeo não fala por si, mas sim seus pais, que de imediato gravam um vídeo em defesa do pastor, como se apenas o frequento diário em sua casa fosse o necessário para pôr em crédito toda sua confiança.
Em dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, estudos apontam que mais de 50% das vítimas de estupro possuem menos de 13 anos, sendo a maioria dos estupradores enquadrados no perfil de ‘uma pessoa muito próxima da vítima, muitas vezes seu familiar’, podendo ser pais, avós, tios, primos, vizinhos ou amigos da família. Para além dos casos registrados, é impossível deixar de lembrar de crianças que sequer tiveram a oportunidade de denunciar o que sofreram durante a infância e crescem fadadas a frustrações e inseguranças na vida pessoal, como é o caso de garotas vítimas dos milionários Klein, donos da Casas Bahia, que mantinham um esquema de pedofilia e prostituição em lojas e imóveis da família, segundo investigações da Agência Pública.
Quando deixamos de lado a palavra de nossas crianças e confiamos em moldes socialmente forjados como ‘perfeitos’, como é o caso do Pastor André Vitor e Samuel Klein, criamos seres humanos inseguros, incapazes de desenvolverem relações sadias com outras pessoas e até consigo mesmo. Sem a denúncia, todos os traumas vividos anteriormente tornam-se incógnitas indecifráveis reprimidas consecutivamente durante a vida. Por isso, diferente do que propaga a direita e seus conservadorismos através de mentiras, é de interesse geral que construamos uma educação sexual que permita que desde a infância possamos estar cientes e livres para falar sobre tudo aquilo que se trate de nossos corpos.