Falta de investimento destrói Museu Nacional

MARTIN CAMACHO

O incêndio que começou na noite desse domingo reduziu a cinzas em poucas horas praticamente todo o acervo e registros do Museu Nacional, sediado na Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão, Zona Norte do Rio de Janeiro. Lugar que também funcionava a universidade Federal de Rio de Janeiro (UFRJ). O fogo destruiu mais de 20 milhões de peças históricas e acervos de valor incalculável – mesmo com a coleção do museu ainda em etapa de avaliação.

Mas a perda não é somente a nível nacional, o museu tinha peças do contexto latino-americano e de outros países, assim essa destruição foi uma grande perda cultural para a humanidade como um todo. Os relatos dos funcionários e pesquisadores são muito parecidos: perda de trabalhos de 20 ou 30 anos, deixando um sabor amargo na boca de grande parte da comunidade científica e da população em geral.

A história se repete, da primeira vez como tragédia e da segunda como farsa (Marx). O descaso do governo Temer com o patrimônio histórico colocou o Brasil nas capas de todos os jornais do mundo. Em plena campanha, muitos candidatos patronais falaram sobre a tragédia, mas sabemos que são só palavras para ganhar votos e responsabilizar o governo de turno, mas são tão responsáveis quanto o atual governo.

O Rio de Janeiro segue sendo noticia triste, infelizmente. Mas essa realidade é responsabilidade do governo nacional e, também, do governo do Estado do Rio de Janeiro. Uma vez, que quando os bombeiros da cidade chegaram para apagar as chamas a falta d’água nos hidrantes da rua – responsabilidade do governo do Estado – fez aumentar o desespero dos que acompanham o socorro ao museu e foi responsável por incêndio durar mais de 5 horas, levando a destruição de um número ainda maior de obras.

Como uma cidade com uma intervenção militar que gasta milhares de reais não tem equipamento necessário para apagar um incêndio? A mesma intervenção que propiciou a morte de Marielle Franco é a que suga os parcos investimentos para educação, cultura e pesquisa. Esse quadro não deixa de ser um processo sigiloso de desapropriação da identidade nacional para poder vender da melhor maneira as políticas neoliberais.

A história de mais de 200 anos foi apagada pela decisão dos governos em diminuir investimentos no setor público. O orçamento para um plano de incêndios esperava verba do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que por “motivos burocráticos” estava parada desde 2015. Valor que se gasta todos os dias em manobras de gabinetes de políticos, juízes a lista poderia ser infinita.

A piorado de maneira dramática de todos os serviços públicos tem como principal responsável os cortes de investimentos provocados pela Emenda Constitucional (EC) 95/2016. Conhecida como EC da Morte, essa emenda congela os gastos públicos primários por 20 anos no país. Ela foi encaminhada por Temer, aprovada pela ampla maioria dos partidos burgueses no Congresso e apoiada pela grande mídia. São esses os responsáveis diretos pela liquidação da memória e história do Brasil.

Os cortes nas universidades feitos nas áreas que não têm ligação direta com o mercado são os mais profundos. A universidade pública está em uma situação calamitosa, produto de políticas privatizadoras que reduzem cada vez mais o papel do estado para beneficiar o capital privado. “Para o país é uma perda imensa. Aqui nós temos a nossa memória. Grande parte do processo de constituição moderna do Brasil passa pelo Museu Nacional. Aqui temos a história do período de colonização portuguesa, temos o ato simbólico da constituição da República, muitos documentos que falam sobre a nossa memória”, disse o reitor da UFRJ, Roberto Leher.

É por isso que temos que lutar pela revogação imediata da EC 95. Uma emenda que levará a uma criminosa restrição orçamentária, ao sucateamento de todos os serviços públicos e ao aumento da pobreza e da miséria de uma parte significativa da população por duas décadas. Essa é a real intenção dos que defendem um Estado mínimo… Hoje, em plena campanha eleitoral, muitos políticos burgueses pregam que é preciso seguir cortando os gastos do Estado para fechar as contas públicas. Por outro lado, vemos aumentar os super salários do judiciário e legislativo.

O governo Temer, os partidos que o apoiam, a imprensa da classe dominante e todos que defendem o congelamento dos gastos são os responsáveis diretos pela devastação da memória nacional. Temos que transformar a indignação popular e de toda a comunidade cientifica em mobilização e exigindo fundos emergenciais e todos os recursos necessários para reconstruir o Museu Nacional, recursos para as Universidades Públicas para cultura, ciência e educação.

Nessas eleições temos que ocupar as ruas para pedir votos e para lutar. Só poderemos ser vitoriosos com a convocação de uma ampla mobilização por todos organizações sindicais e políticas. Dessa forma, o PSOL e suas candidaturas, além das demais organizações ligadas a classe trabalhadora, não podem esperar acabar as eleições. Devem exigir que o PT e a CUT, por seu peso no movimento social, que chamem já a luta pela revogação da EC 95 e de todos os demais ataques à classe trabalhadora.