Por Rosi Santos – Vermelhas
Na América Latina e no Caribe, 25 de julho é um dia de reconhecimento e celebração da luta da mulher negra latino-americana e caribenha e de reconhecimento do feminismo pós-colonial e sem diásporas.
Na atual efervescência do movimento feminista combativo a nível mundial e na América latina, em particular, o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha ganha um peso político ainda maior. Milhares de mulheres, principalmente as negras, têm saído às ruas e encorajado cada vez mais mulheres a entrarem de corpo inteiro contra o apartheid machista racial e institucional. As mulheres e os LGBTQI+ são hoje os setores mais dinâmicos da sociedade na luta por igualdade, justiça, defesa dos direitos democráticos e respeito aos direitos humanos.
O machismo, homofobia, racismo, xenofobia e todas as discriminações conexas de gênero na sociedade latino-americana, todavia, é muito presente. Sendo as mulheres negras, pobres e trabalhadoras as mais oprimidas e sua resposta tem sido o enfrentamento.
Inclusive alguns países africanos ainda sob o jugo colonial, as mulheres vem resistindo ao machismo e a todas as desigualdades, ocupando espaços e abrindo novos caminhos para a luta feminista. Fazem parte de um feminismo que enfrenta as opressões de gênero contra o capitalismo em praticamente todos os lugares onde respiram nesta sociedade.
No Brasil a luta das mulheres negras, também é complexa, uma vez que se o machismo é estrutural, o machismo racista é duplamente estrutural. Sendo um país de maioria negra que sofre com as questões raciais e de gênero.
Hermanas e feministas
Em 1992, um pequeno grande grupo de mulheres negras saíram de países da América Latina e se reuniram em Santo Domingo, na República Dominicana, lá realizaram o Primeiro Encontro de Mulheres Negras Latinas e Caribenhas. Assim, como na atualidade, discutiam problemas que afetam todas as mulheres, como a violência machista, educação, vida profissional e maternidade e como o machismo afeta a todas as mulheres, particularmente as negras, latinas e caribenhas.
Essa foi a primeira experiência a nível regional com o objetivo de tratar dos problemas específicos relacionados ao racismo sobre mulheres afrodescendentes, sua condição de sujeitos políticos e sociais e sua auto-organização. Além disso, levantou-se a importante discussão sobre a reprodução de práticas racistas no interior do movimento feminista, composto majoritariamente por mulheres brancas.
A Luta das mulheres negras passa pela reafirmação de sua diversidade cultural e religiosa, bem como da reparação histórica – criação de políticas públicas específicas e afirmativas, no intuito de construir canais de igualdade social e de bem-estar-, eliminando todas as diásporas impostas pelo sistema capitalista racista e patriarcal.
No caso particular do Brasil, que aboliu a escravidão mais tardiamente em relação a outros países e onde parte importante da classe trabalhadora feminina é negra, o país ainda tem uma dívida gigantesca com as mulheres negras e indígenas.
Nesse mês de julho, mês de luta da mulher negra, também queremos reafirmar a memória de Marielle Franco, companheira negra, bisexual e lutadora feminista que sofreu uma execução política em março de 2018 em um Estado sob intervenção militar. Os autores materiais e intelectuais da covarde execução de Marielle, têm em comum a participação no velado pacto racista, genocida e misógino imposto pela classe dominante e pelo Estado que divide a sociedade brasileira entre homens e mulheres e entre seus tons de pele.
Por isso, o exemplo de luta de Marielle, e de tantas outras companheiras negras tombadas e vivas, devem ser fonte de orgulho e inspiração, transformando assim a bronca universal das mulheres ao machismo em luta organizada e coletiva em toda região. Esse é o único caminho para impedir que, não somente em nosso país, os corpos das mulheres não sejam diariamente barbarizados pela violência machista, policial e institucional, e nem sejam jogados ao trabalho precário ou análogo à escravidão.
No Brasil e na Argentina a maré feminista possui, notadamente, um caráter de raça e classe. As feministas argentinas que lutaram no último período pela legalização do aborto, foram as mesmas que lutaram junto aos trabalhadores, pela saúde e educação pública atacadas pelo governo de Maurício Macri, superando a política imposta pela burocracia que majoritariamente dirige o movimento feminista.
O feminismo no Brasil, também demonstrou sua força através do movimento #EleNão – que teve uma expressão racial importante em seu interior -, e que mesmo em uma conjuntura muito desfavorável para esquerda, garantiu a não eleição no primeiro turno do execrável reacionário Jair Bolsonaro.
O movimento feminista brasileiro organizado pode ser um verdadeiro gigante político capaz de impedir que trabalhadoras e trabalhadores fique sem direitos, que os mais necessitados e periféricos não fiquem sem saúde e educação pública de qualidade, para que a vida das mulheres e LGBTQI+ não sejam um debate na boca dos reacionários e, muito menos dos fanáticos religiosos.
Por fim, nessa data queremos reafirmar a importância do compromisso do feminismo socialista com a luta antirracista que se coloca diretamente contra a violência policial, contra o machismo e o racismo institucional, contra o fundamentalismo religioso e pela livre expressão da cultura, história e religiões de matrizes africana. Viva a luta das mulheres negras, indígenas, latinas e caribenhas!
Por um feminismo socialista, interseccional e combativo!
Não à violência estrutural contra as mulheres e meninas!
Chega de ataques à comunidade LGBTQI+ ! Não à violência homoblesbobitransfobia!
Politicas públicas e afirmativas para mulheres e LGBTI vítimas da violência machista!
Educação sexual laica, científica e feminista já!
Basta de assédio sexual!
Pelo direito de decidir! Aborto legal seguro e gratuito!
Igreja e estado assuntos separados! Estado laico já!
Basta de prostituição como saída para a sobrevivência das mais pobres, responsabilização do estado capitalista e patriarcal!
Abaixo a Reforma da Previdência!
[…] vimos denunciando em outras matérias a dupla violência que as mulheres trabalhadoras em sua maioria negra e periférica quando são negligenciadas pelo Estado. O estado burguês, machista e patriarcal por meio de sua […]
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[…] Nos momentos de crise como os que estamos enfrentando é quando mais se evidencia a frágil condição das mulheres. Por isso, diversas companheiras vêm se organizando e denunciando o machismo estrutural do nosso país, a misoginia e o abandono institucional do Governo, que vem colocando cada vez mais dificuldades a toda classe trabalhadora e particularmente às mulheres que são duplamente exploradas, entre elas as mulheres negras que são as mais precarizadas. […]