Vizcarra se fortalece e a grande maioria dos peruanos apoia o decreto que fechou o Congresso. É preciso construir uma alternativa verdadeiramente democrática dos explorados e oprimidos
Gabriel Mendes
A crise política profunda que perpassa a América Latina adquiriu grandes proporções nessa semana com a eclosão de eventos de grande magnitude e movimentos de massas em países como Peru e Equador.
Em Lima, o pano de fundo que levou ao fechamento do Congresso peruano por decreto do presidente Martin Vizcarra foi uma disputa entre setores classe dominante próximos entre si pelo controle do Tribunal Constitucional, instância judicial máxima do país.
O fechamento do Congresso se deu após a renovação das cadeiras do tribunal, que está sob domínio do fujimorismo e de sua absoluta maioria parlamentar, que possui relação profunda com escândalos de corrupção que envolvem, inclusive, empresas transnacionais, como a Oderbrecht, com envolvimento direto com ex-presidentes, como Keiko Fujimori e Alan Garcia (que se suicidou enquanto a polícia chegava à sua residência para prendê-lo).
Na sequência, seguiu um impasse entre o decreto presidencial apoiado pelo Exército e o Congresso, que por sua vez não reconheceu a decisão de Vizcarra e nomeou a vice-presidente, Mercedez Aráoz, como Presidente interina do Peru, pouco depois, a vice renuncia ao cargo e pede pela realização de novas eleições.
Diante disso tudo, o povo oprimido e explorado não se lamenta pelo fechamento de uma instituição apodrecida e dominada por máfias corruptas, pelo contrário, milhares tomaram as ruas manifestando-se a favor da dissolução do Congresso. Na Praça San Martin, em Lima, várias organizações, jovens, ativistas e militantes de partidos políticos ocuparam a rua com bandeiras e cartazes contra os setores reacionários que rechaçam o fechamento do Congresso.
Junto com o apoio declarado dos militares e de alguns governadores, as manifestações demonstraram que a medida de Vizcarra tem força e deve predominar.
Setores da esquerda peruana identificam a situação como uma vitória, o partido Nuevo Peru destaca em suas redes a frase “Que se vayan todos!”, além de fazer exigências por novas eleições e nova Constituição. Nesse sentido vislumbram uma linha política de exigências ao governo Vizcarra.
É preciso dizer que ambos setores em conflito estão implicados e que esta crise não é resultado apenas do fujiaprismo (combinação entre partidos da ordem como Força Popular, do ex-presidente Alberto Fujimori, e APRA, partido do ex-presidente Alan Garcia), mas também dos demais setores que se organizam em torno de Vizcarra.
Ambos estão diretamente ligados aos interesses da classe dominante e, consequentemente, à defesa do regime de exploração que se sustenta com o funcionamento das instituições da “democracia” da classe dominante.
Por isso, junto com o Fora Todos e Eleições Democráticas sob bases verdadeiramente democráticas, não se pode dar nenhum apoio político a nenhum governo burguês, como o de Vizcarra. É preciso, além do mais, levantar a exigência de que se construa uma Constituinte Democrática e Soberana imposta pela mobilização desde baixo dos trabalhadores, da juventude e do conjunto do movimento social que refunde politicamente o país sob bases socialistas.