Por Martin Camacho
“Vocês têm roubado meus sonhos e minha infância com suas palavras vazias. E, mesmo assim, estou entre os afortunados. Há pessoas que estão sofrendo. Há pessoas estão morrendo. Ecossistemas inteiros estão entrando em colapso. Estamos no início de uma extinção em massa. E a única coisa sobre a qual sabem falar é sobre dinheiro e contos de fadas de eterno crescimento econômico. Como ousam? “, Greta Thunberg, uma adolescente que ousou enfrentar os poderosos da ONU.
A Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) está acontecendo em um contexto marcado pelo ressurgimento das lutas políticas por parte da juventude, das mulheres e dos povos originários.
Milhares de jovens saíram às ruas com cartazes na última sexta-feira (20), assinalando o dia de mobilização mundial pelo clima e questionando as autoridades políticas. Em Nova York, as exigências das mobilizações se refletem na Assembleia Geral da ONU. A temática do meio ambiente está sendo discutida com uma “mirada” dos diplomáticos, tendo como referência dois blocos opositores: uns que são negacionistas das mudanças climáticas, como Donald Trump e Jair Bolsonaro. E, no outro campo demagógico, está o tal do capitalismo verde da União Europeia como Emmanuel Macron ou Angela Merkel.
A discussão está nos parâmetros do Acordos de Paris, que terá outro encontro no final do ano para seguir discutindo as metas que não serão atingidas. Fazemos um pouco de futurismo porque já sabemos que as resoluções tomadas pelos “representantes” serão fantasiosas e não vão mudar muita coisa. Sem medidas anticapitalistas levadas pelos trabalhadores não tem como reverter a destruição do planeta.
Queremos tratar nesse momento sobre dois discursos que foram exibidos e difundidos no mundo inteiro. O primeiro é do presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, que na sua estreia na Assembleia da ONU representa o lado mais obscuro da política internacional. O segundo é de uma garota de 16 anos, Greta Thunberg, que representa a força da juventude que luta por um mundo sem barbárie ecológica. Os dois discursos foram destaque: um pela covardia e o outro pela valentia.
A Assembleia Geral é o principal órgão deliberativo da ONU. Os Estados Membros se reúnem para discutir assuntos que afetam a vida de todas as pessoas do mundo. Era esperado um discurso conciliador do capitão reformado frente aos problemas ambientais que o país está atravessando, mas o pronunciamento inicial do Bolsonaro se deu em um tom bonapartista, fazendo referências religiosas e disparando diversas teorias de conspiração socialista. Além disso, teve a coragem de falar mentiras sobre a Amazônia e atacar os povos indígenas. As declarações do capitão representam uma postura de enfrentamento direto aos povos da floresta.
Umas das frases mais problemáticas de Bolsonaro foi: “Meu país esteve muito próximo do socialismo, o que nos colocou numa situação de corrupção generalizada, grave recessão econômica, altas taxas de criminalidade e de ataques ininterruptos aos valores familiares e religiosos que formam nossas tradições”. Qualquer estudante de ensino médio poderia responder que socialismo nunca passou perto do Brasil, mas o presidente está procurando um inimigo para receber as culpas de sua ineficiência para dirigir o país – o presidente está em busca de um bode expiatório!
Sobre a questão econômica, o governo atual não fez nem uma medida para reverter a situação, segue fazendo um discurso mentiroso e nada conciliador com a comunidade internacional. Vários países já advertirem que não pretendem realizar mais comércio com o Brasil por causa da sua política ambiental, que aprova as queimadas, o garimpo, os grileiros e os agrotóxicos. Isso pode provocar mais uma crise econômica no país tropical.
Amazônia fica, Bolsonaro sai!
Podemos seguir refutando todo o discurso dele, mas trataremos aqui dos aspectos mais importantes. Bolsonaro falou publicamente que a Amazônia não é patrimônio da humanidade, desconsiderando que a floresta tropical é considerada a região de maior biodiversidade do planeta. O território abriga ainda animais de diversas espécies e possuí uma quantidade imensurável de povos originários que lutam constantemente para preservar suas culturas e costumes.
O capital reformado atacou o cacique Raoni Metuktire, indicado ao prêmio Nobel da Paz e um dos líderes indígenas mais importantes do país, com o intuito de criar desconfiança entre os povos e para facilitar a exploração das riquezas das terras amazônicas. Em resumo, todo o discurso circulou em como tirar usufruto de uma zona que ainda está medianamente “preservada”. As invasões nas terras indígenas provocam mortes todos os anos. Esses territórios estão sendo cercados por fazendeiros e causam pressões constantes nos povos que tentam preservar a natureza.
Esse pronunciamento influência a política selvagem de genocídio dos povos originários. Segundo o relatório do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), divulgado nesta terça-feira (24 de setembro), de janeiro a setembro deste ano houve 160 invasões em 153 terras indígenas. Durante nove meses de desgoverno do Bolsonaro, as usurpações de locais pertencentes as aldeias aumentaram.
Outro problema que podemos destacar é a mineração. Muitas reservas minerais estão em terras indígenas e o seguidor de Olavo de Carvalho quer conquistar os corações dos povos para que esses territórios sejam alugados ou vendidos para as grandes corporações. Bolsonaro chamou Raoni de “massa de manobra” e disse que o cacique “não fala nossa língua”. A estratégia do capitão foi levar a indígena Ysani Kalapalo na Assembleia das Nações Unidas para apoiar o governo, sublinhando que as queimadas são produtos dos próprios povos indígenas e não dos grileiros. Uma estratégia que poucos acreditaram, mas que apresenta os seus adeptos as mentiras.
“Bolsonaro disse que eu não era um líder, mas é ele que não é líder e tem que sair”, disse Raoni, de 89 anos, na entrevista coletiva. Mesmo com a tentativa de desqualificar a importância do cacique, a voz do líder indígena continua repercutindo e prova mais uma vez que mentira tem “perna curta”. O discurso do presidente não passou em branco e as críticas já se fazem sentir em todos os estamentos da sociedade, incluindo nos extremos do país. O representante das terras yanomami, localizada na fronteira com Venezuela, também discursou contra Bolsonaro e apresentou ao mundo a verdadeira versão da história:
“O governo de Bolsonaro quer explorar e colonizar a terra yanomami, ele quer permitir mineração na terra yanomami e na raposa do sol. A mineração não trará nada de bom para o povo yanomami”, falou o líder indígena Davi Kopenawa, após ser comunicado sobre a premiação do “Nobel alternativo” que acaba de receber nesta quarta-feira (25).
“O mundo está acordando. E a mudança está chegando, gostem ou não.” Essas foram as últimas palavras de Greta Thunberg na ONU. Um chamado à revolta da população mundial pelo meio ambiente. Particularmente, é um convite aos jovens de todos os países que querem um mundo sem exploração do ser humano e das riquezas naturais. O caminho deve ser marcado pelas mobilizações da juventude nas ruas, ocupando a política e as estruturas de poder. Só assim vamos conseguir frear a barbárie ecológica que o capitalismo quer levar a humanidade.