“Não se tem uma revolução quando se ama o inimigo; não se tem uma revolução quando se está implorando ao sistema de exploração para que ele te integre. Revoluções derrubam sistemas, revoluções destroem sistemas.” (Malcolm X)

Severino Félix

Malcolm Little, mais conhecido internacionalmente como Malcolm X, nasceu em 19 de maio de 1925 no Nebraska, Estados Unido e como toda criança negra, conviveu desde cedo com a violência da segregação racial, violência policial. Antes de chegar à adolescência perdeu a presença de seu pai assassinado por “Membros da Ku Klux Klan”, organização histórica racista e criminosa formada pela supremacia branca.

As consequências para a sua família foram dramáticas. Sua mãe desestruturada, como toda mãe de família negra a “espera” do estado que só aparece a partir da política genocida, infelizmente perdeu a guarda dos seus filhos e sofreu com transtornos mentais por não suportar a pressão de conviver em um ambiente extremamente hostil e adverso para superação das condições sócios econômicos.

Essa é uma realidade global vivenciada por milhões de jovens negras/os, seja nos Estados Unidos, Brasil ou países Africanos, em que para boa parte dessa juventude se é negado o direito à vida pela necropolítica da sociedade capitalista representada pelos estados racistas, que constroem dois caminhos – o do assassinato por parte da polícia ou do encarceramento em massa.

Malcolm Little foi mais uma vítima deste sistema, entrou para o mundo das drogas do crime, reproduzindo o meio social em que estava, ou seja, sem perspectivas de acesso a direitos e a uma vida digna, esta reprodução social se fez presente e o influenciou por um importante período de sua vida. E assim como milhares de jovens negros/as americanos virou mais um número do sistema prisional que apresenta a maior população carcerária do mundo.

Durante seu encarceramento Malcolm dedicou-se aos estudos e ensinamentos do movimento muçulmano, organização religiosa negra que se contrapunha ao cristianismo – religião de batismo da população negra escravizada em vários países durante o período escravocrata. O movimento muçulmano negro norte-americano era até então representado por Elijah Muhammed, líder da Nação do Islã com quem Malcolm foi construindo uma relação através de correspondências. Nesse processo de profundo estudo filosófico e religioso, iniciou-se uma agitação intelectual para compreender a existência do mundo e sua reprodução de desigualdades sociais.

Como forma de afirmar sua nova existência enquanto ser, trocou seu sobrenome de origem residual escravocrata “Little” por “X”. Para Malcolm a substituição pelo  “X” significava uma repulsa e uma não identificação ao nome de escravo – uma maneira simbólica de libertação histórica – por outro lado a inexistência de um nome de origem africano para ocupar o seu lugar.

Criatura superando o criador

Toda liderança almeja e apresenta ter orgulho à construção de um discípulo para sucedê-lo e continuar seus ensinamentos políticos e teóricos. Fazendo multiplicar o número de adeptos a sua concepção de matriz religiosa, essa deveria ser a máxima de Elijah Muhammed.

Porém, Malcolm começou a desenvolver sua própria concepção religiosa avançando para uma concepção mais classista da realidade, ganhando enorme notoriedade entre a população afro-americana e divergindo radicalmente da política pacifista de outro grande líder negro que era Martín Luther King Jr, um pastor evangélico.

Malcolm X então começou a percorrer o país para apresentar estes novos ideais para a população negra americana, como a separação de raças entre negros e brancos, e a formulação de uma independência econômica negra com a eventual possibilidade da criação de um estado autônomo para os negros.

Contraditoriamente ainda falava em nome da Nação do Islã, onde construiu vários adeptos e inimigos fervorosos na proteção do legado de Elijah Muhammed, e como dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço, a separação tornava-se inevitável

Durante um período de isolamento dentro da Nação do Islã, Malcolm X, iniciou uma nova reformulação de suas concepções tanto religiosa quanto classista, onde não pregava mais uma separação entre negros e brancos. Afirmava agora então, que para superar a opressão do estado capitalista era necessária uma unidade de classe, que as desigualdades sociais e o racismo eram sustentados pela reprodução política e econômica capitalista.

Malcolm X torna-se uma política proeminente do cenário norte-americano, agitando o mundo das ideias e tornando-se uma pedra no sapato tanto de seus antigos aliados religiosos a Nação do Islã, quanto do governo dos Estados Unidos, por sua proximidade com movimentos pelos direitos humanos e grandes líderes mundiais opositores ao governo norte americano.

O legado de Malcolm X não será esquecido

O movimento da população negra pelos direitos civis se intensificava a cada dia nos Estados Unidos, porém havia importantes cisões entre as estratégias defendidas por Malcolm X e Martin Luther King, e essa divisão era capitaneada pelo governo racista dos estados unidos. Com a lógica de dividir para controlar, o governo construía e apoiava essa divisão no movimento com as claras intenções de destruir o movimento mais radical liderado por Malcolm.

A falta de unidade de qualquer movimento anticapitalista sob a nossa luta de emancipação do povo negro se materializa como abortiva, e desta forma a unidade de ação se prova historicamente necessária para enfrentar um inimigo comum. As organizações de esquerda e os movimentos identitários precisam caminhar juntos carregando a bandeira por uma sociedade sem racismo, que só pode ser superada pela luta anticapitalista.

A batalha em defesa da população negra defendida por Malcolm X não se restringia apenas a população afro-americana, apresentava seu caráter global e totalizadora de uma luta pela e para a população negra a nível internacional e assim o fim da opressão do homem sobre o homem.

Infelizmente essa grande e histórica liderança negra que foi Malcolm X teve sua vida ceifada de maneira precoce, assassinado aos 39 anos de idade no dia 21 de fevereiro de 1965. Criminosa e covardemente teve seu protagonismo interrompido e assim tampouco pôde presenciar e contribuir com a árdua construção de seus discípulos na luta pelos direitos civis norte americanos e em outros países, principalmente no continente africano.

Vale ressaltar que as suas ideias e interpretações da sociedade racista capitalista, por aquilo que entregou a vida, tiveram sua extrema importância na luta pelo fim do apartheid na África do Sul e na construção do movimento negro em distintas regiões globais, sendo um marco histórico que nos deixa fundamentais contribuições e ensinamentos revolucionários para seguirmos a sua e nossa luta contra o racismo e os racistas.

Malcolm X vive!

Fim do genocídio da população negra, principalmente da juventude!

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