Publicamos abaixo o Manifesto Unidade NA Esquerda, escrito pelo Deputado Federal Glauber Braga (PSOL). No texto, Braga apresenta uma estratégia correta para enfrentar os desafios políticos doravante. Diante de uma conjuntura política que requer a unidade na luta para derrotar Bolsonaro, o deputado federal defende que o PSOL apresente uma pré-candidatura à Presidente que tenha dois papeis fundamentais: seja 1) ponto de apoio à luta imediata contra Bolsonaro, Guedes e todos os ataques da classe dominante, mas que também 2) sirva como referência para a construção da “Unidade NA Esquerda” sem patrões e base a um programa anticapitalista para resolver os problemas mais sentidos e que seja compreensível para amplos setores das massas.
Parte da direção e figuras públicas do PSOL, ao ensaiar a participação em uma frente ampla (com patrões e pelegos) capitaneada por Lula, sem sequer fazer a discussão tática e estratégica com a base do partido, rompem totalmente com a independência de classes, com a democracia interna e com a possibilidade do PSOL superar o PT pela esquerda. No PSOL, a título da “luta contra Bolsonaro”, confunde-se sistematicamente unidade de ação, que se faz com todos os setores que queiram lutar contra Bolsonaro, com frente de luta, que se organiza entre organizações de massas para efetivar de forma longa essa a luta ofensiva/defensiva, e frente política-eleitoral, que se organiza entre setores que têm o mesmo projeto de poder, nunca com a classe dominante como faz o PT.
Essas são três táticas políticas que se relacionam, mas são elas totalmente distintas. Ao serem confundidas por parte da direção do PSOL, acabam se desviando dos nossos objetivos estratégicos, que são a mobilização e a organização autônoma das massas e o fortalecimento do nosso partido. Trocando em miúdos, lutar em unidade e de forma independente para derrotar o fascista Bolsonaro, que só pode ser derrotado hoje com a mobilização direta nas ruas, não tem nada a ver com fazer parte de uma aliança com partidos da ordem parar formar uma frente e/ou governo de conciliação de classes, ou seja, a mesma política levada pelo lulismo que foi responsável em grande parte por termos chegado a essa situação.
O Manifesto de Braga, ao defender que o PSOL tenha uma pré-candidatura a Presidente, colocar seu nome à disposição de tal e exigir que qualquer aliança NA esquerda necessite de acordo em torno a um programa anticapitalista e que não tenha representantes dos partidos patronais, é um importante instrumento de luta em defesa da independência politica de classes, que está sendo seriamente ameaçada e será tema central do Congresso partidário. Apesar de que, obviamente, não será aceita por Lula e pela direção do PT- incorrigíveis conciliadores com a patronal – essa linha tática abre diálogo com a base da esquerda partidária dentro e fora do PSOL sem perder as estratégias centrais. Por essa razão, Socialismo ou Barbárie – tendência do PSOL, soma-se a outras organizações, figuras públicas e militantes na defesa da pré-candidatura do companheiro Glauber Braga.
Antonio Soler
Unidade NA Esquerda
Glauber Braga
As discussões sobre candidaturas e formação de alianças para 2022 se intensificaram a partir do início desse ano. É verdade que o tema aparece de maneira mais frequente entre aqueles que já tem alguma relação ou simpatia declarada por campos ou organizações políticas; o que, no cotidiano dos já experimentados na militância de esquerda, sem querer entrar na polêmica da conceituação mais rigorosa, costuma-se chamar de vanguarda ampliada. Nesse cenário, algumas perguntas se impõem ao PSOL, suas instâncias, sua militância… São elas: já chegou a hora de tratarmos desse assunto? Qual o nosso papel nessa história? Ou, para ser mais específico: o que fazer?
Prefiro responder à primeira indagação com a palavra mágica que aprendi com uma antiga professora. Ela sugeria a reflexão quando as certezas antecipadas se impunham. Sempre dizia: depende. E depende de que, neste caso? Do objetivo da antecipação. Se a discussão antecipada for para diminuir a capacidade de aglutinar forças de resistência, terceirizar todas as nossas energias para a via institucional e desarmar os descontentes com a política de desmonte, a resposta obviamente deve ser NÃO. Se a discussão antecipada for sinônimo de pouca ou nenhuma sensibilidade com as milhões de pessoas que estão vivendo dificuldades extremas, na morte por fome ou Covid-19, que não podemos naturalizar, a resposta será, mais uma vez, obviamente, não.
Por outro lado, e se uma pré-candidatura for mais um instrumento de mobilização das lutas atuais (pela vacina, pelo fortalecimento do SUS, pela alimentação, pelo auxílio emergencial, pelo emprego, pela vida, pelo interesse público, pelo Fora Bolsonaro) e de aglutinação de forças para um programa de esquerda, popular, radical, não-sectário? Nesse caso, é aconselhável o nosso partido já lançar pré-candidatura, com esse grau de antecedência? Considero que sim! Por dois motivos: 1. quem parte em desvantagem instrumental (dinheiro, armas, veículos de comunicação, a chamada “estrutura”) precisa, por necessidade, priorizar o campo de disputa como maratona. Corrida de 100 metros traz vantagens inegáveis para quem já está no poder. 2. Os campos políticos já estão representados nessa disputa pelos seus prováveis candidatos defendendo os seus respectivos programas, ou a falta deles. Se não o fizermos, perderemos ainda mais espaço na defesa de nossa linha política.
Passo ao próximo ponto. Defendo que o PSOL apresente a sua pré-candidatura. Que ela siga com o compromisso das lutas que a militância nunca deixou de tocar, mas que assuma outras duas tarefas que igualmente não podem ser menosprezadas: coordenar a organização junto com os movimentos sociais da plataforma que defenderemos nas eleições de 2022 e ser agente de articulação com as outras forças partidárias de esquerda que já estão posicionadas no cenário. Indo direto ao ponto. A candidatura que resumir a sua ação à articulação institucional entre cúpulas estará nos levando ao abismo. Por outro lado, aquele que se nega a dialogar com outras forças de oposição tapa os ouvidos para um apelo legítimo de tantas pessoas que estão clamando pela unidade da esquerda.
Nesse ponto, me atrevo a trocar uma letrinha na locução, mas, que acredito, pode fazer toda diferença. Prefiro falar em aliança NA esquerda. A troca tem motivação objetiva e busca uma linha de corte. A definição de esquerda tem que se estabelecer por compromissos políticos que possam ir para além dos nomes que se apresentam na disputa. Quem na oposição se compromete com um nítido programa que enfrente de fato a aliança entre extrema-direita e liberais na aplicação da agenda submissa de Guedes, Bolsonaro e cia? Objetivamente: a nossa pré-candidatura deve dialogar com outras já cogitadas na oposição? Sim. Mas que essa conversa venha acompanhada de uma condição. Condição essa que está limitada por nossa prioridade. Querem dialogar sobre a formação de uma plataforma comum na esquerda? Também queremos. Mas no nosso barco não cabem as privatizações de Huck, Maia, Doria, Paes, Lemman e cia. Vamos nessa? Com um diálogo público e sem subterfúgios, saberemos os limites e quem os impõe. Saramago disse em uma de suas obras que “pra conhecer algo é preciso dar a volta completa.” Nós, do PSOL, não nos apresentaremos pela metade e a militância, tenho certeza, cobrará que todos coloquem as cartas na mesa.
E como seria definida a futura candidatura entre aquelas que se apresentam agora para esse diálogo? Esse é um outro capítulo que teria que passar por debate posterior, se houver entendimento em relação ao principal: O PROGRAMA.
No entanto, para que essa plataforma não descambe para a moderação desmobilizadora, que não tem força para enfrentar o fascismo, é fundamental que o PSOL se apresente como ferramenta da esquerda radical. O simples papel de articulação não nos dará a força necessária pra dar o peso de que precisamos na apresentação dos objetivos que defendemos. Nos apresentamos para a luta real, com as suas circunstâncias reais, mas não podemos perder, jamais, o horizonte que trará alterações estruturais e consistentes pra vida do povo. Somos o partido Socialismo e Liberdade.
Resuma da ópera: pré-candidatura mobilizadora das lutas atuais, que não terceiriza todas as expectativas para 2022, construtora da formação da nossa plataforma com os movimentos sociais, que dialogue com os demais partidos de esquerda, estabelecendo como linha de corte para essa articulação o enfrentamento à agenda ultraliberal. Agenda essa que é colocada em prática pelo fascista Bolsonaro junto com a direita liberal que se fantasia de centro. A nossa busca: a construção de uma candidatura popular, de esquerda, radical e não-sectária. Conseguiremos? O tempo e a nossa capacidade de mobilização dirão.