Entre terça-feira e quinta-feira da semana passada (6 a 8 de novembro), nós estudantes da Universidade de São Paulo passamos pelo processo eleitoral, como acontece todos os anos, para eleger uma das quatro chapas inscritas para a disputa do Diretório Central dos Estudantes.
Foram três longos dias de votação, com mais de cinquenta urnas em todos os campi da universidade, onde na sexta-feira tivemos a apuração e manutenção da chapa que estava a frente da entidade no ano passado, Nossa Voz (ligada ao lulismo e petismo) com 4811 votos, seguida pela chapa Transformar o Medo em Luta (tendências do PSOL, UJC e PPL) com 2627.
Assim como em escala nacional, a política do petismo frente ao DCE da USP (2018) pouco se colocou a disposição de uma mobilização pela base. Tivemos uma greve dos três setores no primeiro semestre com fraco desempenho pelo setor estudantil, tendo sido realizada a primeira assembleia do ano apenas no mês de maio. A gestão também esteve em reuniões particulares com a pró reitoria sem ter sido realizada nenhuma discussão pela base e sem passar por nenhuma estrutura de deliberação. Um reflexo tremendo da política nacional do lulismo.
No dia 28 de outubro deste ano, assistimos Jair Bolsonaro (PSL) ser eleito presidente do Brasil com cerca de 56% dos votos e Fernando Haddad ficar em segundo lugar com 44%. Diante dessa vitória eleitoral de uma candidatura abertamente neofascista que terá consequências políticas significativas para o Brasil, para a América Latina e consequentemente para as universidades públicas que sempre, principalmente na época da ditatura, foram polos de ampla resistência na luta por uma educação pública de qualidade, por espaços livres do debate crítico e por inúmeras pautas das mulheres, negros, juventude e da classe trabalhadora, queremos aqui ressaltar a grande importância/responsabilidade que o movimento estudantil terá no próximo período.
Entretanto é preciso apontar que o PT teve responsabilidade central nesse processo. Quando esteve no governo federal frustrou as expectativas dos trabalhadores, deixando de aprovar qualquer reforma estrutural democrática, se envolveu até o pescoço nos esquemas de corrupção, impôs medidas neoliberais, não mobilizou contra o impeachment, traiu a luta contra Temer e a segunda greve geral, não lutou contra a prisão de Lula, demorou para atacar Bolsonaro na campanha eleitoral e reprimiu brutalmente os atos de 2013 contra o aumento da tarifa do transporte público e 2014 contra a copa.
Tais críticas à direção burocrática do petismo, que institucionalizou a política – retirando-a das bases- tem como um de seus principais eixos o seu alerta e tentativa de convencimento de que a luta pelos nossos direitos e contra os ataques da extrema direita conservadora, que irão se intensificar no próximo ano, devem ser travados na mais dura resistência organizada, também pelo movimento estudantil. Isso significa, deixar de lado a velha política da contenção das massas, e incorporar metodologicamente espaços de organização política altamente combativos e radicalizados pela base.
Apesar, da vitória do Petismo no quadro geral, nós da chapa Transformar o Medo em Luta tivemos uma importante vitória na Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas, saldo que que aproxima os estudantes desta histórica faculdade de luta ao campo da alternativa socialista e independente do petismo. E isso nos mostra que mesmo com essa onda reacionária que se saiu vitoriosa institucionalmente, nós não perdemos a capacidade de nos mobilizar e existem amplas reservas independentes do petismo de muita luta. Sendo assim a esquerda deve-se utilizar de fóruns, como a USP Sem Medo PSOL núcleo USP e aproximar-se de todos os setores para combater Bolsonaro e Doria numa ampla unidade de ação, mas sempre com a estratégia política da superação do lulismo. Para isso, acreditamos que a campanha permanente de diferenciação com uma combinação de exigências ao setor da burocracia, denuncias e iniciativas são indispensáveis nessa luta.
Neste sentido, o DCE da USP (Nossa voz), terá como obrigação uma aproximação tática e estratégica com o sindicato dos trabalhadores (SINTUSP) com o dos docentes (ADUSP) e com cursos historicamente menos mobilizados, para estruturar uma frente ampla de luta contra os ataques a nossa universidade e manutenção da autonomia de nossos espaços assim como contra pautas gerais da classe trabalhadora, colocando o movimento estudantil numa incansável luta dentro e fora da universidade.