Desde meados da década de 20 do século passado, vários militantes revolucionários produziram artigos e obras contra a burocratização da URSS, mais exatamente, contra o processo contrarrevolucionário ali aplicado pelo stalinismo. Houve nesse período até o final dos anos trinta não só a difamação de vários bolcheviques que se aproximaram das teses da Oposição de Esquerda, como também o seu degredo e assassinatos.

Terminada a segunda grande guerra, houve uma nova investida de militantes e acadêmicos, principalmente após o “discurso secreto” de Kruschev no XX Congresso do PCUS e as revoltas antistalinistas iniciadas antes na RDA em 1953.

Nesse espectro, um nome que deixou um legado importante para o socialismo revolucionário (apesar de durante os anos 80 defender teses antimaterialistas) é o do historiador inglês Edward Palmer Thompson, que lecionou na Universidade de Cambridge, um curso extracurricular, para trabalhadores ingleses.

Entrou no PCBG (dissolvido em 1991) no início da segunda grande guerra pelas mãos de seu irmão Frank (que já tinha discordâncias com a orientação da direção partidária e morreu em 1944 na Bélgica), com quem rompeu em 1956. Sobre essa época, escreveu “Os povos polonês e húngaro escreveram suas críticas ao stalinismo em suas ruas e praças. Ao fazê-lo, eles restauraram a honra ao movimento comunista internacional” em uma revista criada por ele que depois fundiu-se com a New Left Review, contra cujos diretores Perry Anderson e Tom Naim produziu os seus primeiros embates. Depois, dirigiu suas armas contra o estruturalismo de Althusser e seus seguidores, contra quem assestou corretamente afirmando que “Podemos observar o surgimento do althusserianismo como uma manifestação de ação política dentro da ideologia, como a tentativa de reconstruir o stalinismo ao nível da teoria”.

Então, apresentamos abaixo o artigo de David McNally, publicado originariamente no International Socialism n° 61. Esse texto é uma defesa e, também, crítica das contribuições de Thompson, mas, no geral, uma homenagem ao grande historiador, o que é sintetizado com a reprodução por McNally de uma frase escrita em Miséria da Teoria: “O que podemos esperar é que os homens e mulheres do futuro nos acolherão, afirmarão e renovarão nossa vontade”.

Equipe de Redação

E.P. Thompson: luta de classes e materialismo histórico 

David McNally 

Edward Palmer Thompson, o maior historiador de língua inglesa, morreu em agosto de 1993. Mais conhecido por sua obra-prima A Formação da Classe Operária na Inglaterra, Thompson iniciou uma corrente na história marxista que restaurou os explorados e oprimidos ao seu devido lugar, como criadores da história. A ênfase na autoatividade da classe operária não era apenas um projeto acadêmico, surgiu como parte do compromisso político de Thompson de libertar o marxismo da terrível distorção do stalinismo, um compromisso que foi travado na batalha de 1956 dentro do movimento comunista oficial. 

Através da fumaça de Budapeste: 1956, a batalha contra o stalinismo 

“Os povos polonês e húngaro escreveram suas críticas ao stalinismo em suas ruas e praças. Ao fazê-lo, restauraram a honra do movimento comunista internacional”.1

Assim Thompson escreveu em The Reasoner, uma revista dissidente que ele e John Saville publicaram para confrontar a direção do Partido Comunista Britânico (PCGB). Para Thompson, quanto para muitos outros comunistas, os levantes na Polônia e na Hungria em 1956 contra o stalinismo colocaram um dilema moral e político: apoiar sua direção que defendeu a repressão sangrenta levada a cabo pelas tropas russas ou alinhar-se aos trabalhadores poloneses e húngaros que se levantaram. Para o seu bem duradouro, Thompson escolheu o último caminho e iniciou um debate no PC em um esforço para confrontar o legado stalinista do partido. “É hora de que atiremos isso fora”, escreveu ele. “Do início ao fim, nossa direção se alinhou (talvez evasivamente, às vezes) com o stalinismo”. Em contraste com os crimes de Stalin, Thompson defendia um “socialismo de pessoas livres e não de linguagem secreta e polícia”.2

A experiência de 1956 deixou uma marca indelével em sua maneira de ver a política, o que foi extremamente bom. Contra um sistema abstrato e mecânico de pensamento e uma política que se gabava marxista, Thompson procurou restaurar o marxismo em seu compromisso com a luta concreta de homens e mulheres reais. Os trabalhadores de carne e sangue, sua autoatividade, sua resistência à opressão, suas vitórias e derrotas – tudo isso foi restabelecido como o coração e a alma da teoria e da política socialistas. Foi precisamente esse aspecto – o compromisso com as lutas reais do povo – que a política stalinista havia enterrado sob o peso do dogma e dos decretos burocráticos: “O stalinismo”, opinou Thompson, “é uma teoria socialista e uma prática que perdeu a humanidade como ingrediente”.  

O stalinismo, afirmou, antes de tudo, instala uma linha mais de acordo com os interesses da direção burocrática do partido do que com uma visão concreta da análise da realidade social real em que as pessoas vivem, trabalham e lutam. Tudo é subordinado então a provar a infalibilidade desta linha: “Em vez de começar com os fatos, a realidade social, a teoria stalinista começa com a ideia, o texto, o axioma: fatos, instituições, pessoas devem ser eliminadas para conformar a ideia. Posteriormente, o stalinismo opera como uma espécie de “idealismo mecanicista” onde “os seres humanos são meros fantoches a serem manipulados de acordo com a ideia que o partido reivindica como a verdade”3

Ocupou um lugar central no projeto político e teórico de Thompson a batalha contra as tendências reificadoras do pensamento burguês – sua propensão a reduzir sujeitos, suas relações sociais e sua experiência histórica para as relações entre coisas que determinam totalmente a vida social. Como uma forma de socialismo em que se liquidou “o ingrediente da humanidade”, o stalinismo perdeu de vista o fato de que, embora condicionados por circunstâncias objetivas, em última análise, os sujeitos fazem sua própria história. 

A rebelião de Thompson contra o stalinismo foi realizada sob a bandeira de do “comunismo libertário”.4 E foi essa perspectiva, com sua insistência sobre a luta dos trabalhadores para sua autoemancipação, que moldou decisivamente seu trabalho histórico mais importante e que fez de sua obra uma contribuição vital para a renovação do marxismo. 

A formação da classe operária na Inglaterra: uma obra-prima do marxismo 

Nenhum leitor da obra mais importante de Thompson, A formação da classe operária na Inglaterra, pode deixar de ser afetado pela insistência apaixonada de um autor no qual, ao construir sua história, a classe operária também se constroi. Este tema, a ação e a autoatividade da classe operária, distinguiu nitidamente A formação… de muito do que se passou por análise histórica marxista durante o período em que o stalinismo dominou o panorama da esquerda internacional.5 Na verdade, no famoso prefácio desta obra, Thompson indicou que o caráter singular de sua abordagem da discussão de classe e luta de classes, implicitamente contrastava com o materialismo mecanicista da historiografia stalinista. 

Ele escolheu a noção “deselegante” de formação da classe operária inglesa, explicava, para descrever “um processo ativo que deve tanto à ação quanto à condicionamentos”. Classe, ele insistiu, não é uma estrutura ou categoria: é “algo que de fato ocorre (e podem ser demonstrados como tendo ocorrido) nas relações humanas”. Relações, “sempre incorporadas em sujeitos reais dentro de um contexto real”.6 Opondo-se às abordagens históricas que destacam as “grandes personalidades” ou as grandes mudanças materiais – abertura de rotas comerciais, construção de fábricas de algodão – Thompson procurou enfatizar a atividade de trabalhadores anônimos, como um fator chave no processo histórico. Ao fazer isso, ele esperava afirmar a dignidade fundamental das massas que fazem (e fizeram) história.  “Eu venho resgatar,” ele escreveu em uma passagem memorável “aos pobres calceteiros, aos operários luditas, aos tecelões manuais obsoletos, aos artesãos utópicos e até mesmo para os seguidores alucinados de Joanna Southcott, da enorme condescendência da posteridade”.7

Essas pessoas eram importantes, insiste Thompson, porque a classe operária inglesa não foi construída apenas sobre os padrões de acumulação de capital e competição do mercado, mas também por ideias, aspirações e lutas que os trabalhadores se opunham à influência que condicionou suas vidas. 

Em seu esforço para resgatar o senso de atividade das pessoas comuns, A formação… ataca regularmente as tendências reificantes das principais correntes de análise histórica. Quando a história é apresentada como uma série de eventos completamente determinados um pelo outro, “chegamos a um determinismo post-facto”, escreve Thompson. “Perde-se a dimensão da ação humana e o contexto das relações de classe é esquecido.”  

E, como é muito comum, dá-nos um belo exemplo ilustrativo de como os fatos estão com as relações de classe social: “O simples fato – uma colheita ruim, por exemplo – pode parecer que está fora da escolha humana. Mas a maneira como esse fato se resolveu foi em termos de um complexo particular de relações humanas: leis, propriedade, poder. Quando encontramos alguma frase sonora como “o forte refluxo e ascensão do ciclo econômico” devemos ficar em guarda. Por trás desse ciclo comercial existe uma estrutura de relações sociais, certas formas de apropriação (renda, juros e lucro) são incentivadas e outros (roubo, dívidas feudais) são proscritos, legitimando certos tipos de conflito (competição, guerras) e inibição de outros (sindicalismo, revolta pelo pão, organização política popular)…”8

O reconhecimento de que essas questões – lei, propriedade e poder – sempre foram impugnadas e não meramente dadas é o que distingue A formação … como uma obra da história marxista. Thompson se recusa a cair no mito de que a classe operária era essencialmente passiva, reagindo simplesmente a eventos externos que determinaram seu destino. Mesmo discutindo o papel da religião – neste caso, o metodismo – como apaziguadora e desviadora da luta de classes, ele é muito cuidadoso em não mostrar os trabalhadores como fantoches manipulados por líderes religiosos. “Nenhuma ideologia é completamente absorvida por seus adeptos: na prática, é minada de mil maneiras pela crítica do impulso e da experiência: a comunidade da classe operária enxertou dentro das capelas seus próprios valores de ajuda mútua, vizinhança e solidariedade”, anota.9

A ênfase de Thompson nas ideias, aspirações, tradições e experiências da classe operária foi descrita por muitos críticos como uma espécie de excessivo sentimentalismo que glorifica o estado de consciência existente na classe operária. Há um potencial perigo nisso. Mas o Formação… não sucumbe diante dele. Enquanto empresta atenção detalhada à tradição política e ideológica dos trabalhadores ingleses, Thompson não hesita em sublinhar o quão pouco progresso eles fizeram. Em particular, discute as limitações do constitucionalismo do movimento radical, sua insistência em que a lei se dedica a prover liberdades a todos os sujeitos e que aqueles que as violam estão agindo contra a constituição. Também destaca os defeitos do radicalismo pequeno-burguês, que é muito comum no surgimento do movimento operário que, em vez de atacar a propriedade capitalista, projetava o ideal de uma comunidade de pequenos proprietários/produtores independentes fazendo trocas equitativamente e vivendo em harmonia. Em ambos os pontos, aponta para o radicalismo ambíguo de William Cobbett, cujos escritos jogaram um importante papel no movimento operário do início do século XIX. Cobbett, argumenta que Thompson falha como ideólogo da mobilização da classe operária porque “reduz a análise econômica para uma polêmica contra o parasitismo de certos interesses dados. Não pode permitir uma crítica centrada na propriedade”.10

Em seu lugar, os herois da pesquisa de Thompson são os plebeus radicais, muitas vezes membros de organizações secretas revolucionárias que realizaram “uma crítica centrada na “propriedade”, uma crítica socialista que promoveu a ideia de propriedade comum dos meios de produção.11

É valioso sublinhar este último. A formação da classe operária na Inglaterra reabilita o substrato revolucionário do radicalismo da classe operária, que foi estendido desde então por volta de 1790 até o período cartista, cujos adeptos prepararam uma insurreição contra o Estado britânico. Esta característica de A formação… que irritou muitos de seus primeiros revisores foi esquecida pelos críticos que condenaram seu populismo e romantismo declarados. Através de seu trabalho, Thompson identifica-se com os radicais plebeus do revolucionarismo clandestino. E, ao mesmo tempo, para isso, confronta a tradição dominante na história britânica do trabalho – na qual acentua o gradualismo e o constitucionalismo. Thompson insiste que os revolucionários não eram conspiradores malucos, ociosos e excêntricos. Pelo contrário, argumenta que em um conjunto de ocasiões entre 1790 e 1832 – muito especialmente no outono de 1831 – uma maré de sentimento revolucionário se infiltrou na classe   operária inglêsa.12 A formação… destaca-se, portanto, não apenas porque se concentra não apenas na autoatividade da classe operária, mas também porque demonstra que as ideias revolucionárias e suas organizações desempenharam um papel vital na origem do movimento operário britânico. 

Em defesa da história 

Grande parte dos trabalhos de Thompson no período de 15 anos após o lançamento de A formação… assumiu a forma de uma defesa da prática histórica materialista contra tendências abstratas e esquemáticas dentro do marxismo. Em 1965, dois anos após o aparecimento de sua grande obra, entrou em uma discussão violenta com dois dos editores mais influentes da New Left Review (NLR), Perry Anderson e Tom Nairn. 

Thompson colaborou fugazmente com os dois nos estágios iniciais da NLR. Na primavera de 1960, o New Reasoner, editado por Thompson e John Saville juntaram-se a Universities and Left Review para criar a NLR. Em seus primórdios, a NLR era vista como parte de um projeto político prático: a Review devia vincular-se aos Clubes da Nova Esquerda em um esforço para construir um novo movimento socialista na Inglaterra.  

Inevitavelmente, as diferenças em torno de questões-chave, como revolução ou a falta de clareza sobre o papel e a natureza de uma organização socialista levou à estagnação e desaparecimento dos clubes. Em 1962, Perry Anderson chamou a reorganizar a NLR – que levou adiante com entusiasmo, no processo foram marginalizados Thompson e outros fundadores do núcleo central da vida da Review. 

O desprezo de Thompson pela direção que a NLR tomou sob a tutela de Anderson encontrou expressão em um ensaio brilhante, “The Peculiarities of the English” (1965). “Peculiarities” foi uma reação contra os artigos de Anderson e Nairn que vinculavam a crise do capitalismo britânico e a proclamada impotência do movimento operário à “incompletude” da revolução burguesa no país. A Inglaterra fez uma transição para o capitalismo, explicavam Anderson e Nairn, no momento em que a burguesia ainda estava econômica, política e culturalmente subordinada à aristocracia. A partir do qual as instituições políticas britânicas nunca foram totalmente revolucionadas (testemunhado na manutenção da monarquia e da Câmara dos Lordes) e sua burguesia não conseguiu desenvolver uma classe agressiva e confiante capaz de estabelecer uma hegemonia cultural e política na sociedade. Uma burguesia impotente, consequentemente, produz um movimento operário reformista. Enquanto as tradições das lutas revolucionárias da burguesia francesa moldaram a classe operária emergente no seu país, a ausência de uma verdadeira revolução burguesa explica as tradições dos operários britânicos.13

Thompson reagiu com fúria contra esses argumentos. Ele destruiu o esquematismo das teses de Nairn-Anderson, submetendo-as a uma crítica muito severa. Tomando alguns dos tópicos da discussão de Marx na Parte Oitava do primeiro volume de “O Capital”, Thompson destaca a proletarização dos produtores rurais e a acumulação de capital na agricultura como momentos-chave na transição ao capitalismo na Inglaterra. O desenvolvimento do capitalismo inglês, escreveu: “… foi enormemente complexo e gradual, começando (por conveniência histórica) com os grandes pastores monásticos de Domesday, passando pela redução dos barões nas guerras, o desenvolvimento do ‘trabalho livre’, o cercamento dos pastores, a divisão e redistribuição das terras da Igreja, a pilhagem do Novo Mundo, a despovoamento do campo, e então, através da revolução, a eventual aceleração de cercamentos e recuperação de terras estéreis”.14

Anderson e Nairn não viram nada disso, diz Thompson, porque prepararam um esquema antes da pesquisa histórica. Para Anderson-Nairn, a ascensão do capitalismo na Inglaterra deve seguir o modelo francês. Se o capitalismo surgiu ali principalmente do comércio urbano e centros manufatureiros, então o mesmo deve acontecer na Inglaterra. O fato de que o capitalismo inglês tivera poderosas raízes agrárias que lhes escapavam. Mais ainda, seu esquematismo os impede de reconhecer que o capitalismo agrário e o capitalismo industrial não são, em última análise, duas espécies diferentes. Embora constituíssem dois grupos diferentes, eles se fundiram em um grupo razoavelmente unificado como uma resposta ao surgimento do movimento operário na época da Revolução Francesa.15 A burguesia industrial não foi inepta, pelo contrário, perceberam seus interesses comuns com o capitalismo agrário em defesa da propriedade contra a ameaça que vinha de baixo. 

Atacando Anderson e Nairn, Thompson não considerou que ele estava simplesmente corrigindo interpretações errôneas de um processo histórico. Ele se viu defendendo a prática do materialismo histórico contra o formalismo vazio que caracterizou muitas análises marxistas. “Mentes sedentas por um platonismo robusto muito rapidamente ficam impacientes com a história real”, sugeriu ele.  

Uma década mais tarde, sua defesa da “história real” contra o “marxismo platônico” tomou a forma de uma um ataque imparável contra o estruturalismo marxista de Louis Althusser. 

A crítica de Thompson a Althusser desenvolve aspectos que haviam sido levantados por outros autores.16 O que distingue seu ataque, “Miseria de la Teoría”, no entanto, é seu tom polêmico áspero e sua tentativa de demonstrar que a posição de Althusser está saturada de stalinismo. Não surpreendentemente, que a controvérsia de Thompson comece com um ataque ao desdém pela história que caracteriza o seu adversário. Thompson fornece a declaração surpreendente de dois althusserianos: “O marxismo, como prática teórica e política, não ganha nada com sua associação com pesquisa e ensaio histórico. O estudo da história não é apenas científico, mas também politicamente inútil”.17

E prossegue demonstrando que o sistema de Althusser é nada menos que a forma mais selvagem do idealismo. 

Central para a posição de Althusser era a ideia de que a ciência marxista poderia ser construída apenas no nível filosófico por meio do puro refinamento de conceitos. Nenhuma contaminação da teoria pela história, nenhuma tentativa de descer os conceitos para a experiência de vida, que ele denuncia como “empirismo”. Daqui resulta que a ciência marxista deve ser desenvolvida apenas no nível conceitual, refinando conceitos por meio de outros conceitos. Thompson não tinha dúvidas sobre a natureza totalmente idealista desta operação teórica: “Este procedimento é totalmente autoconfirmado. Move-se totalmente para dentro do círculo não só da sua própria problemática, mas também do seu próprio processo de autoperpetuação e autoelaboração…É um sistema fechado em que os conceitos circulam eternamente, reconhecendo e questionando uns aos outros.” 

Tal posição não é científica nem materialista. E Thompson não ficou incomodado em dar-lhe um nome. A empresa teórica de Althusser, escreveu: “é uma ruptura de rigoroso autoconhecimento e um salto na autogeração de conhecimento” de acordo com seus próprios procedimentos teóricos: isto é, um salto do conhecimento à teologia.”18

O tom do espírito polêmico de Thompson ofendeu muitos acadêmicos marxistas. A combinação de sátira e denúncia com argumentos teóricos não era nada novo na polêmica do marxismo com o idealismo – basta apenas revisitar o estilo de Marx e Engels em uma obra como “A Sagrada Família” para provar que que a “Miséria de la teoria” tem seu lugar conquistado em uma longa e honrosa tradição. Mas o ensaio de Thompson ofendeu muito, em grande medida, porque continha uma caracterização política e social do althusserianismo. 

Thompson assinala a origem da obra de Althusser: 1956. E ele reconhece que esse projeto foi definido como uma tentativa de manter os Partidos Comunistas imunes ao tipo de crítica que emanava do comunismo libertário e do socialismo humanista. A maneira mais simples de fazê-lo foi remover os sujeitos do projeto de ciência “marxista”. Finalmente, Althusser procurou enterrar os conceitos criados por Marx de alienação e reificação e reconstruir a ciência marxista como uma filosofia de estruturas. Mas Thompson, endurecido nas batalhas de 1956, entendeu o caráter político do projeto de Althusser. “Podemos observar o surgimento do althusserianismo”, escreveu, “como uma manifestação de ação política dentro da ideologia, como a tentativa de reconstruir o stalinismo ao nível da teoria”.19

Como então podemos explicar a popularidade do althusserianismo entre os intelectuais de esquerda? Aqui Thompson apenas oferece um esboço de argumento, mas não menos ofensivo para muitos acadêmicos marxistas. Em sua opinião, o trabalho de Althusser acertou em cheio por causa do elitismo peculiar que existe na “intelligentsia” de classe média. Este grupo “doutrinado por procedimentos educacionais seletivos acreditar que seus próprios talentos especializados” eram uma garantia de estima e sabedoria, fica feliz em aceitar o papel oferecido a eles por Althusser, como guardiões dos princípios filosóficos da ciência proletária. “Isolado em enclaves intelectuais”, escreve ele, “o drama da ‘prática teórica’ pode se tornar o substituto de um mais difícil compromisso prático.”  

Além disso, como isso se baseia no mesmo tipo de elitismo intelectual que geralmente domina a vida acadêmica, o althusserianismo é totalmente compatível com o reconhecimento e promoção dentro do mundo universitário: “permite que o aspirante acadêmico se envolva em um psicodrama revolucionário, ao mesmo tempo em que persegue uma reputada carreira intelectual convencional”.20

Aqui encontramos uma das características mais significativas do marxismo de Thompson, sua hostilidade ao academicismo. O próprio Thompson teve apenas uma relação episódica e marginal com o sistema universitário britânico. Até mesmo sua insistência na autoatividade da classe operária o colocou em conflito não apenas com o establishment acadêmico, mas também com a tradição elitista da esquerda intelectual, uma das muitas coisas pelas quais ele merece ser lembrado.21

Limitações: materialismo e moralidade crítica 

E, no entanto, há algo paradoxal nesse aspecto, uma vez que o trabalho de Thompson tem recebido crescente reconhecimento acadêmico nos últimos anos. Com total segurança, muitas vezes devidas apenas ao poder intelectual consumado e emocional das obras históricas de Thompson. Mas, há outra razão que deve ser reconhecida: ao contrário das intenções de seu autor, o trabalho de Thompson é suscetível a um certo grau de incorporação na última moda intelectual “radical”, a teoria do discurso. 

Está além dos limites deste artigo lidar com essa corrente intelectual. Basta dizer que, desde meados da década de 1970, a tendência predominante entre os intelectuais radicais têm sido declaradamente antimaterialista. Com a desculpa de expulsar o “economicismo” e “reducionismo de classe”, muitos intelectuais passaram a acreditar na ideia de que a sociedade gira principalmente em torno de “discursos” que organizam a forma em que vemos o mundo e agimos nele.22 E alguns deles têm reivindicado um aliado em E.P. Thompson. 

Essa aliança indesejada se concentra no ataque agudo de Thompson às noções de “base” e “superestrutura”. Para Marx e Engels, esses conceitos eram uma espécie de metáfora para descrever a maneira pela qual as forças e relações de produção em uma sociedade – e uma vez que se expressam em conflitos de classe – exercem uma certa influência na cultura e nas ideologias. Thompson reagiu duramente à maneira mecanicista pela qual essas ideias foram usadas pelo marxismo stalinizado. Ele acreditava que a ideia de uma base socioeconômica que condiciona uma superestrutura cultural e ideológica tende a dar força à reificação do pensamento, uma vez que as forças materiais cegas e não humanas são dotadas de vontade e ainda de consciência de si mesmas. O resultado, argumentava ele, é a redução da “consciência humana a uma forma errática e involuntária de resposta a oficinas e fábricas que estão em processo de emergência e crescimento espontâneos”.23 

Thompson não pode ser severamente acusado de sua preocupação de que a analogia base-superestrutura poderia ser abusada por aqueles que estão prostrados em formas mecânicas de pensamento e ação. Engels tinha realmente alertado contra tais excessos quando escreveu que “a concepção materialista da história tem muitos amigos perigosos hoje em dia, que usam isso como desculpa para não estudar história.”24 

Da mesma forma, Trotsky advertiu que: “um ignorante, armado com o materialismo dialético… inevitavelmente se transforma em um estúpido.” 25 

Há pouca dúvida de que muitos “amigos perigosos” e “ignorantes” apareceram nas obras que vieram do lado stalinista. Mas Thompson fez algo mais que um ataque ao uso da analogia “base-superestrutura” por essas pessoas. Sustentou que a analogia em si “é radicalmente deficiente. Não pode ser reparada. Tem uma tendência autoconstruída que leva a mente ao reducionismo.”  

E como um corretivo para essa tendência, ele insistiu que a classe era, na melhor das hipóteses, uma formação cultural e econômica e que: “é impossível dar qualquer prioridade teórica para um aspecto sobre o outro.”26

Este argumento foi um presente de grego. Embora possa ter sido atraente para um período em que o materialismo vulgar apareceu preponderantemente como a maior ameaça ao marxismo autêntico, ele está particularmente mal equipado para responder ao novo idealismo que dissolve toda a vida social na linguagem e no discurso. Não significa dizer que Thompson possa ter sustentado alguma vez a ideia dos sujeitos como entidades flutuando livremente e adotando novas identidades (ou “posições subjetivas”) sempre que são apanhados pelo chamado distante de um novo discurso. Tal visão é, em última análise, estranha ao reconhecimento rigoroso de Thompson de que as pessoas nascem em relações de classe que condicionam toda a construção de suas vidas. Na verdade, Thompson nunca deu como superada a ideia de que as relações de produção ocupam um papel central na vida social. Mesmo em seu famoso prefácio de A formação… afirmou que: “a experiência em sala de aula é em grande parte determinada pelas relações de  produção em que os homens nasceram – ou entraram involuntariamente.”27 Da mesma forma, no momento mais duro do seu ataque à analogia base-superestrutura, ele insiste que não é questionada “a centralidade do modo de produção (com suas concorrentes relações de poder e propriedade) para alguma compreensão materialista da história”.28

Mas como se defende essa insistência no modo de produção uma vez que abandonamos a ideia de que alguns aspectos da existência humana são mais fundacionais do que outros? Por que na pesquisa histórica a classe deve ser privilegiada  acima de todos os outros aspectos se as experiências que esta classe desenvolve – sua posição dentro de um sistema social de produção – não é mais essencial do que outra coisa para o funcionamento de uma sociedade? Thompson não tem respostas sérias para essas perguntas. E, diante disso, não é surpreendente que nos encontremos com alguns dos seus seguidores argumentando que: “acima de tudo não podemos estabelecer qualquer necessidade lógica para a primazia da produção na explicação da vida social.”29 

Com esta concessão, no entanto, todo o projeto marxista colapsa – a ideia de que a luta de classes é central para a história registrada tanto quanto a noção de que a autoatividade da classe operária é a chave para derrubar a sociedade capitalista. 

Nada disso é para acusar Thompson de ter conspirado para colaborar e incitar o declínio do materialismo histórico e a ascensão da teoria do discurso. Thompson poderia ter finalmente reconhecido outro episódio de elitismo burguês em um uma abordagem que eleva o discurso e o pensamento acima da classe operária. No entanto, deve-se reconhecer que, questionando a analogia base-superestrutura e o papel central que Marx concedeu à atividade econômica na vida social, Thompson, sem querê-lo, abre a porta para uma corrente antimaterialista na teoria social contemporânea.30 

Particularmente quando ele insiste que a cultura é tão decisiva quanto a economia ajuda uma corrente que ele provavelmente teria repudiado.31 

Este ponto é destacado por um historiador marxista americano inspirado por Thompson. Embora reconhecendo a importância do papel desempenhado por Thompson e seu contemporâneo Raymond Williams confrontando o estruturalismo e o materialismo vulgar, Bryan Palmer observa, no entanto, que: “algo se perdeu na assimilação de ação e estrutura, cultura e materialidade”.  

E ele continua dizendo que desde o final dos anos 70 “a afirmação teórica de Thompson e Williams foi facilmente incorporada em uma nova ortodoxia, que fechou seu nariz ao cheiro sujo do economicismo sem refletir no que isso implicou, por sua vez, fechar os olhos para o materialismo. O cultural tornou-se material; o ideológico tornou-se real”.32 

Deve-se admitir, de fato, que Thompson exibiu uma tendência a escorregar do materialismo à crítica moral-cultural. Estou inclinado a pensar, de uma forma irônica, que esse deslocamento deve algo à natureza de sua crítica ao stalinismo. Com todo o seu fervor moral e político, havia algo marcadamente vago em seu ataque ao stalinismo. Thompson se descreve como um “crítico moral do stalinismo” e há muito a ser dito sobre isso. Quaisquer que sejam as suas limitações, os socialistas-revolucionários não só podem aplaudir um crítico que se recusa a aprovar os campos de trabalho, as paródias de julgamentos, assassinatos em massa, um estado policial de mentiras e crimes contra os direitos humanos, como autênticas formas de socialismo. Mas junto com a vigorosa denúncia moral, é necessário formular uma análise clara da natureza do regime em discussão. Thompson nunca nos deu. E seus gestos em direção a tal análise apenas podem ser descritos como frágeis. Assim, em sua polêmica com Althusser, ele afirmou que “o Estado só pode ser entendido com a ajuda do conceito de ‘parasitismo’.”33 

Mas escrevendo como historiador do radicalismo inglês, Thompson nos alertou sobre o curto alcance deste termo. Discutindo com William Cobbett no Formação…, por exemplo, Thompson atacou seu radicalismo por reduzir as “análises do econômico a uma polêmica contra o parasitismo de certos interesses ocultos”.34  

Mas, no caso do Estado russo é precisamente o que Thompson faz. Em lugar nenhum, ele se introduz na análise da economia russa e, em vez disso, restringe-se a fazer uma crítica moral do parasitismo. 

Essa, parece-me, é a maior falha nos escritos políticos de Thompson: sua predisposição para suplantar a análise materialista com a crítica moral. Muitas vezes, estas críticas são extremamente apaixonadas; são claras explosões de indignação. No entanto, muitas vezes carecem do tipo de teste e análise sistemáticos que se requer para serem convincentes e servir como guias para a ação. Um pequeno exemplo ilustrará esse ponto. 

Ao longo da década de 1970, Thompson começou a se preocupar cada vez mais com o desenvolvimento do “estado secreto” na Grã-Bretanha e sua invasão no terreno das liberdades civis. É compreensível seu aborrecimento com os marxistas que consideravam tais questões como irrelevantes. Mas, com o objetivo de atingir aqueles que ficaram indiferentes aos direitos civis, tendeu a perder sua distância crítica. Ele começou a louvar as normas da lei como “um bem humano indescritível”, como “uma conquista cultural de significado universal” sem sequer marcar um reconhecimento do caráter do contraditório da lei e do fato de que, no mínimo, é em parte uma expressão da alienação das pessoas do Estado que caracteriza a sociedade de classes.35

Então, em um julgamento injustificável, Thompson chegou a uma conclusão absolutamente pessimista sobre a luta em defesa das liberdades civis. Os britânicos, argumentou ele, “foram narcotizados em um respeito reverencial pela autoridade”. Não se levantam mais para defender seus direitos tradicionais.36 Dessa forma, a “evidência” de Thompson para seu argumento implica, não uma tentativa de uma análise materialista do balanço da correlação de forças sociais, do estado do movimento operário e do movimento operário e outros fatores que podem influenciar o nível de oposição popular às incursões nos direitos civis. Em vez disso, ele oferece um comentário cultural: “Os britânicos nascidos livres foram criados fora da dominação … Uma operação foi feita em nossa cultura e a combatividade foi extirpada”.37  

Consequentemente, em um movimento reminiscente de Cobbett, Thompson levanta o manto do constitucionalismo sugerindo que ele e outros “defensores das liberdades civis estão tentando sustentar no alto a Constituição contra a subversão dos ‘guardiões da lei e da ordem”.  

Uma configuração semelhante da crítica moral que substitui a análise materialista está em torno da análise de Thompson sobre o “exterminismo” que identifica a nova Guerra Fria nos anos 80.38 

Conclusão: a contribuição duradoura de Thompson 

Existe o perigo de que, ao fazer essas críticas, cheguemos à conclusão de que Thompson, embora um marxista bem-intencionado, tinha pouco a contribuir para o futuro do socialismo revolucionário. Eu não quero sugerir nada disso. E.P. Thompson foi uma figura gigantesca no desenvolvimento da história marxista. Não hesito em sugerir que até agora era a figura mais importante do Grupo de Historiadores do Partido Comunista Britânico, cuja lista inclui Christopher Hill, George Rudé, Eric Hobsbawm e Rodney Hilton. E sua preponderância tem a ver principalmente com o compromisso político resoluto que anima seu trabalho: sua insistência na centralidade da autoatividade da classe operária no processo histórico. 

Há em Thompson uma certa “disposição revolucionária”, uma inclinação para ruptura dentro das estruturas pesadas da sociedade que permitem à ação e autoatividade fazer virar a história e determinar uma nova direção para os fatos. E isso é o melhor do seu trabalho, quaisquer que sejam seus limites, os exemplos maravilhosos de materialismo histórico genuíno que estão nele. As análises históricas nunca são simplesmente sobre o passado. Também são sobre a recuperação de lutas passadas para forçar e abrir uma brecha na história que nos permita construir um futuro melhor, no qual a glória e o sofrimento das lutas passadas sejam redimidos pelas futuras vitórias dos explorados e oprimidos. 

E é por isso que Thompson nos interessa hoje, e porque devemos nos lamentar sua morte. Havia limites para o marxismo de Thompson, alguns dos quais eu abordei neste artigo.39 Mas isso não muda o fato de que ele estava do nosso lado, o lado daqueles para quem a luta revolucionária da classe operária por sua autoemancipação é a causa do presente e do futuro. As críticas que fiz pretendem ultrapassar as fragilidades de determinadas posições que adotou de forma a preservar e estender o impulso essencial de seu trabalho. Thompson, eu acho, seria o primeiro a entender que seu trabalho foi levado e transformado por outros lutadores de diferentes batalhas. “O que podemos esperar”, escreveu ele certa vez, “é que os homens e mulheres do futuro nos acolherão, afirmarão e renovarão nossa vontade.”40 Há muito para retomar nos escritos de E.P. Thompson e muito que merece ser afirmado e renovado. 

 

NOTAS

1 E.P.Thompson, Through the Smoke of Budapest, “The Reasoner: A Journal of Discussion, Noviembre de 1956, como reimpresión en D.Widgery, The Left in Britain 1956-1968 (Harmondworth 1976) pag. 71.

2 Ibid. pags. 67 a 72

3 Ibid. pags. 69 a 70

4 Referências à ideia de “comunismo libertário” são uma constante nos escritos de Thompson. Veja, por exemplo, “A Communist Salute” na última edição de The Reasoner (primavera de 1960), como uma reimpressão em D. Widgery op.cit. Pp. 90 a 91; sua autorreferência como um “historiador dentro uma traição marxista libertária” em E. P. Thompson, Writing by Candelight, (Londres, 1980), p. 166 e sua discussão renovada sobre o “comunismo libertário” em “Miséria de la teoria”. Este termo é geralmente usado indistintamente com o do “humanismo socialista”.

5 De fato, a exceção à regra eram as obras que geralmente vêm da tradição Trotskista. Um exemplo maravilhoso é C. L. R. James, “Os Jacobinos Negros”, primeira edição em 1938.

6 E. P. Thompson, A formação da classe operária inglesa (Nova York, 1963), pag. 9. David McNally: E. P. Thompson: Luta de Classes e Materialismo Histórico, Dossiê: E. P. Thompson, em Razón y Revolución no. 1, outono de 1995, reimpressão eletrônica.

7 Ibid. 12.

8 Ibid. Pag. 205.

9 Ibid. pág. 392

10 Ibid. pág. 757.

11 Veja, por exemplo, a discussão de Thompson sobre Thomas Spencer e seus seguidores tanto quanto seu tratamento dos owenistas. Mais dados sobre esses grupos podem ser encontrados em meus argumentos para “Contra o Mercado: Economia Política: Socialismo de Mercado e a Crítica Marxista” (Londres, 1993), cap.4.

12 Ibid. pags. 808, 816-817.

13 Anderson voltou à sua tese 25 anos depois, em uma forma em que suas implicações reformistas ficaram muito mais claras. Veja seu “The Figures of Descent”, New Left Review 161 (janeiro-fevereiro de 1987). Para críticas a esse trabalho em sua formulação mais antiga, consulte C. Barker e D. Nicholls (eds), The Development of British Capitalist Society: A Marxist Debate (Manchester, 1988); E. M. Wood, The Pristine Culture of Capitalism: A Marxist Debate (Manchester, 1988); E. M. Wood, The Pristine Culture of Capitalism: A Marxist Debate (Manchester, 1988). Wood, The Pristine Culture of Capitalism (Londres, 1991) e A. Callinicos “Exception or Symptom ? The British Crisis and the World System”, New Left Review 169 (maio-junho de 1988).

14 E. P. Thompson, “The Peculiarities of the English”, en A Miéria de la Teoria (op.cit.) pag. 41. Comparar esta descrição com a de Marx, O Capital, vol 1 (Harmondsworth, 1976), p. 11. 895. David McNally: E. P. Thompson: Luta de Classes e Materialismo Histórico, Dossiê: E. P. Thompson, em Razón y Revolución no. 1, outono de 1995, reimpressão eletrônica.

15 Ibid. pág. 45.

16 Ver, por exemplo, N. Geras, “Althusser’s Marxism: An Assessment”, y A. Glucksmann, “A Ventriloquist Structuralism”, ambos em Western Marxism: A Critical Reader.

17 B. Hindess y P. Q. Hirst, Modos de Produção Pré-Capitalistas (Londres 1975), p.132.

18 E. P. Thompson, Miséria de la Teoria (op.cit.), pags. 204, 225.

19 Ibid. pág. 323.

20 Ibid. págs. 377, 376-77, 378. Infelizmente, o excelente argumento de Thompson é frustrado por sua subestimação dos eventos de 1968 e o impacto que eles tiveram na formação de revolucionários em todo o mundo.

21 Na verdade, Thompson produziu uma das melhores caricaturas escritas até hoje sobre acadêmicos. Em seu pequeno livro, Warwick University Ltd; Industry, Management and the Universities (Harmondsworth, 1970), pags. 153-155, provê uma maravilhosa exposição acerca “da espécie Academicus Superciliosus” o qual “se infla com autoestima e perpetua autocongratulação como a alta vocação do docente universitário”. Agradeço a Bryan Palmer por tornar esta passagem um presente para mim.

22 Para um argumento útil sobre a tendência intelectual com a qual estamos preocupados, ver R.Bradbury “What is Post-Structuralism ?” International Socialism 41 (Invierno 1988); B. D. Palmer, Descent into Discourse: The Reification of Language and the Writing of Social History (Philadelphia, 1990); y A. Callinicos, Against Postmodernism: A Marxist Critique (New York, 1990).

23 E. P. Thompson, “Socialist Humanism: An Epistle to the Philistines”. The New Reasoner: A Quarterly Journal of Socialist Humanism 1 (Verano 1957), pag. 113-114.

24 F. Engels, Letters on Historical Materialism 1890-94 (Moscú 1980) pag. 7.

25 L. Trotzky, Notebooks, 1933-35: Writings on Lenin, Dialectics, and Evolutionism (New York 1986), pag. 111.

26 E. P. Thompson, Folklore, Anthropology and Social History (Brighton, 1979) pags. 18, 21.

27 E. P. Thompson, The Making of the English Working Class (op.cit.) pag. 9

28 E. P. Thompson, Folklore, Anthropology and Social History (op.cit.), pags. 17-18.

29 D. Sayer, The Violence of Abstraction: The Analytic Foundations of Historical Materialism (Oxford,1987), pág. 148. Não é de surpreender que Sayer tenha agora adotado todo o conjunto de pontos de vista de Max Weber e Michel Foucault em sua pesquisa recente sobre os trabalhadores na sociedade moderna.

30 Para encontrar a caracterização de Thompson de Marx como culpado de uma forma de reducionismo economicista ver “The Peculiarities of the British” (op.cit.), pag. 83; The Poverty of Theory (op.cit.) pags. 257-60; y Folklore, Anthropology and Social History (op.cit.) pag. 19.

31 Uma formulação deste tipo pode ver-se em E. P. Thompson, Folklore, Anthropology and Social History (op.cit.), pag. 19.

32 Palmer (op.cit.) pág. 210. Para ver a enorme dívida de Palmer com Thompson, veja seu The Making of E.P.Thompson: Marxism, Humanism and History (Toronto, 1988).

33 E. P. Thompson, The Poverty of Theory (op.cit.), pag. 241.

34 E. P. Thompson, The Making of the English Working Class (op.cit.) pag. 757.

35 E.P. Thompson, Whigs e Hunter: Whigs and Hunter: The Origin of the Black Act (New York, 1975), pags. 266, 265.

36 E. P. Thompson, “The End of an Episode”, New Society (13 de dezembro de 1979), pag. 608. Note-se o irônico da situação de ver Thompson se referindo às pessoas como drogadas quando os caracteriza

37 Ibid.

38 E. P. Thompson, Escrevendo à luz de velas (op.cit.) p. 100. 210. Como sempre, as obras de Thompson nesta área se distinguiram por sua tremenda paixão e entusiasmo. No entanto, sua análise, lançada em um ensaio intitulado “Notes on Exterminism, the Last Stage of Civilisation”, New Left Review 121 (Mayo-Junho 1980) vacilam em pontos cruciais. O ensaio mostra uma ótima descrição potências, como quando desenvolve a lógica recíproca que une americanos e russos na corrida armamentista. No entanto, perto do final, ele argumenta que o exterminismo em si não é uma “questão de classe”: é uma “questão humana”. Em um nível puramente descritivo, isso é obviamente verdade: a devastação nuclear não discriminaria com base na classe. Mas, analítica e estrategicamente, isso é implorar por princípios enquanto houver uma lógica econômica e política na corrida armamentista que não pode ser eliminada sem eliminar as relações de classe predominantes da sociedade.

39 Uma discussão esclarecedora das raízes dessa fraqueza pode ser vista em D. Hallas, “How Can We Move On ?” Socialist Register 1977, pags. 6-8.

40 E. P. Thompson The Poverty of Theory (op.cit.), pag. 2

 

Traduzido do original espanhol em https://izquierdaweb.com/e-p-thompson-lucha-de-clases-y-materialismo-historico/