MARTIN CAMACHO

A conjuntura muda drasticamente com a intensificação dos casos da doença SARS-CoV-2, ou mais comumente chamada de coronavírus, que afeita todo o país. Com isto, o presidente, que na semana passada incentivava a manifestação contra o Congresso do dia 15M, participou dos protestos e cumprimentou simpatizantes, hoje é denunciado por atitude inapropriada frente à pandemia que deu volta ao mundo em menos de 2 meses.

Diante de uma doença altamente contagiosa, desde o governo é tratada como uma brincadeira a mais que o planalto tem se acostumado a fazer. A atitude totalmente absurda do presidente não encontra precedentes entre governos burgueses anteriores. As respostas política que devem ser dadas a essa situação têm repercussão dentro do partido.

A combinação de elementos, como: uma crise econômica que se aprofunda, uma eminente crise sanitária e a inoperância de um governo negacionista, acabou abrindo uma conjuntura com um tom diferente do que tínhamos no princípio do ano.

É necessário levantar um plano de reivindicações a partir dos locais de trabalho que vão ser os mais afetados. É fundamental ampliar imediatamente o orçamento da saúde, contratar novos médicos, abrir novos hospitais, fabricar e importar materiais de prevenção e equipamentos, ou seja, toda uma série de medidas sanitárias para reduzir a expansão do vírus.

Por outro lado, é preciso ter políticas para os mais de 40 milhões de trabalhadores informais existentes no país que se vem sem uma fonte de emprego por causa da quarentena que vai levar meses até sua superação e a voltar a uma inicial recuperação.

É necessária uma verdadeira ajuda financeira para os precarizados/desempregados, não os R$200 que oferece o governo, isso é só bolsa pobreza que condena as pessoas a sair de suas casas para buscar renda necessária para sobreviver. Como, também, precisamos controlar os preços dos alimentos e dos produtos de higiene.

Também temos que sair com a consigna de nacionalização de todas as clínicas e hospitais para garantir que a população tenha um atendimento mínimo. Paralelo a isto, é a imediata a necessidade de construção de novos centros de internação.

Construir o Fora Bolsonaro pela base

Diante da possiblidade de iniciar uma campanha que derrote o governo Bolsonaro, um espectro ronda a esquerda brasileira, particularmente o PSOL. O fantasma do oportunismo, do derrotismo e do cupulismo.

A direção do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), que tem em suas fileiras diversas organizações (tendências e frações), em meio ao aprofundamento da crise política não consegue aprovar diretrizes políticas que contemplem a necessidade de colocar o partido na vanguarda da luta.

Esse cenário ascende a possibilidade de aprofundar a campanha política do “Fora Bolsonaro” e, também, de construir a tática de impeachment de forma paralela. Em uma tentativa de “aproveitar” a oportunidade, na noite dos panelaços alguns deputados do PSOL, especificamente ligados ao MES (Movimento Esquerda Socialista), apresentam mais um pedido de impeachment de Bolsonaro.

Essa foi uma tática feita nas alturas, sem um diálogo com as massas e sem consultar a bases do partido. Cremos que está ação afastada da base só evidencia como são conduzidas a política na direção do partido. Ou seja, sem discussão prévia e direta com a base, mas tendo apenas como base o senso de “oportunidade” para poder autoproclamar-se a partir da possibilidade de algum triunfo passageiro.

Por outro lado, o bloco majoritário da direção do PSOL apresenta uma imobilidade impressionante frente aos fatos. Em uma conjuntura na qual o governo se apresenta na defensiva, em queda crescente de popularidade, sem iniciativas à altura dos acontecimentos, com panelaços diários contra Bolsonaro que fracassa em conter o avanço da epidemia no Brasil, o bloco que dirige majoritariamente o partido, com destaque a organização Primavera Socialista, segue sua política rotineira e dependente do PT de não apresentar uma saída política para atual situação.

Precisamos superar tanto as atitudes unilaterais sem consulta à base, tal qual o chamado precipitado de impeachment feito pelos/as parlamentares ligados ao MES, que só servem para dividir o partido, quanto o derrotismo da direção majoritária do PSOL, para quem as condições nunca vão ser suficientes para fazer política independente do lulismo. A falta de ousadia da atual direção pode levar a perda de grandes oportunidades que estão colocadas se a crise seguir se aprofundando.

Para não ser ultrapassado pela realidade, o PSOL precisa superar o imobilismo da atual direção. O partido precisa ter urgentemente iniciativas para lançar o FORA BOLSONARO com uma política de esquerda. Essa agitação que está entrando massivamente nas classes trabalhadoras e nas médias. Junto a isso, somos um partido militante, precisamos, mesmo em condições adversas, lutar incansavelmente para arrancar medidas concretas do governo e dos patrões frente a uma crise humanitária que, seguramente, vai afetar milhares de pessoas.