Derrotar Macron com a greve geral

SANTIAGO FOLLET*

Na edição de quinta-feira passada do informativo “24H Pujadas”, o secretário geral da CGT, Philippe Martinez, fez uma vergonhosa livrada de cara do governo de Macron enquanto se colocava contra os próprios militantes de sua central sindical, em uma atitude completamente indepenedente dos trabalhadores e funcionários do governo. É que por causa das enormes mobilizações de trabalhadores ferroviários, estudantes e outros setores em luta, na última quinta-feira, se viu um grupo de militantes da CGT incendiar alguns manequins com os rostos do primeiro-ministro Edouard Philippe e do presidente da ferrovia. SNCF, Guillaume Pépy.

A este respeito, Martinez disse: “É inaceitável. Isso não serve a nossa causa. Temos projetos, afirmações, é isso que deve ser colocado em primeiro lugar. Repito solenemente, não é uma questão de homens. Nossa batalha não é por fora Monsieur Macron. Eu sei como dizer coisas aos militantes da CGT, assim como aos outros. Eu tenho uma pequena experiência, tivemos vários presidentes da República, todos eles são parecidos. Nosso projeto é trazer progresso social, aumentar salários, criar empregos, boas condições de trabalho.”

Como se o apoio do líder da CGT ao governo nacional não tivesse sido esclarecido após seu chamado para votar explicitamente para Macron na segunda rodada das eleições de 2017, e como se as reuniões anteriores à aprovação das reformas de flexibilização trabalhista , em que ele foi visto sorrindo alegremente com o presidente dos ricos, não o suficiente para provar sua cumplicidade com o governo dos empregadores do MEDEF (Movimento das Empresas da França), mais uma vez, Martinez tenta apagar o fogo no meio do surto social de descontentamento generalizado contra o governo. É que a raiva entre muitos setores de estudantes e trabalhadores só aumenta na esteira das crescentes provocações do Presidente da República. Por essa razão, as declarações de Martinez se tornam realmente escandalosas no contexto da situação que está ocorrendo atualmente na França.

Isso ocorre porque a CGT constantemente joga com um discurso duplo. Considerando que, com o aparente argumento esquerdista de que “todos os presidentes se assemelham” – isso é verdade, todo presidente da democracia burguesa responde aos interesses capitalistas – o que ele realmente faz é condenar as ações legítimas de protesto dos trabalhadores de seu sindicato para colocar-se ao lado do governo, tentando evitar por todos os meios que a governabilidade de Macron seja posta em questão.

De acordo com Martinez, os trabalhadores deveriam se contentar em propor uma série de reivindicações e projetos positivos, mas sem chegar, sob qualquer ponto de vista, a questionar as próprias raízes do sistema capitalista, ou propor qualquer coisa que esteja fora dos limites da governabilidade burguesa. Nesse sentido, a burocracia sindical sempre atua no movimento pendular de administrar a ira dos trabalhadores, colocando-se como combativa sempre que tem a oportunidade de se diferenciar do governo, mas apelando para o diálogo e o acordo com a presidência nos momentos em que é mais do que o necessário para endurecer as medidas de luta.

Esta ação é evidenciada como extremamente prejudicial aos interesses dos trabalhadores, tendo em vista os acontecimentos do ano passado. O uso desse “diálogo social” com o “presidente dos ricos” resultou em um retrocesso retumbante para os trabalhadores em termos do avançada flexibilizadora de Macron. A estratégia, em primeiro lugar, de apelar para o diálogo e depois de encenar dias de mobilizações sem continuidade, conseguiu isolar as diferentes lutas em andamento, aprovando as leis de flexibilização trabalhista sem grandes inconventes para o governo.

Atualmente, nos momentos em que o conflito dos estudantes e dos ferroviários se aguça, na luta contra a seleção universitária e a reforma da privatização da SNCF, Martinez opta por colocar seus trabalhadores na mídia e reclamar que a ministra dos transportes, Elisabeth Borne, não dá ouvidos aos sindicatos e que o governo não quer falar com ele. Parece que Martinez ignora que este não é o momento para o diálogo, ou melhor, parece que a burocracia sindical em seu papel de mediador servil aos interesses dos de cima, explicita suas intenções de colocar panos frios numa situação que está cada vez mais quente com a decisão do governo de reprimir brutalmente todos os setores que estão ativamente lutando contra as reformas.

Por isso mesmo, não há diálogo possível com o governo Macron que descarregou um enorme arsenal repressivo sobre os camaradas da comunidade autogerida de Notre Dame des Landes. Não há diálogo possível com o governo Macron que na última semana decidiu despejar à força as universidades ocupadas de Paris Nanterre, Paris Sorbonne e Paris Tolbiac com repressões brutais das CSR (Compahias Republicanas de Segurança), polícia de elite, armados até os dentes, que deixaram jovens gravemente feridos e que se encontram hospitalizados.

É por isso que o nosso projeto não é apelar para o governo, porque o governo não quer dialogar, quer destruir os direitos sociais de todos os trabalhadores e impô-lo com base em uma brutal repressão contra todos os manifestantes. Por essa razão, nosso projeto é derrotar Macron com a greve geral. Nossa batalha sim que é ffazer cair o governo de Macron, com a mobilização nas ruas, porque nada de bom se pode esperar de um presidente dos ricos, que governa por uma elite minoritária, fazendo uma enorme transferência de recursos dos trabalhadores para os empregadores e impondo-o de uma virada autoritária repressiva. Nosso projeto é acabar com as políticas reacionárias do governo e, claro, queremos que Macron renuncie e vá embora, para acabar com esse programa de destruição social e abrir a perspectiva de um governo diferente, no qual eles estão os trabalhadores que governam, com base em seus próprios interesses e necessidades.

Com suas medidas repressivas e com o ódio de classe com que se declara publicamente, Macron continua provocando trabalhadores e jovens, que saem para defender seus direitos, enquanto militarizam cada vez mais o espaço interno e, na política externa, apóia efusivamente o bombardeio selvagem do povo sírio nas mãos do Presidente Trump dos Estados Unidos. É por isso que o nosso projeto é derrotar Macron, porque é  um governo que destrói as conquistas sociais, reprime combatentes e promove a guerra imperialista é simplesmente intolerável.

Neste momento, a tarefa imediata para os trabalhadores, a apenas uma semana do 1º de maio, é aprofundar as medidas de luta, apelando para as medidas históricas da classe trabalhadora e redobrando o esforço da mobilização, juntamente com as tomadas de universidades e fábricas. É por isso que exigimos que a CGT de Martinez convoque imediatamente uma grande greve geral para derrotar o governo Macron e seu programa de ataque global a todos os trabalhadores.

Traducão: José Roberto