No domingo 23 de junho se realizou a Marcha da Diversidade em San José. Esta foi a décima edição e, ano a ano, aumenta a quantidade de pessoas que a frequenta
Redação Costa Rica
Em termos gerais, a Marcha da Diversidade é muito progressiva, pois reflete uma tendência democrática contra a homolesbobitransfobia entre um amplo setor da população, principalmente entre a juventude.
Desta vez se estima que 500 mil pessoas lotaram as ruas da capital, uma cifra altíssima se considerarmos que a população total da Costa Rica apenas supera um pouco os cinco milhões.
Por outro lado, o crescimento da marcha é uma resposta ao avanço dos setores e partidos conservadores nos últimos anos. Desta forma, os discursos de ódio proferidos pelos partidos evangélicos e outros setores de esquerda reacionária, tem como resposta uma onda de reivindicações democráticas massiva.
Em outro aspecto, não podemos deixar de apontar o significado que tem essa jornada em um país de tradição católica, onde inclusive o Estado ainda se define como confessional. Tomar as ruas para expressar de forma aberta sua orientação sexual, é um ato libertador para muitas pessoas que, cotidianamente, afrontam situações de discriminação em suas famílias, locais de trabalho e estudo, etc.
Os limites da mobilização
Por outro lado, é preciso pesar os limites que tem esta marcha. Em primeiro lugar destacamos seu esvaziamento histórico-político pois nunca se fez referência à luta de Stonewall de 1969, quando a comunidade LGBTIQ (em particular os setores populares mais expostos à violência estatal) protagonizou um motim contra a perseguição e o assédio policial.
Nada disso é mostrado pelos meios de comunicação, nem antes e nem durante a Marcha da Diversidade, pois vai na contramão do discurso “light” pró direitos humanos com que a organização dirige a convocatória. Isso faz sentido, pois reivindicar uma jornada de luta protagonizada por travestis afroamericanos, latinos e de setores populares, contrasta com a imagem de movimento LGBTIQ de classe média que imprime a organização.
Em síntese, é uma jornada que cada dia está mais pintada de “capitalismo rosa”, onde marcham embaixadas de países imperialistas (como a de Israel), empresas transnacionais exploradoras da classe trabalhadora e figuras políticas do estabilishment burguês criollo, para figurar na imprensa como pró-direitos humanos. Inclusive nesta edição participou o presidente Carlos Alvarado, o mesmo que há poucos meses reprimiu a greve contra o Combo Fiscal, impôs o IVA [imposto] sobre a cesta básica (ao mesmo tempo em que outorgou anistias tributárias a grandes empresas) e atualmente apoia um projeto de lei que visa acabar com o direito à greve no país.
O capitalismo e a homolesbobitransfobia não dão mais!
Através do Novo Partido Socialista (NPS), Vermelhas e Já Basta nos somamos a marcha com uma bela e dinâmica coluna. Nossa bateria agitou por mais de três horas contra a homolesbobitransfobia, o patriarcado e as igrejas. Também levantamos as consignas pelo Estado laico e aborto legal, assim como pela unidade com as lutas da classe trabalhadora.
É necessário aprofundar as tendências democráticas e progressivas do movimento LGBTIQ no sentido anticapitalista, distanciando-se das tentativas de cooptação do movimento pelo capitalismo rosa. As lutas dos setores oprimidos devem unir-se a luta contra a exploração de classe, para mudar tudo e refundar a sociedade sobre novas bases sociais.
Tradução: Gabriel Barreto