Balanço da eleição para o DCE da USP

    O cenário político no qual ocorreu a eleição: ofensiva de Rodas e resistência do movimento Por Antonio Soler e Carlos E. Ranea A resistência dos estudantes à nova onda de ataques privatistas/repressivos da reitoria se iniciou com a indignação espontânea dos estudantes e gerou duas ocupações e uma das greves estudantis mais importantes dos últimos tempos. Este foi o pano de fundo que emoldurou a luta dos estudantes iniciada em 27 de outubro contra a prisão de três estudantes, efetuada pela presença da polícia militar no interior da universidade.

     

    Desta forma, o resultado da última eleição da USP não pode ser analisado apenas dentro dos limites do próprio cenário eleitoral, mas deve necessariamente incorporar a situação política gerada após o intenso processo de mobilização que, como já apontado, contou com duas ocupações e com uma greve estudantil que se estendeu até o dia 8 de março de 2012. Ou seja,devemos levar em consideração a luta contra a política privatista e repressiva da reitoria da USP e da resistência dos estudantes durante últimos meses de 2011 para entender por que houve uma votação expressiva nos setores que se colocavam de maneira crítica ao projeto de Rodas e uma flagrante derrota do setor reacionário dos estudantes, representado pela chapa Reação, que era diretamente apoiada pela reitoria, pelo governo do estado de são Paulo e seu partido (PSDB).

    A dura luta contra o avanço das políticas privatistas e da repressão a serviço deste avanço no interior da universidade, em um cenário nacional de defensiva do movimento dos trabalhadores e de aumento generalizado das políticas de criminalização de todo os movimentos de resistência, que custou (dentro do movimento estudantil) prisões, processos e possíveis eliminações de estudantes, foi decisiva para a derrota da direita organizada em torno da chapa Reação. Sem essa luta de milhares de estudantes, e a experiência concreta que a mesma possibilitou contra a política da reitoria, certamente, o resultado eleitoral teria sido outro. Apesar do falso alarde de que a direita poderia ganhar as eleições – o que serviu de justificativa para a capitulação política da MNN (Movimento Negação da Negação) –, a chapa Reação obteve apenas 20,1 % dos votos.

    Além da evidente influência das ocupações e da greve sobre o resultado eleitoral, outro fato político sobre o qual não se pode tergiversar, foi o papel que cumpriu cada um dos setores envolvidos direta ou indiretamente nesse processo. Neste sentido, cabe realizar uma breve análise da evolução política no interior da universidade, ou seja, sobre quais foram os principais fatores que determinaram essa evolução, bem como qual foi a política dos setores mais ativos e organicamente incorporados nas demandas e métodos necessários de luta do movimento estudantil no desenvolvimento desse processo.

    O balanço político da gestão Todas as vozes:
    entreguismo da direção do DCE e resistência dos estudantes

     

    Durante todo o ano de 2011, a gestão Todas as Vozes (PSOL–MES[1]), apoiada sempre pelo seu fiel escudeiro, o PSTU, se negou até em convocar assembleias para discutir questões como os processos contra os estudantes e trabalhadores. Nas duas assembleias realizadas no primeiro semestre, essa gestão tratou de implodir uma delas, além de simplesmente não encaminhar absolutamente nada de concreto contra os ataques da reitoria.

    Quando os estudantes processados – e no final do ano, eliminados –, por ocasião da ocupação do térreo do bloco G, reivindicaram uma assembleia, os integrantes da gestão Todas as Vozes disseram literalmente que não iriam convocar uma assembleia porque este era um procedimento perigoso dentro da conjuntura que vivia a universidade de São Paulo. Semanas antes do dia 27 de outubro, com o convênio com a PM já em vias de ser assinado, a gestão Todas as Vozes convocava um ato para discutir abstratamente a democracia no interior da universidade. No dia 27 de outubro, a mesma gestão realizou um cordão de isolamento para a polícia levar os 3  estudantes presos por suposto uso de entorpecente dentro do estacionamento do prédio da história, fato assistido por quase mil estudantes e negado pelo PSTU (Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado), mesmo este partido presenciando os fatos.

    Na assembleia do dia 1, que decidiu pela ocupação da reitoria, este setor (PSOL e PSTU) tentou implodir a assembleia e dividir o movimento. Durante toda a ocupação, em vez de apoiá–la e de se valer dela como forma para ampliar o campo das lutas, a gestão Todas as Vozes, diante da repressão, fez coro com a reitoria, imprensa e classe dominante contra o movimento, fato nunca criticado pelo PSTU, que apesar de não se colocar abertamente contra a ocupação teve uma política oportunista de apenas intervir nas assembleias sem colocar nenhum esforço político no sentido de construí–las.

    A campanha de calúnias e tentativas de desmoralização levadas a cabo pela imprensa, reitoria e, pela própria anterior gestão Todas as Vozes do centro acadêmico dirigido na época pelo PSOL (particularmente composto pelo MES (Movimento Esquerda Socialista), corrente política que compôs com o PSTU a chapa Não vou me Adaptar) contra os estudantes que estavam à frente da ocupação da reitoria não foi suficiente para impedir, como queria a reitoria, a indignação dos estudantes da USP diante da invasão da universidade pela tropa de choque no dia 8 de novembro. Demonstrando ainda um potencial de combatividade, os estudantes em uma assembleia com mais de 3000 pessoas decretaram greve.

    Após a repressão à ocupação da reitoria, PSOL e PSTU, em uníssono, estiveram contra decretar a greve pela libertação dos estudantes presos e contra os processos, política que foi rechaçada por ampla maioria durante a assembleia. No final do ano, mesmo sob ameaça da eliminação de estudantes e novos ataques privatizantes e contra o movimento, fatos que infelizmente se concretizaram na eliminação de seis estudantes, no fechamento do espaço do DCE (Diretório Central dos Estudantes) pela reitoria, na privatização do circular (linha de ônibus anteriormente gratuita), e na “catracalização” do restaurante universitário, dentre outros, o bloco ora criticado teve a política de propor o fim da greve, isto apenas para ficar nas posições políticas mais escandalosas desse setor. Contraditoriamente, esse é o balanço político no processo de luta deste setor que hoje está à frente da gestão do DCE.

    Durante esta greve, o que na verdade já havia sido começado no decorrer da ocupação da reitoria (apesar, como dito anteriormente, de toda a propaganda contrária feita pela imprensa e pela anterior gestão do DCE (PSOL)), foi ficando cada vez mais claro para os estudantes, sobretudo sobre qual é o verdadeiro papel da PM no interior da universidade. Também, fatos como a agressão de um aluno negro no interior da universidade por um tenente da PM também ajudaram a esclarecer a questão e fazer com que a opinião oposta à presença da PM e uma crítica crescente ao endurecimento do regime interno da universidade se desenvolvessem criando, inclusive, um movimento mais amplo entre a intelectualidade pela democratização da universidade.

    Enfim, a greve dos estudantes foi fundamental para pautar de forma crítica o projeto de privatização da universidade e o seu mecanismo de implantação: a repressão direta ao movimento.  A greve que, apesar de não se sustentar no início de 2012 por uma série de razões (principalmente por não superar o seu isolamento em relação às demais categorias) por um lado acabou restrita aos estudantes e com uma direção que não apostou a fundo em sua continuidade e superação do isolamento em relação às demais categorias, e por outro, foi crucial para projetar uma percepção crítica de uma ampla camada dos estudantes sobre o que ocorre na universidade, fato que foi decisivo para a derrota da direita na eleição do DCE e, também para uma votação minoritária do setor que esteve à frente dos processos mais avançados de luta na universidade.

    É esta a contradição que é importante nos dedicarmos a compreender. Ao não encarar essa contradição de frente, todos os setores que se dedicam a fazer um balanço do resultado eleitoral, principalmente o seu significado – que têm determinantes políticos e alcances que evidentemente transcendem ao círculo do movimento estudantil – para a continuidade da luta contra rodas, acabam não tirando as devidas conclusões.

    Radicalização da luta dos estudantes e crise de representatividade política

    A vitória eleitoral da chapa Não Vou Me Adaptar se insere dentro de um fenômeno mais geral denominado crise de representatividade política e que não é apenas local.

    Em que pese o fato de a classe trabalhadora ter um longo caminho para recolocar de pé um projeto socialista capaz de superar definitivamente o capitalismo, a configuração do cenário econômico e político a partir da crise aberta em 2008 e a onda de rebeliões que tomaram conta do planeta desmente a tese do “fim da história”, que foi moda durante as últimas décadas. O capitalismo passa a ser amplamente questionado, particularmente na sua forma puramente especulativa, a classe operária cresce numericamente e em importância política, a sua participação nos processos de luta quando a burocracia não consegue obstruir sua força, é fator decisivo para o resultado do processo, vide o papel que tiveram os portuários no Egito. 

    O processo de radicalização da luta em termos planetários sofre com o fenômeno da crise de representatividade política à altura da ação prática que desenvolvem os trabalhadores e a juventude. Apesar de derrubarem governos, protagonizar greves gerais, tomar praças durante longo período, e estarem à frente de guerras–civis, falta–lhes direções e organizações políticas à altura, e isso se expressa inclusive nos processos eleitorais posteriores às suas lutas, vide caso do Egito onde após uma rebelião que derrubou o antigo governo/regime, hoje o mais provável é que o governo seja composto por uma organização conservadora, a Irmandade Mulçumana.

    Na medida em que as circunstâncias políticas os colocam diante da necessidade de dar respostas aos ataques às suas condições de existência (política ou econômica) os trabalhadores e a juventude as exercem com as ferramentas políticas que dispõem, não têm tempo para criar uma direção ou organizações à altura das tarefas, e isso acaba fazendo com que o resultado da sua própria luta se coloque de maneira também mediada, ou seja, não podem com uma direção e organização políticas não revolucionárias ir para além dos limites do capitalismo ou mesmo do estado burguês.

    No caso da luta na USP, vivido durante o segundo semestre de 2011, e mesmo depois com o resultado eleitoral verificado, um fenômeno similar se estabeleceu. É evidente que as ocupações e a greve não conseguiram ainda barrar o projeto privatista em curso na universidade e que, para isto, uma série de limites observados na luta do ano passado devem ser superados, mas, por outro lado, também é possível afirmar que os estudantes durante esse período realizaram um importante ensaio em que, apesar da violenta repressão, não saíram derrotados de forma que não possam retomar a luta, inclusive, em um patamar superior. Mas a questão aqui é que esse processo de luta, além de imediatamente não ter sido vitorioso, ocorreu tendo que enfrentar a reitoria e, também, em muitas ocasiões, a própria direção do DCE.

    Este processo de luta, inclusive a greve, não encontrou uma direção imediata na gestão do DCE ou nas organizações de esquerda com o maior número de ativistas (PSOL e PSTU) organizados e com maior estrutura, mas nas organizações revolucionárias e nos independentes radicalizados que, apesar de ainda terem um peso numérico e uma presença nos centros acadêmicos menor do que os que compõem a Não vou me adaptar, tiveram um papel decisivo. Com o fim da greve e a volta a “normalidade” (colocamos entre aspas porque estamos em meio à continuidade do processo repressivo levado a cabo pela reitoria) na disputa eleitoral passa a ter mais peso os elementos estruturais. Mas, por outro lado, não podemos desconsiderar o papel que teve a mobilização para que nas eleições do DCE, de 2012, importantes mudanças ocorressem: maior número de votos (com uma variação de cerca de 8 mil para 13 mil votos) e uma votação massiva nas chapas de esquerda (cerca de 81%).

    Contudo, o centro do fenômeno que queremos discutir é o de que, ao contrário do que afirmam os representantes da chapa Não vou me adaptar, o resultado eleitoral não representa diretamente a luta concreta dos estudantes durante o segundo semestre de 2011, e também não podemos dizer que não é um reflexo dela. Afirmar isto é querer forjar, na verdade, um resultado bastante distorcido da realidade.

    As ocupações e a greve dos estudantes, enquanto estavam em curso, não foram dirigidas pelos setores que obtiveram a vitória eleitoral. Pelo contrário, PSOL e PSTU se posicionaram o tempo todo contra o avanço do movimento, chegando até mesmo à tentativa de implodir uma assembleia quando perceberam que a proposta de ocupar a reitoria poderia ser vitoriosa, além disso, dividiram o movimento após a ocupação, fazendo coro com a imprensa burguesa e com a reitoria e, mesmo com a invasão da tropa de choque no dia oito de novembro, colocaram–se contra a greve em uma assembleia de mais de três mil estudantes. Uma vez a greve em curso, atuaram no sentido de enfraquecer o comando de greve eleito na base e, também, as deliberações que iam ao sentido de superar o isolamento do movimento e de combater os ataques de Rodas durante o final do ano.

    Não podemos desconsiderar que, principalmente com o fim da greve, os setores mais moderados da universidade, mesmo nos cursos mais mobilizados ganham mais força, em segundo, que o peso de uma eleição no primeiro semestre, em que milhares de novos estudantes votam sem ter a experiência política com as forças atuantes na universidade, o peso nas eleições que têm os centros acadêmicos e os aparatos nos quais se constituem e, por último, na ainda pouca inserção das organizações revolucionárias.

    Balanço triunfalista a serviço da política de conciliação

    Tendo observado todos estes fatores, antes de concluir com os desafios para o movimento estudantil no enfretamento a situação atual, passemos, portanto, a verificar o balanço feito por algumas organizações. Vamos analisar dois casos, PSTU e LER–QI, não que as demais posições não tenham importância, mas porque acabam sendo matizes dessas posições da qual nós, do PRÁXIS,  temos uma visão totalmente distinta. 

    Até o momento o setor que apresentou um balanço mais extenso e também mais ideologizado – em muitas passagens até mesmo falsificado – foi o PSTU, em um artigo publicado no dia 7 de abril[2]. Este é um texto que pelo conjunto de falsificações que apresenta, por ser um texto que esta corrente está fazendo circular nos países que tem alguma inserção e pela vanguarda nestes países muitas vezes não ter acesso a informações de primeira mão sobre os fatos analisados, tal fato merece a composição de uma crítica que abarque os seus principais aspectos.

    Com o final da greve, defendido pela Não vou me adaptar, a situação lhes cai mais favorável. Precisamos analisar alguns aspectos para compreender este fenômeno contraditório. O movimento – que os mesmos estavam contra e depois foram obrigados a adaptarem–se de forma a tentar controlá–lo burocraticamente – tratou de criar uma situação de maior politização pela esquerda dos estudantes.  Como herança dos anos sem mobilização, esses setores herdaram uma situação favorável em relação à presença nos centros acadêmicos, posição que claramente os favoreceu durante o processo eleitoral. Toda uma “geração” de estudantes entrou na universidade sem poder ter a experiência das políticas oportunistas desse setor, dessa forma a propaganda de que eram a única alternativa em relação à direita foi facilitada.

    O que não se pode considerar é que o resultado eleitoral tenha em si significado uma “importante derrota política ao nefasto projeto privatista–elitista e repressor impulsionado por Rodas, o PSDB e os poderosos meios de comunicação burgueses”.[3] Mais uma vez o PSTU muda totalmente de critério para justificar a sua política oportunista de se ligar carnalmente com os traidores do MES. No texto de novembro de 2010, afirma que “o tamanho do peso social da direita na universidade não pode ser reduzido à sua expressão eleitoral em uma eleição do movimento. A opinião política de direita não se expressou em votos, mas em apatia e abstenção. Mas se a direção do DCE tiver a ilusão de que, por isso, derrotou a direita, vai armar a derrota do movimento e nada mais. O movimento precisa saber que é a direita quem está na ofensiva e, por isso, é necessária a unidade para lutar”[4].

    Como se pode ver o critério utilizado anteriormente é muito distinto, trata–se de uma organização casuísta em relação aos critérios políticos e capaz de construir qualquer ideologia para tentar justificar os seus desvios políticos. Atualmente, portanto, se assiste a um desvio político prolongado no sentido do mais deslavado oportunismo[5].

    Ainda sobre o significado da disputa eleitoral, é importante fazer algumas observações críticas. A eleição de uma chapa é determinada por uma série de fatores e reflete um momento da consciência política média de uma determinada categoria. No caso do movimento estudantil ou dos setores que não estão diretamente ligados à produção, é necessário que alguns cuidados metodológicos sejam tomados para que o seu resultado não seja entendido de forma equivocada. No seu balanço, e ao fazer uma crítica às posições da LER–QI (que iremos analisar em seguida), afirmam que “primeiramente, a ideia de que as eleições não têm relação com a realidade é equivocada. Inclusive as eleições burguesas, ainda que de forma distorcida, expressam a realidade política. Porém, inclusive descontando estas questões, se é verdade que as eleições não expressam nada da realidade, se estas nunca deixaram de ser uma “farsa”, para que, então, se dispuseram a tão irrelevante processo?”[6].

    É claro que todo o processo eleitoral, principalmente os que se dão no interior da democracia burguesa, com todo o peso econômico e ideológico da classe dominante, reflete de forma distorcida a realidade. O voto em urna mesmo nas eleições sindicais captam a consciência média dos trabalhadores, a posição dos setores mais avançados acabam ficando diluídas com esse mecanismo. Isto posto, o problema se complica quando argumentam que “muito mais equivocado é afirmar isto no caso de uma eleição para um organismo sindical de luta”[7], desconsiderando que o movimento estudantil tem uma especificidade ainda maior. Se mesmo no interior de uma fábrica existem categorias com desigualdades materiais e políticas, pois nenhuma categoria é homogênea, isto é ainda mais acentuado quando se trata de uma realidade como a da USP, onde participam da mesma eleição setores sociais ainda mais diversos e até antagônicos.

     A questão é que desconsideram em toda ou qualquer análise política que fazem o caráter poli–classista do movimento estudantil e mesmo da sua base, fazendo com que existam setores que estruturalmente assumam uma posição conservadora. Essa ruptura com um critério clássico com que se faz política no interior do movimento estudantil faz com que invariavelmente tenham uma política para a consciência média dos estudantes, o problema que essa consciência média dos estudantes no geral significa estar sempre contra o setor dos estudantes mais ativos. Este fetiche supostamente democrático de alcance de todos os estudantes muitas vezes faz com que sua linha aceite até mesmo giros programáticos profundos, como a unificação com um setor mais à direita dentro do Movimento Estudantil, isto é, o MES.

    De outro lado, também nos defrontamos com um critério triunfalista na posição a LER–QI. Esta organização, apesar de muito relutar em compor uma chapa independente do PSTU, só se convencendo durante a ocupação da reitoria, ao contrário do MNN, não capitulou a pressão do aparato eleitoral/oportunista. Mas acaba caindo na mesma lógica do PSTU ao afirmar que “o resultado eleitoral – com a “Reação” com pouco mais de um terço dos votos da chapa vencedora – deixou clara a fraqueza da política desses setores e da Reitoria entre os estudantes. É uma mostra muito mais significativa do que as pesquisas de opinião da grande imprensa de que os estudantes rejeitam a política de Rodas”[8].

    É fato que Rodas não sai vitorioso do processo eleitoral, mas também é fato que a continuidade de seus ataques não dependem de qual força política está a frente do DCE, basta ver qual foi a sua política diante da gestão Todas as Vozes, uma gestão absolutamente conciliadora (que afirmou literalmente ter medo de assembleias) que simplesmente ajudou a desarmar os estudantes para a luta contra rodas, que teve que ser feita, apesar desta direção do DCE. 

    Mas, afirmações de triunfo político contra Rodas, apesar de poderem ter um efeito psicológico animador diante da ofensiva brutal contra o caráter público da universidade e contra toda forma de organização autônoma, devem ser criticadas pelo seu aberto triunfalismo, que pode gerar uma falsa percepção sobre a realidade. É fato que a derrota da chapa Reação foi uma vitória eleitoral e política e que Rodas/PSDB tinham na chapa Reação um representante político, assim a sua derrota tem um significado político importante no sentido de que os estudantes, principalmente os setores críticos ao projeto de Rodas e dispostos a levar a luta contra o conjunto dos seus ataques tenham mais clareza das suas forças. Afirmar que o projeto de Rodas não tem força alguma entre os estudantes (LER–QI) desarma politicamente da mesma forma que afirmar que o resultado eleitoral foi uma derrota política para o projeto privatista de Rodas (PSTU), ambas as caracterizações não dão conta da realidade. Nem é verdade que o projeto de Rodas está derrotado entre os estudantes e nem que as eleições o enfraqueceram em si.

    O que podemos dizer, sem impressionismos políticos, é que a luta do ano passado foi fundamental para desmistificar o projeto de modernização reacionária da universidade, como também o conjunto do seu modus operandi, bem como para colocar no devido lugar a representação política dos setores mais ativos da universidade com a derrota da chapa Reação. Ficou, ademais, claro para quem tinha dúvidas que eleitoralmente a direita ainda não é uma opção majoritária para dirigir o DCE. Qualquer inferência que transcenda isso se situa no campo da especulação e não pode ser base real para a ação política, sob pena de não verificarmos o tamanho real dos nossos desafios. Por outro lado, a derrota definitiva deste projeto exigirá um combate político com uma intensidade, capacidade de articulação entre os setores e uma direção política que ainda está por se construir.  

    Continuam as imprecisões/falsificações do PSTU. Vejamos: “Rodas e o PSDB entendem que, para poder entregar a USP para mãos privadas e colocá–la inteiramente ao serviço das multinacionais, precisam desmoralizar e derrotar o movimento estudantil e setores sindicais combativos”[9].

    É fato que a derrota da chapa Reação é favorável a luta mais geral contra rodas. Mas, de maneira oposta ao que afirma o balanço do PSTU, isto é, de que a vitória contra a reação foi fundamental para “manter o DCE como um instrumento democrático para a luta dos estudantes, Independente do reitorado e do governo”. Ora, esta última afirmação está totalmente descolada da mais recente história de luta dos estudantes na USP, pois nem democracia (implosão de assembleias movidas pelo PSOL e pelo PSTU) e muito menos independência foram garantidas na última gestão.

     O problema que está colocado é que não há nenhuma garantia de que a nova direção do DCE irá significar uma ruptura com a política da gestão anterior que dentre suas traições negociou com a reitoria nas costas do movimento a reintegração da ocupação da sede administrativa da FFLCH, dentre outras políticas não só oportunistas, mas que rompem até com a própria linha de classe. É improvável que a composição PSOL–PSTU dê repostas políticas à altura dos ataques de Rodas, na verdade esse bloco sempre esta atrás das respostas mais contundentes que amplos setores dos estudantes deram no último período.

    De qualquer modo, é necessário colocar a derrota da chapa Reação e a vitória da Não Vou Me Adaptar no seu devido lugar, ou seja, trata–se de uma derrota da direita e da vitória do setor que tem desenvolvido uma espécie de “salada política” que combina elementos de traição com elementos de oportunismo. Então, a conclusão que se pode tirar é a de que os desafios políticos, mesmo no campo da representação política do movimento estudantil através da sua entidade, estão longe de ser resolvidos, e não há nenhuma garantia (vide o que ocorreu em 2011), que esta chapa politicamente estará à frente do movimento. Assim temos que nos preparar para a hipótese mais provável de que o movimento terá novamente que deixar a direção do DCE para trás para poder desenvolver sua mobilização.

    Unidade da esquerda versus frente oportunista

    Em relação ao acerto da política de ampla unidade de esquerda que o PSTU reivindica em vários momentos do seu balanço e da política sectária dos demais setores é oportuno que façamos algumas considerações também.

    Primeiramente, no que tange a caracterização de “esquerdismo” do qual o PSTU acusa toda e qualquer posição opositora pela esquerda, é necessário esclarecer que, além desta organização se apropriar da teoria de Lênin de maneira parafrásica e superficial[10], o PSTU parece não ter concebido sobre a totalidade dos métodos de luta, caracterizados pelo emprego de todas as táticas, legais e ilegais (demonstrando, portanto, que não se pode estabelecer a luta contra o capitalismo munindo–se apenas de meios legais, mas que se deveria constantemente procurar mobilizar as massas operárias e, em nosso caso, estudantis), e reiterados incessantemente dentro da obra “A doença infantil do “esquerdismo” no comunismo,” por Lênin[11].

    Nesse sentido, o que se percebe é que além da limitação do PSTU e PSOL com relação ao emprego de todas as táticas de luta, este setor tem a concepção de uma supervalorização das táticas legais (que se dá apenas, segundo sua perspectiva, a partir do controle do aparato do DCE) em detrimento de uma efetivação de outras táticas, como por exemplo, ocupações ou greves[12].

    Apontado isto, é preciso dizer que, como faz toda a burocracia quando está à frente de qualquer aparato, o PSTU prossegue sua frágil argumentação fazendo uma “condenação” moral contra os grupos por quererem se autoconstruir, como se essa vontade em si fosse condenável e como se qualquer corrente não tivesse a sua construção como objetivo permanente. A questão nesse tema não é o direito que qualquer corrente política tem de se construir, mas em que política essa construção se apoia. Afirmam, então, que “pouco importava se a chapa de Rodas e o PSDB triunfavam, pois o central era se diferenciar a qualquer custo do PSTU e se apresentar como os mais “radicais” e que “a verdade é que ninguém, a não ser aqueles que a todo custo se negam a reconhecer o enorme acerto que significou uma política de unidade da esquerda contra a chapa direitista, pode negar que toda a ofensiva ideológica de Rodas e da mídia burguesa paulista criou condições muito favoráveis para o avanço e fortalecimento da direita no interior do movimento estudantil.”[13]

    Nas suas falsificações o PSTU tenta ficar com a bandeira de ser o único setor que quis construir uma unidade de esquerda contra a direita. Outros setores também convocaram uma frente de esquerda nas eleições que se avizinhavam e ainda estavam marcadas para o final de 2011. Durante as primeiras reuniões para discutir aliança eleitoral, inclusive dentre os que vieram a compor a chapa 27 de outubro, a proposta de se conformar uma frente de esquerda foi apresentada ao PSTU e esse se negou sistematicamente a aceitar. A diferença que já se apontava era com que compor essa frente de esquerda nas eleições e de que “esquerda” se tratava, pois uma frente oposicionista, pelo fato incontornável de que a gestão Todas as Vozes, mesmo sem que todas as suas traições fossem desenvolvidas ou conhecidas, já naquele momento apresentava um balanço político desastroso à frente do DCE, não possibilitava aliança eleitoral com esse setor.

    É “curioso” que em um texto recente, após a eleição do DCE para a gestão de 2011, o PSTU que foi derrotado pelo PSOL (principalmente pelo MES) se utiliza de um critério bastante distinto para julgar o resultado eleitoral daquele ano, afirmam que “durante todo um pleito, submetido a todo esse controle burocrático, a agitação mais permanente do MES entre os estudantes era de que o ‘PSTU estava fazendo o jogo da direita’, porque se posicionava contra a atual gestão do DCE, quando havia chapas de direita inscritas”[14]. Dizemos curioso porque é exatamente essa linha de argumentação que agora o PSTU está usando para tentar deslegitimar a esquerda revolucionária. Por que será que o PSTU mudou de forma tão abrupta de posição em relação à eleição anterior? Existem várias hipóteses, dentre as quais uma experiência política com o objetivo de ir criando condições para outros processos eleitorais com o MES–PSOL e, é claro, a partir sempre uma lógica oportunista. Hipóteses nossas apenas? Mas, o fato é que a visão dessa organização mudou brutalmente nos últimos anos e, como se vê, para pior.

    No dia 27 de outubro, havia uma reunião para discutir a formação de uma frente eleitoral de esquerda com todos os setores. No entanto, neste mesmo dia, ocorreu a prisão dos 3 estudantes por suposto porte de maconha, o que desencadeou também a luta espontânea contra a polícia, protagonizada por centenas de estudantes. Foi nessa ocasião que o PSOL fez o cordão de isolamento para polícia prender os estudantes.  Depois dessa clara traição, que o PSTU tenta apagar da história, ao velho estilo estalinista, houve uma série de outros episódios que poderiam servir para que essa organização rompesse com a sua fixação pelo PSOL (particularmente MES que, além de sua política nefasta na USP, é a corrente do PSOL que mais a direita está, inclusive pela sua relação com a classe dominante – aceita apoio material da burguesia – e por sua política abaixo do reformismo). Mas não foi isso o que ocorreu.

    O PSTU teve tempo político, com as experiências do movimento com o PSOL–MES, para rever o curso da sua política eleitoral. Mas, fez uma clara opção política: aliança eleitoral, política e tática com o setor mais à direita da esquerda. Ao passo de que seria perfeitamente possível ter mudado o seu curso capitulador e construir uma chapa verdadeiramente de esquerda a partir de um duro balanço contra o MES, com um programa e métodos de enfrentamento direto e amplo contra a política de Rodas, a partir do respeito aos fóruns de democracia de base. Uma combinação política nesses moldes seria suficiente não apenas para derrotar a direita, mas também para que à frente do DCE se colocasse uma direção capaz de estar à frente das lutas e à altura dos atuais desafios.O discurso triunfalista feito pelo PSTU esconde o fato de que a sua aliança com o PSOL–MES nas eleições não era alternativa para derrotar eleitoralmente a direita no DCE, com um voto de esquerda independente. Juntar–se a 27 de outubro e a outros setores de esquerda era, na verdade, a única forma para que o resultado eleitoral pudesse significar uma saída de luta, independente e democrática.

    Aqui repetimos ao PSTU exatamente a pergunta que ele fez ao MES em novembro de 2010: quem queria realmente a unidade da esquerda no processo eleitoral de forma a permitir uma gestão de luta no DCE? A resposta é simples. O PSTU realizou uma profunda inflexão na sua linha política, desenvolveu um perfil político muito mais conciliador e vem se esmerando nas elaborações falsificadoras da realidade para compor com o MES. Cabe aqui outra pergunta, foi o MES ou o PSTU que mudou? Parece–nos que quem mais se deslocou politicamente foi o PSTU e, ressalve–se, para pior. 

    É esse um dos motivos do triunfalismo com o qual encara a vitória eleitoral, mas esta não tarda para dizer ao que veio, basta verificar qual é a forma como pensam nos desafios no qual estamos diante. Vejamos. Na conclusão do seu balanço afirmam que mantém “o DCE como instrumento de luta e não como apêndice do reitorado”. Esta afirmação, se bem observada, entretanto, apresenta uma contradição entre os seus termos, porque na verdade é necessário retomar o DCE para uma posição de luta que foi apagada pelas sucessivas gestões do PSOL e do PSTU. A parte tal afirmação equivocada realizada por esta organização, devemos ir ao ponto central da nossa crítica, ou seja, o de que o PSTU ainda afirma que o “movimento estudantil está em melhores condiciones para continuar a luta contra a ofensiva de Rodas–PSDB e em defesa da democracia e autonomia da USP, onde um ponto central é expulsão da PM da universidade”.[15]

    É claro que o movimento estudantil tem como tarefa central a expulsão da PM do campus como condição muito importante para derrotar o projeto de Rodas, mas verifica–se nesta e em outras declarações deste setor, que não captam de conjunto e não conseguem hierarquizar de forma concreta os problemas da luta contra a reitoria e seu projeto privatista. Uma das representantes desta organização (e, por conseguinte, desta posição), declara no jornal do campus, edição da primeira quinzena de abril, que “apesar de algumas pessoas serem as mesmas, é importante dizer que somos a chapa nova, que nunca aconteceu” e que o primeiro passo da nova gestão é “o DCE ser mais presente no cotidiano dos estudantes, o que seria concretizado por meio de debates e assembleias nos cursos”.

    Para nós, do PRÁXIS, é necessário ir muito mais a fundo no problema  da repressão aos lutadores e ao projeto privatista. A luta contra a repressão tem na questão da luta contra o convênio PM–USP (que só poderá ocorrer com a revogação deste convênio e com a expulsão total da polícia do interior da universidade) um tema permanente para a luta estudantil, e o mesmo acontece com a questão dos processos, do sistema de vigilância, da repressão ao movimento e da democratização da própria universidade como um todo.

    A luta contra os processos devem se materializar, no momento, na construção de uma ampla e militante campanha democrática pela suspensão de todos os processos, e pela reincorporação dos estudantes e trabalhadores que foram demitidos e eliminados, respectivamente. Com o início de novos processos, avolumados aos anteriores (verdadeiros tribunais de exceção com rito sumário), contra os estudantes que ocupavam a reitoria e a Moradia Retomada, e contra as lideranças sindicais com o objetivo de excluí–los da universidade até o final deste semestre, não podemos mais perder tempo, é hora de juntarmos todas as forças para derrotar a política de Rodas e da burocracia universitária, qual seja, a de impor um regime ditatorial no interior da universidade.

    Realizar uma campanha que articule a mais ampla denúncia contra o reitor e sua política de acabar com a luta política (oposta ao seu projeto privatista) no interior da universidade, em unidade com todos os setores do movimento social que enfrentam também um intenso processo de criminalização; este é o grande desafio. Uma campanha que combine um intenso processo de esclarecimento, com debates públicos, audiências no maior número de espaços, inclusive institucionais, apoio de intelectuais e figuras públicas é também muito importante. Essa campanha democrática deve ser realizada não apenas em âmbito nacional, pois o tema da repressão aos estudantes e trabalhadores na USP já é notícia em várias partes do mundo, e por isto, devemos lançar também uma campanha que atinja todas as organizações democráticas em outros países.

    No entanto, o ponto decisivo dessa campanha não são as atividades superestruturais. É necessário construir um forte calendário de luta pela base com a participação massiva de estudantes e trabalhadores em assembléias conjuntas, atos, passeatas e outras ações que visem criar novamente um ambiente de luta no interior da universidade e que recoloquem condições para organizarmos uma greve geral contra a repressão e a privatização da universidade. Esse será o primeiro grande desafio que o movimento enfrentará neste semestre, e pelo que tudo indica, a “nova” direção do DCE não será capaz de passar por este desafio. Mas, mais uma vez, como em momentos anteriores, os estudantes e as organizações combativas saberão se colocarem à frente da luta.

    [1] O MES é uma corrente ligada ao Movimento Socialista dos Trabalhadores (MST) que atua na Argentina e a outras organizações que se caracterizam pelo abandono quase que completo da política revolucionária.

    [2] Entre los dias 27 e 29de marzo se realizaron las elecciones estundatiles para…http://www.litci.org

    [3] Idem.

    [4] Eleições DCE–USP: burocratização e degeneração moral no movimento estudantil. 23 de novembro de 2010. http://www.pstu.org.br

    [5] Trotski, em “Los errores de los sectores de derecha de la Liga Comunista sobre la cuestion sindical” determina bem quais são os aspectos subjetivos que implicam práticas objetivas dos oportunistas: “ uma das origens psicológicas do oportunismo é uma espécie de impaciência superficial, uma falta de confiança no crescimento gradual da influência do partido, o desejo de ganhar as massas mediante a diplomacia pessoal. Disto surge a política de acordos de bastidores, a política de silêncio, de encobrimento, das renúncias, do adaptar–se a consignas alheias, e finalmente o passar–se totalmente a posições de oportunismo” ( Trotski, L. Los errores de los sectores de derecha de La liga comunista sobre la cuestio sindical, pág.27 In: Sobre los sindicatos. Ediciones Pluma, tradução livre).

    [6] Entre los dias 27 e 29de marzo se realizaron las elecciones estundatiles para…http://www.litci.org

    [7] Idem.

    [8] Mais de 500 votaram na “27 de outubro” que fez uma grande campanha militante”, 3 de abril de 2012. www. ler–qi.org.

    [9] Entre los dias 27 e 29de marzo se realizaron las elecciones estundatiles para…http://www.litci.org

    [10] Parafrásica, porque evoca algumas caracterizações de Lênin, sem mencioná–lo, mas também sem perceber a diferença histórica de contextos, efetivando assim, uma transposição mecânica de conceitos. E superficial porque se apropria de tais caracterizações sem um aprofundamento na totalidade dos conteúdos desenvolvidos pelo autor.

    [11]  Como dizia o próprio Lênin: “Sem dominarmos todos os meios de luta podemos sofrer derrota enorme – por vezes mesmo decisiva – se mudanças independentemente da nossa vontade na situação das outras classes põem na ordem do dia uma forma de ação na qual somos particularmente fracos”. (LENIN, V.I. A doença infantil do “esquerdismo” no comunismo, In: Obras escolhidas de Lênin, pág.333. Editora Progresso, Lisboa, 1979).

    [12] Neste ponto, cabe lembrar um aspecto da polêmica de Lênin com os “esquerdistas holandeses”, de onde se pode tirar uma importante lição sobre a hierarquia das táticas de luta: (…) “a ação das massas – por exemplo, uma grande greve [como, por exemplo, o PSTU podia ter almejado colaborar para a construção no ano passado, quando era crescente o movimento de greve] é sempre mais importante do que a ação parlamentar, e não apenas durante a revolução ou numa situação revolucionária.” (LENIN, V.I. A doença infantil do “esquerdismo” no comunismo, In: Obras escolhidas de Lênin, pág.307. Editora Progresso, Lisboa, 1979)

    [13] Entre los dias 27 e 29de marzo se realizaron las elecciones estundatiles para…http://www.litci.org.

    [14] Eleições DCE–USP: burocratização e degeneração moral no movimento estudantil. 23 de novembro de 2010. http://www.pstu.org.br.

    [15] Entre los dias 27 e 29 de marzo se realizaron las elecciones estundatiles para…http://www.litci.org.