Superar entraves burocráticos para derrotar contrarreforma da Previdência
ANTONIO SOLER
As manifestações da extrema direita do último domingo, 30/06, não foram maiores do que as realizadas anteriormente, mas não deixa de ser ponto de apoio do governo e das contrarreformas.
Apesar de ter sido convocada por movimentos com capacidade de mobilização, como MBL e Vem pra Rua, essas manifestações não foram numericamente superiores às realizadas no dia 26 de maio. As maiores ocorreram em São Paulo e Rio de Janeiro, mas também foram registradas em outros estados, em capitais e cidades médias, atingindo cerca de 70 municípios em todo país.
Do ponto de vista político, além da manutenção das bandeiras de ultradireita, da intervenção militar para resolver a crise e do governo Bolsonaro, da defesa da contrarreforma da Previdência, dos ataques a setores do Congresso/STF, o eixo central foi a da defesa do Ministro Sergio Moro e da condenação política de Luiz Inácio Lula da Silva.
Isso é assim porque a direita sabe que após as denúncias do site Intercept Brasil, que revelam trocas criminosas de mensagens entre Moro e agentes do Ministério Público e que comprovam o caráter ilegal e político de todo o processo que levou à prisão de Lula, torna-se irrefutável que em 2018 vivemos uma fraude eleitoral.
A soltura de Lula, a partir desse fato, pelo STF significaria o estremecimento de toda a ofensiva reacionária desde 2015 para impor um governo que pudesse levar a fundo o conjunto das contrarreformas, daí a unidade da maioria da direita em torno da defesa de Moro representadas nas manifestações de domingo.
Uma estratégia que unifique o conjunto dos explorados e oprimidos
A esquerda, os trabalhadores, a juventude e as mulheres têm demonstrado desde o início do ano grande capacidade de mobilização e disputa política nas ruas. Esse fator é fundamental para reverter a ofensiva, derrotar a “reforma” da Previdência e outros ataques em curso.
No entanto, a burocracia – sindical e política – que dirige a CUT, PT e outras organizações de peso desenvolve uma estratégia de conciliação. Ao invés de apostar centralmente na mobilização direta para derrotar a “reforma” da Previdência (ataque brutal e fundamental para se avançar em outras contrarreformas), aposta na negociação – aberta ou velada – com o Congresso para “amenizar” os seus efeitos.
Essa estratégia de conciliação não poderia ter outro resultado que não fosse o avanço de sua tramitação, tal como assistimos hoje com a aprovação do Relatório na Comissão Especial da Câmara dos Deputados carregado de brutais ataques: idade mínima de 65 anos para homens, 62 mulheres, contribuição de 40 anos para obter vencimentos parcialmente integrais, pedágio que aumenta o tempo para obter a aposentadoria e regras que reduzem o valor dos benefícios a partir de todas as contribuições realizadas e outros.
Além de não apostar na luta direta, ativa e independente dos trabalhadores, como visto na orientação da burocracia para a Greve Geral de 14/05, o lulismo – e as demais burocracias – também fazem outro estrago típico da sua orientação, que é o de separar a luta econômica da luta política. Podemos verificar isso de forma concreta na campanha que a burocracia lulista faz em relação à libertação de Lula, pois não articula a luta pela sua soltura com a luta contra os ataques imediatos aos trabalhadores e por uma saída política para a crise crônica desse governo. Estratégia da burocracia que desmobiliza, despolitiza a luta e não unifica a luta estudantil, que hoje está na vanguarda, com os demais setores, permitindo assim o avanço das contrarreformas.
É preciso fazer unidade de ação com a burocracia para derrotar os ataques do governo e dos patrões, mas essa unidade não pode ser desprovida de diferenciação, isso não ajuda a luta imediata e nem a formação de uma direção alternativa. Desta maneira, toda a esquerda socialista, a começar pelo nosso partido (PSOL), tem que combater essa orientação, denunciando os seus efeitos e exigindo outra orientação. De outra forma, nos manteremos em desvantagem em relação à classe dominante pela falta de pautas que unifiquem nosso movimento, o que se traduz na efetiva capacidade de derrotar a ofensiva reacionária, a contrarreforma da Previdência e outras que estão em curso nas ruas.
Com a aprovação da reforma na Comissão Especial, o governo e o Congresso querem aprovar ainda esse mês o relatório em primeira instancia na Câmara dos Deputados. Por isso, não podemos esperar para o mês de agosto a luta efetiva para reverter esse brutal ataque, como quer a burocracia que chama apenas para o dia 13 desse mês uma paralisação nacional. É preciso exigir que a burocracia jogue todo o peso para organizar um poderoso dia de luta em 12 de julho, a marcha a Brasília e ações efetivas nos estados.
Basta de conciliação com o Congresso!
Construir no 12 de junho um poderoso dia de Luta!
Derrotar a “reforma” da Previdência e todos ataques de Bolsonaro!
Pela libertação imediata de Lula!
Fora Moro, Bolsonaro e Mourão!
Eleições Gerais já!