Hoje, depois de mais de 6 anos da execução política de Marielle Franco (vereadora do PSOL no Rio de Janeiro) e Anderson Gomes (motoristas e assessor), uma operação da Polícia Federal prende os mandantes – ou parte deles – do assassinato que vitimou a vereadora em 2018. Mas questões relativas às circunstâncias desses assassinatos, o conjunto dos mandantes e as razões políticas ainda seguem sem resposta, por essa razão, a luta independente nas ruas segue sendo o mais importante elemento para que a investigação vá até o final.

ANTONIO SOLER

Além da prisão de Chiquinho Brazão (Deputado Federal pela União), Domingos Brazão (Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio) e Rivaldo Barbosa (Delegado de Polícia e o ex-Chefe de Polícia Civil do Rio), a operação contou com 12 diligências para apreender documentos e outras provas.

Essas prisões aconteceram depois que o ex-policial Ronnie Lessa, um conhecido miliciano e assassino profissional, foi denunciado pelo seu parceiro Élcio Queiroz (também ex-policial e miliciano que serviu de motorista para Lessa) como quem disparou os tiros que mataram Marielle e Anderson. Os dois assassinos foram presos em março de 2019 como executores, mas sem que os mandantes do crime político, em que pese vários indícios e suspeitas de quem conhece a realidade política do Rio, tivessem sido identificados nos inquéritos policiais.

Os irmãos Brazão já eram tidos como mandantes certos, mas a participação do Delegado Rivaldo Barbosa como mandante parece ser uma surpresa até para quem acompanhava milimetricamente as investigações, como é o caso dos familiares das vítimas. O que não está esclarecido ainda é o porquê mandaram matar Marielle, as hipóteses levantadas de que ela atrapalhava os negócios dos milicianos na zona norte do Rio não está por toda confirmada.

Um dado curioso de toda essa história é que, um dia antes do crime, Barbosa foi indicado por Braga Netto, general que era interventor federal do governo Temer e que depois da eleição federal de 2018 foi ministro de Bolsonaro e candidato a vice-presidente em sua chapa à reeleição em 2022, a Chefe da Polícia Civil do Rio. Assim, as suspeitas do envolvimento do bolsonarismo com esse crime, devido a toda a estrutura política miliciana que ascendeu ao governo federal a partir da eleição de Bolsonaro, recolocam-se como prováveis.

O avanço das investigações só foi possível graças à pressão dos familiares, movimentos e organizações política. Essa pressão, além de colocar a possibilidade de responsabilizar mandantes, executores e obstrutores dos inquéritos já identificados publicamente, possibilita avançar contra toda a estrutura político-criminosa da milícia que atua no Rio e no Brasil como um todo, esquema que tomou assento no governo federal a partir de 2018 com a eleição de Bolsonaro.

Queremos acabar essa nota com uma menção à família de Marielle e Anderson, mas também aos amigos, companheiros e militantes de vários movimentos e organizações – como a nossa e muitas outras – que não desistiram da luta por justiça. Mas também queremos aproveitar para colocar de forma solidária que sem tomar as ruas de forma independente dos governos, da justiça, dos militares e patrões de todas as esferas, não teremos justiça de fato para Marielle e Anderson e nem punição aos golpistas e genocidas que ocuparam o governo federal no mesmo ano da morte desses companheiros e que continuam a atacar os explorados e oprimidos.