Tese ao Congresso dos Estudantes de Geografia da USP
JUVENTUDE SOCIALISMO OU BARBÁRIE
Introdução
O Congresso dos Estudantes da Geografia e o conjunto dos estudantes da USP e das demais universidades estão diante de encruzilhadas históricas. Desde o fim da ditadura militar – quando os estudantes da USP tiveram um papel importante na luta contra a repressão – não enfrentamos uma situação como essa, que colocam tantos desafios políticos.
Temos pela frente a necessidade em unidade com a classe trabalhadora e todos os oprimidos de construir de forma ativa uma ampla mobilização capaz de colocar abaixo não apenas a reforma da previdência, mas toda a movimentação politica que faz o governo Bolsonaro para impor um regime politico que suspenda todos os direitos democráticos.
Por isso, afirmamos que os desafios são de natureza histórica, que requerem da nossa parte, por um lado, um profundo debate político e, por outra, dar uma resposta imediata ao verdadeiro cerco tático que representa a reforma da Previdência. Essa, na atual conjuntura é a batalha das batalhas, a qual temos que reservar um importante debate político em nosso congresso.
No entanto, a ofensiva desse governo de ultradireita com pretensões bonapartistas ocorre em vários sentidos, passa por um ataque fulminante contra as universidades e a educação em geral, contra a juventude negra e periférica, contra os sem-teto, contra os povos indígenas, contra as mulheres, contra os LGBTQ e etc. Por isso, acreditamos que o debate conjuntural e político é essencial para organizar nossa atuação e a do nosso Centro Acadêmico.
Nesses tempos difíceis, que exigem cada vez mais outra estratégia – que se apoie na mobilização constante, organização independente e avanço da consciência classista -, com ataques constantes a todos oprimidos e explorados é preciso superar pela esquerda a orientação política dada ao movimento estudantil pelo lulopetismo.
É decisivo nessa conjuntura discutir a orientação do movimento estudantil também em âmbito do nosso próprio centro acadêmico, que é falsamente auto- organizado e que quer aparentar dar uma saída à crônica inércia em que os estudantes estão submetidos. Mas para uma mobilização concreta contra o governo de Bolsonaro, em defesa das demandas dos trabalhadores e dos oprimidos e também das demandas dos estudantes da USP e da Geografia, vamos precisar reconstruir as bases da organização dos estudantes.
Assim, paira sobre nós um grande desafio de cumprir um importante papel histórico na luta contra Bolsonaro e seu governo, o que exige novas formas de se organizar e construir os nossos espaços. Acreditamos que apenas numa radicalizada e mobilizada luta pela base podemos avançar para uma mudança na correlação de forças dos explorados e oprimidos com o governo. Por isso, nós do Socialismo ou Barbárie – tendência PSOL e das Vermelhas, convidamos-lhe para discutir conosco a construção dessa tese, que têm como objetivo contribuir com o debate conjuntural ao Congresso dos Estudantes de Geografia de 2019.
Derrotar Bolsonaro e seu reacionarismo
O governo de Jair Bolsonaro (PSL) é expressão de um novo ciclo da luta de classes após um longo período de transição marcada pela ofensiva burguesa que retira direitos, ataca a soberania popular e que quer impor uma derrota histórica aos trabalhadores e aos oprimidos para estabelecer um nível muito superior de exploração.
Nos últimos 4 anos vivemos uma importante transição política no país, pois a ofensiva reacionária desde 2015 impôs a sucessão de três formas distintas de governos burgueses: governo de colaboração de classes de Dilma Rousseff, governo reacionário de Michel Temer e, agora, governo ultrarreacionário com intenções bonapartistas de Jair Bolsonaro.
Essa transição entre governos burgueses tão díspares, só pôde ocorrer devido à profunda recessão econômica a partir de 2012, à reabsorção da rebelião estudantil de Junho de 2013, ao estelionato eleitoral do lulismo após a eleição de 2014, à ofensiva burguesa reacionária em 2015, ao impeachment de Dilma em 2016 e aos dois anos de contrarreformas do governo Temer. Assim, a eleição do neofascista Bolsonaro só foi possível após uma série de manobras reacionárias que significaram ataques diretos à soberania popular. Trocando em miúdos, tivemos um impeachment de Dilma, em 2016, sem crime de responsabilidade e, em seguida, a prisão de Lula, em 2018, sem provas cabais que criaram o pano de fundo para a eleição desse governo de extrema direita que quer impor um governo bonapartista.
A ofensiva reacionária desde 2015 contou com uma importante resistência da juventude, das mulheres e dos trabalhadores, mas estes não puderam fazer frente à ofensiva reacionária e contê-la devido às traições sistemáticas do lulismo – corpus político que é ampla maioria na direção do movimento de massas – que atuou constantemente para desviar, frear e conter a luta direta das massas. Em que pese que se estabeleceu um claro giro à direita, uma situação com fortes características reacionárias e um governo ultrarreacionário, esse processo não foi desprovido de resistência das massas e nem fechou a possibilidade de reversão da atual situação política nos próximos embates da luta de classes.
A classe e a juventude não puderam ir até o final no processo de resistência devido a política das direções burocráticas, mas não houve uma derrota direta na luta de classes dos explorados e oprimidos, tendo ainda hoje amplas reservas de mobilização e esse é um fato decisivo para nossa apreciação das contradições que a situação política carrega hoje.
Esse conjunto de fatores permite-nos pensar que não temos uma correlação de forças políticas totalmente definida a partir do resultado eleitoral, que a eleição de outubro do ano passado não significou uma transmissão mecânica da derrota eleitoral para a luta de classes ou que se tenha fechado a possibilidade de resistência e de impor derrotas ao governo diante dos ataques como a reforma da previdência, o desmonte da educação pública, o cerceamento do direito de livre organização, dos diretos das mulheres e os ataques à juventude negra e trabalhadora. Ou seja, em nossa opinião, as provas definitivas da correlação de forças ocorrerão a partir da luta de classes, pois quando se trata dos próprios fundamentos da sociedade, não é a aritmética parlamentar que decide, mas a luta direta entre as massas.
O governo Bolsonaro não fará “uma autópsia da classe trabalhadora e dos oprimidos”, ou seja, não fará ataques sem resistência das massas, pois a classe trabalhadora, as mulheres e a juventude não são um corpo inerte incapaz de reagir diante dos ataques que vêm pela frente. Nesse sentido, derrotar a contrarreforma da Previdência é romper um cerco tático decisivo para derrotar esse governo como um todo, por isso não podemos tergiversar, é preciso mover o conjunto do movimento estudantil, do DCE e do nosso centro acadêmico para essa tarefa política que é central hoje.
Superar bloqueio burocrático para derrotar “reforma” da Previdência
O PT e a CUT, como maior partido da oposição e maior central sindical, respectivamente, ambos dirigidos pelo lulismo, dizem que são contra a reforma, mas atrasaram enormemente a convocação da Greve Geral e setores dessa corrente articulam a olhos vistos uma reforma para garantir aos estados e municípios que governam uma redução de gastos com a Previdência – esfolando ainda mais os trabalhadores – mas que retire alguns pontos da proposta feita pelo governo. Ou seja, a posição oficial para fora é ser contra a Reforma (de Bolsonaro), no entanto, já se movimentam pela aprovação da PEC 6/2019 com emendas.
Exemplo disso, é o papel que esta cumprindo o governador do Piauí, Wellington Dias (PT). Este declarou em uma matéria da BBC Brasil: “Na alegria ou na dor, vamos ter que adotar medidas (para equilibrar a Previdência). Nós já temos hoje algo como doze Estados em situação de desequilíbrio”. Reproduz assim, em sua declaração, o argumento de que existe desequilíbrio na Previdência em diferentes níveis, mas esconde que na realidade o que está por trás são os interesses do capital financeiro em abocanhar uma fatia ainda maior de dinheiro público.
A burocracia da/o CUT/PT deixa claro porque no calendário de lutas organizado pelas centrais sindicais a Greve Geral foi colocada para o distante 14 de junho, data escolhida a dedo, numa sexta-feira, para que restrinja o movimento em um único dia.
Sempre afirmamos que a lentidão em que as centrais organizam a luta apenas favorece a recomposição do governo para articular sua base, convencer os trabalhadores de que não há alternativa e comprar os votos necessários para aprovar a “reforma”.
Temos à frente, no dia 15 de maio, a Greve Nacional dos Trabalhadores em Educação, convocada pela CNTE. Por que não marcar a Greve Geral para o mesmo dia da greve de educadores? Seria uma ação conjunta muito mais incisiva do que simplesmente realizar o 1º de Maio unificado. Assim, a chance de derrotar a “reforma” pode ser enterrada pela linha de conciliação da burocracia sindical, que marca a Greve Geral numa data distante para negociar a intensidade dos ataques do governo aos explorados. Isso é uma tragédia diante das chances reais de se impor uma derrota categórica a Bolsonaro.
Pesquisas indicam que 51% das pessoas são contrárias a “reforma”, o que junto com a queda recorde de popularidade de Bolsonaro, demonstra que a opinião dos trabalhadores está em processo de deslocamento à esquerda, mas a batalha ideológica ainda não está ganha. Apenas com a “opinião pública” favorável não conseguiremos derrotar Bolsonaro e sua “reforma”, são necessárias ações políticas contundentes. Precisamos realizar um processo de mobilização massivo e ativo, ou seja, que contem com a participação nas ruas, nos piquetes de greve, nos bloqueios das avenidas e nos atos políticos dos trabalhadores e dos oprimidos.
Apesar de todas as manobras e traições da burocracia, realizamos um 1º de maio massivo e unitário em São Paulo, o que indica que existe muita disposição para a luta. Nesse sentido, a unidade entre todos os setores e uma mobilizada construção nas bases são medidas decisivas. A juventude estudantil e da classe trabalhadora não pode deixar que essa tarefa fique apenas na mão da burocracia, pois se isso ocorrer não iremos realizar uma Greve Geral que tenha participação ativa dos trabalhadores, das mulheres, da juventude e dos oprimidos. Por isso é preciso que todos os movimentos, sindicatos, Diretórios Acadêmicos de Esquerda e organizações políticas joguem-se com tudo na organização de Comitês Unitários que têm o desafio de organizar de forma massiva a mobilização na Greve Geral.
O principal calendário de mobilização tirado em comum acordo entre as centrais sindicais é a realização de uma Greve Geral, mas antes de junho outras datas de mobilização estão sendo tiradas, a de maior destaque será a Greve Nacional da Educação, marcada para o dia 15 de maio. Essa é uma data que deve ser tomada como fundamental para os trabalhadores da educação e para o conjunto dos movimentos sociais. É um dia de mobilização nacional que ganha grande destaque e deve ser o grande “esquenta” para a Greve Geral de 14 de Junho.
Tendo em vista a insistente ofensiva do governo Bolsonaro contra os estudantes, a juventude, as mulheres e os trabalhadores, o Congresso da Geografia tem a importante tarefa de construir uma alternativa para a organização e mobilização dos estudantes e do nosso Centro Acadêmico, revivificando o debate e a ação política em nossos espaços, pois só assim a Geografia, em unidade com os demais setores, poderá somar nessa batalha histórica que é impor uma derrota categórica a Bolsonaro e seus ataques.
Basta de Bolsonaro!
Derrotar a “reforma” da Previdência!
Não ao corte de verbas, ao desmonte das universidades e da educação pública!
Construir em 14 de Junho uma Greve Geral ativa e organizada pela base!