DCE da USP deve mobilizar em defesa da soberania popular e da universidade pública
RENATO ASSAD
O DCE da USP, dirigido pela chapa Nossa Voz – construída pelo petismo – desde o final de 2017, nada demonstra de disposição da luta diante da atual situação universitária, que sofre com as terceirizações, corte de bolsas, moradia sucateada, demissões em massa e arrocho salarial criminoso, e muito menos contra a ofensiva reacionária que se potencializou com o impeachment de Dilma em 2016.
No primeiro semestre deste ano, tivemos a construção de uma greve das universidades estaduais que teve como principal eixo de reajuste salarial, fundamentado no não reajuste durante anos de inflação (12,5%), cálculo que tem como base apenas a equiparação inflacionária nacional. Esse movimento, construído quase unicamente no setor da vanguarda, teve um curto período de unidade dos três setores (estudantes, trabalhadores e professores), com a saída precoce dos docentes, que em sua maioria não tem se comprometido nem com as demandas dos funcionários e nem com as dos estudantes (sucateamento da moradia universitária).
O movimento não atingiu um potencial significativo de mobilização e organização devido, em grande parte, à burocratização da direção central dos estudantes sob o comando do petismo que se absteve da disseminação e mobilização nas bases dos cursos e não teve uma política contundente de denúncia do descaso da reitoria com as necessidades básicas da manutenção da principal universidade do país. Ao invés disso, preferiu, no calar da noite, reunir-se com a pró-reitoria e marcar presença na posse do novo reitor (escolhido pelo tucano Geraldo Alckmin) para tentar acordos por cima.
Para se ter uma ideia, a primeira assembleia convocada pelo DCE aconteceu 2 meses depois do início das aulas, atividade essa que perdeu completamente seu rumo devido o caráter totalmente antidemocrático e a péssima condução da mesa.
Este cenário muito se assemelha com a conjuntura nacional. No ano passado tivemos uma importante e combativa greve geral em abril contra a retirada de direitos por parte do governo reacionário liderado por Michel Temer, mas que acabou sendo boicotada pelas centrais sindicais petistas e pelo lulismo devido a incansável aposta na institucionalidade burguesa, mesmo o impeachment da ex-presidenta Dilma ter demonstrado que não ha mais espaço para conciliação de classes.
DCE: reflexo nacional da contenção da luta nas ruas
Fica claro que o grande responsável pela ofensiva reacionária que toma conta do Brasil hoje é a direita e sua elite política, que não mede esforços em retirar direitos da classe trabalhadora e da juventude, tudo isso para manter a taxa de lucro do capital financeiro. Mas, dentro disso, sabemos que o grande corresponsável por este cenário assombroso é o petismo, este mesmo que decidiu governar com a classe dominante, desmobilizar a classe trabalhadora e que jamais fez as reformas democráticas, permitindo que essa ofensiva reacionária tomasse curso. Assim, não podemos deixar de denunciar que as decisões de Lula e da burocracia contribuíram para a grande desorganização de sua base e juventude, contendo de forma crucial a mobilização orgânica desse setor.
Vivemos uma situação muito grave que é marcada por ataques aos direitos democráticos que preparam mais ataques econômicos, tal como a “reforma” da previdência. Por isso, não podemos ficar a mercê dessa política, não podemos contemplar o avanço do reacionarismo sem mobilizar. Nessa situação, a esquerda socialista de conjunto, todas as correntes do PSOL e as demais forças comprometidas com a luta dos estudantes, dos trabalhadores e dos oprimidos devem exigir que a direção do DCE chame a mobilização dos estudantes.
Concretamente, no próximo dia 14 teremos uma grande luta em São Paulo por Justica para Marielle Franco e para Anderson Gomes – depois de 6 meses da execução dos companheiros ainda não temos nenhuma resposta do governo sobre esse crime político. Essa exucução, da mesma forma que as contrarreformas e a inelegibilidade de Lula, é um ataque ao conjunto da classe trabalhadora e a luta por justiça deve ser assumida por toda a esquerda. Assim, é dever do DCE chamar essa moblização na base dos estudantes com toda a força. Além disso, é necessário tirar um calendáro de assembleias com o objetivo de retomar a luta na universidade e nas ruas para fazer frente ao reacionárismo político que prepara novos ataques ao cojunto dos trabalhadores e oprimidos.