Unificar e organizar a luta de forma independente dos patrões
A paralisação nacional dos transportes rodoviários atinge todos os Estados e paralisou a circulação de mercadorias, além disso, restringiu e começa a paralisar a circulação de pessoas.
Essa crise tem origem na recessão, no endividamento, no encarecimento do petróleo, na desvalorização do real e na privatização da Petrobrás. A partir do ano passado essa estatal mudou sua política de preços para beneficiar os grandes acionistas e passou a realizar o repasse dos preços de toda e qualquer variação internacional. Isso provocou um aumento de aproximadamente 50% nos preços dos combustíveis no período de apenas um ano, o que certamente afeta tremendamente custos e vida cotidiana das pessoas.
O tema da paralisação dos transportes é complexo. Esse é um setor heterogêneo que conta com grandes, médias e pequenas empresas, além de uma grande quantidade de trabalhadores autônomos. Estima-se que o total da participação das empresas privadas seja cerca de 53% e dos trabalhadores autônomos 46%.
A forma com que a paralisação foi construída, sua pauta e direção histórica indicam fortemente o apoio da patronal a esse movimento. Isso visto a ausência da resistência da patronal dos transportes ao movimento, a complacência do governo diante da paralisação e a composição da pauta de reivindicações basicamente voltada aos interesses patronais e autônomo: frete nacional, corte de impostos, redução de pedágio para caminhoneiros, renegociação das dívidas e melhores estradas. Ou seja, nada em relação ao aumento dos salários, redução geral dos preços, melhores condições de trabalho, ou mesmo, suspensão dos ataques aos direitos dos trabalhadores, fim da privatização da Petrobrás e etc.
Apesar de colocar o governo em crise, o que nos interessa evidentemente, essa paralisação tem uma composição social, pauta e direção com um forte componente patronal. Um indicador disso é que pauta parcialmente atendida pelo governo interessa exclusivamente aos empresários e autônomos: reduzir a zero a alíquota da Cide (imposto sobre os combustíveis) sobre o óleo diesel; reduzir 10% o valor do óleo diesel a preços na refinaria nos próximos trinta dias; assegurar a periodicidade mínima de 30 dias para eventuais reajustes do preço do óleo diesel na refinaria e compensações financeiras pela União à Petrobras, no intuito de garantir a autonomia da estatal.
Mas sabemos que esse não é um movimento apenas patronal, tem um forte componente dos caminhoneiros autônomos que está na base das mobilizações e o acordo fechado ontem com o governo não atende as suas reivindicações. Por isso, o acordo não foi acatado pela massa desse movimento e as rodovias em todo o país amanheceram fechadas, o que fez com que Temer elevasse o tom e ameaçasse o uso das forças para debelar a paralisação.
Trata-se de um movimento complexo, dirigido pela direita e que tem um grande setor de trabalhadores autônomos. Além do mais, diante de uma situação de ofensiva reacionária, polarizou o país, colocou o governo na defensiva e pode fortalecer o crescimento de um clima de retorno das mobilizações com lutas de setores importantes como metalúrgicos, professores e petroleiros.
Não podemos fazer como o lulismo que condenar o movimento simplesmente como um locaute ou dar apoio acrítico. Nesse sentido, em primeiro lugar, temos que nos opor à repressão do governo, pois se for efetivada atingirá principalmente o setor autônomo da paralisação. Mas temos que atuar de forma independente da direção dos caminhoneiros e da patronal no sentido de convocar o setor não-patronal dessa mobilização para a aliança e para as demandas dos trabalhadores. Além disso, precisamos unificar a luta em torno da redução em congelamento dos preços dos combustíveis, recomposição de todas as perdas salariais, redução da jornada sem redução de salário e a suspensão de todas as contrarreformas, contra a privatização, fim da intervenção miliar no Rio de Janeiro e o fora, Temer!
A CUT e demais centrais devem chamem a direção dos trabalhadores e dos autônomos para organizar uma mobilização unificada desses setores com as bandeiras dos explorados e precarizados. Assim, podemos aproveitar esse momento para unificar as greves em curso e fortalecer a mobilização dos petroleiros e demais categorias que estão se preparando para a luta.