Estudantes retomam luta contra a repressão e por democracia na USP

    A mobilização dos estudantes em vários campi da USP combina a luta contra a repressão, a privatização e por democracia no interior da universidade. Os movimentos dos campi de São Carlos e da EACH demonstram que não podemos conquistar democracia na universidade sem enfrentar a ofensiva repressiva da reitoria.

    O ato realizado no dia 20 de setembro, que acabou inviabilizando a continuidade da eleição antidemocrática para direção FFLCH – da qual só participam efetivamente 200 votantes em um universo de quase 10 mil pessoas – demonstra também que a luta deve combinar o combate a repressão e a luta por democracia.

    Durante essa manifestação, os estudantes foram proibidos pela direção da unidade – a mesma que contribuiu para a prisão dos três estudantes no dia 27 de outubro do ano passado – de manifestar seu descontentamento durante a votação no colégio eleitoral.

    Outro problema a ser considerado é a discussão sobre os métodos do movimento. Logo após o ato da última quarta-feira, alguns setores do movimento estudantil, professores e os candidatos à direção da FFLCH saíram a condenar a ação dos estudantes com os argumentos mais torpes possíveis.

    Da parte dos setores que hoje dirigem o CEUPES, o CAF e o CEGE o argumento é que a plenária dos estudantes da FFLCH do dia 18 de setembro não havia decidido pela ocupação do colégio eleitoral e, portanto, foi um erro ter interrompido a plenária eleitoral, pois não havia decisão anterior para isso.

    Este argumento é uma forma esquiva de se colocar contra a ação dos estudantes, pois não havia nenhuma deliberação contrária a ação empregada e, portanto, não houve desrespeito a  nenhuma decisão anterior. Além disso, a direção da faculdade teve uma atitude truculenta, o que impeliu os estudantes durante o processo de moblização a um nível mais enérgico de enfrentamento. Se, por um lado, não havia decisão contrária à ocupação e, por outro, os estudantes envolvidos na ação  decidiram interromper a votação, não houve “infração” alguma em relação à democracia do movimento.

    Na verdade, estes setores querem fazer crer que é possível obter conquistas sem se realizar uma dura luta contra a burocracia universitária. Posição esta parecida com a da UNE em relação ao governo federal, o que a faz assumir posição  conciliadora e imobilista.  

    A outra posição foi a manifesta em nota pelos candidatos à direção da unidade (prof. Coggiola – membro do Partido Obrero (PO) – e prof. Adorno). Neste caso, condenam a interrupção do que chamam de “processo eleitoral legítimo e legal” e se comprometem a colocar o debate sobre mudanças na forma eleitoral por “vias regulamentares”. Ou seja, manifestam a posição de deixar tudo como está, sem a participação de toda a comunidade universitária, já que são contrários aos posicionamentos políticos da mesma.

    Essa posição não se sustenta em nenhum dos seus pressupostos. Pois, quando há um questionamento efetivo da maioria sobre a anacrônica e elitista forma de constituir o poder no interior da universidade – ou da unidade em questão – alguns setores que se dizem progressistas revelam-se na verdade retrógrados ao condenar qualquer participação direta da maioria.

    Do ponto de vista da legalidade também a posição dos professores-candidatos é insustentável. Mesmo com todos seus limites e contradições, a LDB 9394/96 estabelece o princípio da democracia na gestão educacional, princípio esse fácil de verificar sua ausência no interior da USP.  

    Como dizia a epígrafe que usamos em um boletim anterior: a arma da crítica não pode decerto substituir a crítica das armas; a força material só será derrubada pela força material; mas a teoria em si torna-se também uma força material quando se apodera das massas (Karl Marx). No entanto, os profesores-candidatos querem convencer os estudantes que se pode fazer movimento, lutar contra   repressão, privatização e precarização sem ultrapassar o poder que se coloca contra o interesse da maioria.

    Estes professores classificam como “emprego intempestivo da força” a retomada do processo de mobilização que questiona a força sempre intempestiva da minoria. Na verdade, trata-se da defesa do monopólio da força que alija a maioria do poder no interior da universidade. 

    Para finalizar, apesar dos limites programáticos da atual direção do DCE, eleva a eleição para reitor como bandeira central da luta (defendemos a derrubada da atual estrutura de poder e a luta contra a repressão de forma combinada), nós estamos na fileira da defesa incondicional da ação dos estudantes no dia 20 de setembro. Além das assembleias de curso e da plenária da FFLCH (que irá ocorrer na próxima quarta-feira) é necessário e possível convocar uma assembleia geral emergencial. Só assim podemos discutir e unificar os processos de enfrentamento que estão se dando de forma fragmentada no interior da universidade e avançar para uma mobilização unificada capaz de impor derrotas efetivas as medidas repressivas, antidemocráticas e privatistas que estão em curso.