Uma conferência que permanece e não soma nada
Por Martin Camacho
Praxis–Socialismo ou Barbárie Nº 21,
Houve um sem número de conferências, encontros e reuniões de todo tipo, para ver o problema ambiental que está vivendo o mundo. Hoje nos vemos a 20 anos daquele Rio 92 e os desafios que haviam sido colocados não se concluíram, nem sequer nenhuma das condições de vida dos habitantes melhorou, ao contrário, cada dia há mais poluição, pobres e fome em grau e número na população mundial. A desigualdade não mudou nem uma vírgula em sentido positivo.
Porém, os mandatários do estado se propuseram mais uma vez a se reunir para tratar de “salvar” o mundo dentro do capitalismo selvagem em que hoje vivemos. O que hoje concretamente foi discutido é “a economia verde no contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza” e “a governança global para o desenvolvimento sustentável” e dizer muito e fazer pouco é a dinâmica que teve o encontro e que não vai somou qualquer coisa.
Em 20 anos houve algum avanço importante em matéria ecológica?
Obviamente que não, não houve mudanças nas políticas mundiais para controlar as emissões de carbono ou a poluição dos mares e dos rios. Só há uma isolada preocupação e esta sai na mídia como paranóia que se passa quando acontece a notícia, ou seja, quando há algum desastre natural e finalmente alguém vê que algo está andando mal neste mundo, porém, após isto, ninguém mais se preocupa e todos se põem a falar de energia alternativa, pobreza ou desenvolvimento sustentável que não afete ao meio ambiente.
A questão que ninguém quer discutir realmente é que no marco de uma economia capitalista não há possibilidades de uma economia que respeite a natureza ou os seres humanos que vivem neste planeta. A dinâmica de extração de lucro impiedosa que impõe o capitalismo é oposta a preservação da natureza.
Podemos dizer que a grande desertificação, a mudança dos cursos dos rios para o bem das indústrias, a contaminação que realizam as empresas mineiras, só afeta a classe trabalhadora. Os mais pobres são os que sofrem em maior medida a degradação do meio ambiente. Por exemplo, as pessoas são afastadas do lugar onde vivem devido à questão da desertificação. São pessoas que vão somar–se aos bolsões de pobreza que se encontra cada vez mais nas grandes cidades. Isto nenhum governo quer admitir, nem de países desenvolvidos, nem em desenvolvimento.
Por exemplo, não se conseguiu substituir um novo acordo após o Protocolo de Kyoto, e este protocolo não pode impor nem muito menos sancionar a ninguém quanto a este intento de impor metas para a redução de emissões de dióxido de carbono. E a respeito de como se utilizam os meios naturais ou, melhor dizendo, como se desperdiçam os recursos naturais se mostra no fragmento seguinte: “um dos principais problemas é o desperdício de recursos, principalmente nas cadeias de produção de alimentos.
Segundo a FAO (organização da ONU sobre agricultura), quase 50% do que se planta não chega às mesas, com perdas em quase todos os elos da cadeia de produção, venda e consumo”.
Isto é um exemplo concreto de como a especulação segue em função dos lucros do capitalista e não em função da alimentação da gente. Para ser mais concreto, deve–se desperdiçar comida para que esta siga tendo o valor e o lucro que hoje possui.
Outra vez a mesmo pergunta, poderia existir um capitalismo bonzinho = capitalismo verde? Outra vez se coloca em questão se é possível ter um capitalismo mais “bonzinho”, no caso de uma economia verde. Ou seja, que se dê lugar à natureza e que se erradique a pobreza, tal como em um passe de mágica. Isto é parte da ingenuidade que querem incutir alguns organismos internacionais há muito tempo, somando–se a algumas ONGs, que buscam uma vez e outra pressupor que dentro do capitalismo há possibilidades de melhorar a situação da população.
A história e o próprio capitalismo determinaram que não há opção para uma mudança substancial das relações de exploração, e que para se obter uma economia que não degrade o ecossistema só é possível de se realizar mudando por completo as relações de produção. Ou seja, colocando os meios de produção em função da maioria da população e não em uma minoria que especula com a própria pobreza.
Em meio a uma crise que não termina de se concluir, em que há mais e mais desempregados, o momento, em realidade, é um dos piores cenários para se discutir. Se hoje se gastam trilhões para resgatar bancos…a resposta já estava dada previamente: nenhuma grana para o combate a degradação do meio. Ou seja, é impossível que se veja o capitalismo, que vive do lucro, colocar–se a redistribuir riqueza. Isto só pode fazê–lo a classe operária com o controle da produção, colocando em funcionamento todos os meios possíveis para parar a contaminação e depredação da natureza. Esta proposição nunca foi discutida nas esferas em que se dá o Rio+20, uma nova economia que não viva em função do lucro, mas do benefício da natureza e da população. E por aqui, como andamos?
Uma das coisas mais contraditórias é que o Brasil se deu ao luxo de realizar esse evento tendo muito próximo a aprovação do Código Florestal. O governo Dilma, em acordo com deputados e senadores representantes dos ruralistas, impôs normas para avançar nas terras que até agora eram mata. Por outro lado, muitos especialistas afirmam que o Brasil é um dos países que mais se utiliza de energia limpa. Mas se esquecem dos derramamentos produzidos pela Petrobras fora e dentro das fronteiras.
“A declaração da presidente indica alguma preocupação do país com casos como esse, mas ainda falta seriedade, agilidade e transparência à ANP, que apenas ontem divulgou qualquer tipo de informação sobre o vazamento à população. Esperamos agora que as autoridades públicas cumpram sua ordem e sejam transparentes com as informações”. Este comentário ocorreu no marco do primeiro vazamento de petróleo do Brasil, acidente no Campo da Chevron.
Evidentemente quando isso acontece todo o mundo se surpreende e se dá conta que esses organismos ou entidades não podem controlar estes desastres naturais. Outro dado é que em função da pobreza quer esconder embaixo do tapete todo o resto da desigualdade. O exemplo das obras da Copa é muito claro, a militarização das favelas, os desalojamentos que ocorrem como o de Pinheirinho ou os que estão por ocorrer. A falta de investimento público para moradias se torna um grande problema que, certamente, Rio + 20 nem sequer terá em mente discutir.
A coisa é mais complicada quando falamos de infraestrutura: “cerca de 25 milhões de lares, que não possuem sequer ligação com a rede coletora de esgoto e tem 80 % dos dejetos lançados diretamente nos rios sem nenhum tipo de tratamento”3. Estes são os dados que vão somando a que quem fala de economia verde primeiro tem que olhar ao redor e por fora das fronteiras onde as empresas brasileiras fazem o que querem sem importar o mínimo com o meio ambiente.
Bicombustível e negocio verde
Outra questão que se coloca é como se utilizou o boom dos combustíveis extraído de plantas que contém álcool e óleos, uma política imposta pelos EUA para fazer baixar o preço do petróleo que só trás desertificação ao solo pelo uso intensivo para que este produto possa competir com os derivados do petróleo.
No princípio muitos caíram nessa ladainha, que se poderia ter um combustível mais saudável ou ecológico, na realidade sucedeu o contrário. A grande quantidade de plantações de “combustível verde” só serve para obter lucro para o capitalista, se destrói grandes extensões de floresta para plantar soja, cana de acocar, milho não para a alimentação da população, mas sim para combustível para carros.
O que deixa claro essa política é que com isso se produziu uma maior degradação do solo por um cultivo intensivo. O caso da soja e os pesticidas que essa utiliza para seu crescimento degradam o solo e mata todo animal que vive na região.
Cúpula dos Povos
Essa cúpula é outra forma de mascarar a discussão da ecologia. Nesse caso são convida mais diretamente as organizações sociais, grupos ecologistas e um sem número de organizações. A questão é que foi um apêndice da cúpula dos chefes de estado, com a diferença apenas que lá poderia participar a população, em parte enganando e colocando na cabeça das pessoas que outra forma de capitalismo é possível. Por isso, mesmo é que estão todas as organizações do que é o Fórum Social Mundial.
Que alternativa colocamos nós, os revolucionários?
A questão central já colocamos neste texto, não se pode ter uma maior ecologia se não se tomam medidas contra o capitalismo. Só assim se poderá resolver o problema do meio ambiente. Que a classe operária tome o poder econômico e o coloque em função da população trabalhadora e da natureza. Por fora disso são só palavras jogas ao vento.
Não há forma de escapar ao capitalismo, nem sequer com a proposta que faz a ONU de que se invistam 1,3 trilhões de dólares. Dizem que com este dinheiro se converteria a economia selvagem de hoje em dia em uma economia verde. Acaso hoje alguém esta disposto a gastar semelhante quantidade de dinheiro …já as economias mais fortes lhe disseram que não. E se fosse assim tampouco representaria uma mudança substancial, porque o que seguiria intocado é o lucro, se voltaria em muito pouco tempo a uma situação pior do que vivemos hoje.
Por isso não há saída ecológica ou verde ou como quer que se chame no marco do capitalismo. Somente se poderá respeitar a vida das pessoas e da própria natureza em uma economia direcionada e planificada pela classe operária.