As eleições municipais, apesar de normalmente não trazerem os temas nacionais à tona, são um importante momento para os revolucionários pautarem as principais questões da luta de classes. É hora de aproveitar a maior politização para questionar a dominação burguesa, dar mais visibilidade as lutas e apresentar o projeto socialista ao maior número possível de trabalhadores. Claro que não são esses os objetivos dos partidos da ordem que nesse momento se dedicam a articulação de alianças em torno das candidaturas para prefeito com o objetivo central de conseguir mais tempo no horário eleitoral. O fato que mais se notabilizou até agora da barganha generalizada, pela importância econômica e política da cidade e por sua simbologia, foi a aliança firmada entre o PT de Lula e o PP de Paulo Maluf na disputa pela prefeitura de São Paulo.
O acordo entre PT e PP que garantiu um minuto e meio de TV a mais para Fernando Haddad tem sido tratado como um “escândalo” até mesmo pelos setores mais conservadores.[4] Paulo Maluf foi prefeito e governador biônico (indicado pelo governo militar), repressor das lutas pela redemocratização, criador da Ronda Ostensiva Tobias de Aguiar (ROTA), um verdadeiro esquadrão da morte de negros, trabalhadores e pobres, é procurado pela Interpol e classificado pelo Banco Mundial como um expoente do assalto aos cofres públicos. Diante da violência contra as mulheres cunhou a célebres frases do “estupra, mas não mata”, diante das greves docentes da década de 80“não é que as professoras ganham mal, o problema é que são mal casadas” e por aí vai o nefasto repertório.
Como em outros momentos, o pragmatismo reacionário e irreversível da direção do PT, que tem Lula como o principal expoente, se impõe de maneira inflexível. Assim as vozes descontentes são sufocadas e se calam. Ao ser indagado sobre a aliança com o PT afirmou que “hoje não existe direita nem esquerda: o que há são minutos e segundos de TV”. É como se a figura mais corrupta da aristocracia nacional surgisse como o senhor da razão política, como se o fazer político, enfim, se rendesse a esse paladino da direita paulista, inclusive dos seus setores fascistas.
Não há surpresa alguma na aliança entre PT e PP na disputa da prefeitura de São Paulo. Alianças com os setores mais conservadores são fatos que remontam ao período anterior da primeira eleição de Lula, a aliança com o PMDB, Sarney e CIA não deixa sombra de dúvida sobre essa questão. Assim, a aliança para se conseguir mais tempo na TV entre PT e PP em São Paulo não é nenhum raio em céu aberto. É, na verdade, mais uma medida no sentido de fortalecer amodernização reacionária e a nova representação política da direita (PT) brasileira com a vantagem de que, em relação aos partidos mais tradicionais da classe dominante, essa “nova direita” tem o apoio incondicional do sindicalismo conciliador, a áurea da luta contra a ditadura militar e do histórico movimento operário da década de 80.
A frase de Maluf encontra ressonância no deslocamento político operado pelo PT na década de 90. Não que as condições sociais do Brasil e do mundo tenham superado a polarização e antagonismo de classes, Ao contrário, estas além de se manterem, crescem vertiginosamente e se tornam mais dramáticas. A questão é que a passagem de malas e bagagens do anterior reformismo petista, como ocorre invariavelmente com o reformismo, a uma posição diretamente conservadora e provoca um profundo abismo entre a realidade social e política e os partidos que figuram entre os que alcançam dentro do jogo político marcado pelo poder econômico viabilidade eleitoral.
Candidaturas revolucionárias devem estar ligadas a situação concreta da luta dos trabalhadores
A experiência lulista comprova, mais uma vez, a tarefa histórica incontornável de construir partidos revolucionários com influência de massas para superar o vazio político deixado pelo PT e congêneres. É por isso que uma candidatura revolucionária deve ter como centro a tarefa de responder concretamente aos desafios dos trabalhadores. A nota assinada pela pré-candidata do PSTU a prefeita da cidade de São Paulo comentando o acordo PT-PP abstrai totalmente o papel que uma candidatura socialista revolucionária deve ter nas eleições burguesas: “Nós vamos mostrar o outro lado da cidade, o lado dos trabalhadores pobres e da periferia. Vamos mostrar como é possível enfrentar gravíssimos problemas sociais como educação, saúde e transporte desde que enfrentemos o domínio das grandes empresas. Vamos defender o programa socialista, aplicado aos problemas concretos da vida das pessoas. A cidade não deve ser dos ricos, São Paulo é para os trabalhadores.”[5] Uma candidatura revolucionária tem como objetivo nas eleições fazer a crítica a exploração e propagandear a saída anticapitalista e socialista para as eleições. Mas não pode fazer disso uma propaganda abstrata da forma como está posta. Estamos em um momento onde várias categorias, como professores da Bahia, Metroviários de Minas Gerais, estudantes e funcionários federais, trabalhadores sem terra, se enfrentam duramente com o governo e os patrões.
O grande desafio, apesar do vaticínio ideológico, do fim da esquerda e da direita, reiterado por Maluf, mas que não encontra materialidade para se efetivar em canto algum do mundo enquanto houver exploração, é colocar em pé, a partir das experiências de luta dos trabalhadores e da juventude hoje, uma alternativa política revolucionária que contribua de fato para que as atuais lutas que estão em curso, sejam um ponto de apoio para reverter a situação política marcada por fortes elementos reacionários que vivermos. Por isso, a política revolucionária nas eleições e as candidaturas que as representa devem ligar a luta imediata dos trabalhadores que se enfrentam nesse exato momento contra Dilma e os patrões com propostas que levam a uma alternativa socialista.
Notas:
[1]“As alianças pelo país reproduzem a disputa pelo PP, de Paulo Maluf, promovida por PT e PSDB, em São Paulo, na semana passada. Para conseguir 1 minuto e 35 segundos na TV, ao pré-candidato José Serra (PSDB), o governador Geraldo Alckmin (PSDB) sinalizou com a Secretaria de Habitação, com capacidade anual de investir R$1,5 bilhão…Mas o governo Federal atravessou a negociação e entregou para o PP, de Maluf, a Secretaria de Saneamento Ambiental, do Ministério das Cidades, que tem orçamento de R$ 2,2 bilhões.” (Tempo no horário eleitoral estimula barganha entre partidos e governos, Julia Dualibi, pg. A4, 24 de julho).
[2] Companheiro Maluf? Ana Luiza, pré-candidata a prefeitura de São Paulo, http://www.pstu.org.br.