Moinho resistiu e obteve uma vitória parcial!
Víctor Artavia
Nesta semana, a comunidade do Moinho, localizada na região central de São Paulo, foi palco de fortes confrontos entre os moradores da favela e a Polícia Militar (PM).
Durante três dias consecutivos, a PM jogou bombas de gás lacrimogêneo e usou balas de borracha contra os manifestantes que protestavam contra o despejo ordenado pelo governo estadual.
Revitalização ou gentrificação?
Tarcísio de Freitas, o governador de extrema direita no comando do estado, impulsiona um projeto para “revitalizar” o centro histórico da cidade. Seu intuito é mudar a sede do governo para o bairro dos Campos Elíseos, onde quer construir o Polo Administrativo e, assim, reunir toda a estrutura administrativa do governo que atualmente está distribuída em 62 prédios pela cidade.
Essa foi uma das suas promessas durante a campanha eleitoral. No entanto, para realizá-la, primeiro teria que se resolver um grande problema: os Campos Elíseos abrigam a maioria da população em situação de rua de São Paulo (a Cracolândia está neste lugar) e, além disso, lá se encontra a favela do Moinho.
Por esta razão, a proposta de Tarcísio gerou polêmica desde que foi anunciada, principalmente porque sua estratégia se baseia em aumentar o número de polícias para reprimir os usuários de drogas e criar novos empregos com a mudança das Secretarias do Estado. Em outras palavras, a “solução” oferecida pelo governador é reprimir para despejar a população mais pobre e em situação de rua da região dos Campos Elísios.
Não à toa, o plano de revitalizar o centro histórico do atual governador é considerado um caso a mais de “higienização” social. Essa foi a posição que a antropóloga Amanda Amparo, doutoranda no departamento de Antropologia Social da USP, expressou para o site Brasil de Fato: “Essa ideia de revitalizar o centro é muito complexa (…) vem junto, ou talvez mais orquestrada, com a perspectiva de gentrificação. O centro tem uma população de rua muito pobre e vulnerabilizada que será expulsa por esse processo que eles chamam de ‘revitalização’ (…) isso implica em retirar as pessoas do lugar onde estão territorializadas. O território é um elemento basilar na vida do sujeito”.
A disputa pelo Moinho
Como parte do processo de “revitalização”, o governo acordou o reassentamento de cerca de 800 famílias que moram na favela do Moinho. Porém, vários vizinhos da comunidade discordaram com os termos do arranjo.
Como resultado disso, entre segunda (12) e até quarta (14), as ruas dos Campos Elíseos tornaram-se cenário de uma resistência urbana bastante radicalizada. O choque começou logo depois que policiais, sem mediar provocação alguma, dispararam balas de borracha contra um grupo de pessoas que se manifestavam dentro da favela.
Segundo Rafael Pereira, um reciclador que mora no Moinho, a sua televisão quebrou devido ao despejo que realizavam os funcionários estaduais na casa ao lado da dele. “É parede com parede, não poderiam estar demolindo com a gente morando aqui”, declarou à imprensa.
A resposta desde baixo não demorou em chegar. Os moradores do Moinho saíram às ruas em grandes quantidades e, sabendo que não tinham nada para perder e sim muito porque lutar, atiraram pedras contra a PM e incendiaram barricadas sobre os trilhos do trem da Linha 8-Diamante e na avenida Rio Branco.
A PM, com o respaldo de Tarcísio, não duvidou em aumentar a repressão. Bombas de gás e balas de borracha, esses foram os meios escolhidos para garantir a “revitalização” da região.
Apesar disso, os moradores não recuaram e mantiveram a resistência durante três dias. Uma mostra da potencialidade da reversibilidade dialética: diante os ataques reacionários desde cima, é possível a contraofensiva desde baixo.
A batalha do Moinho se tornou tema nacional. O governo Lula teve que sair a dizer alguma coisa: anunciou que ia paralisar a doação do terreno para a gestão do governo estadual. Isso aconteceu apenas algumas horas depois da Secretaria de Patrimônio da União ter enviado um ofício ao governo paulista, no qual autorizava o despejo da favela.
Tarcísio, confirmado que é a extrema direita de terno e gravata, ignorou os “protestos” institucionais do Planalto e continuou reprimindo os moradores.
Também ficou evidente a incapacidade da esquerda da ordem e da burocracia sindical em organizar qualquer tipo de ação solidária ou de apoio à resistência heroica do Moinho. Enquanto a PM violentava os moradores do Moinho, Boulos e o MTST (um movimento popular pela moradia!) não chamaram a mobilizar as suas bases em apoio com a luta direta.
Finalmente, após três dias de luta nos Campos Elíseos, os governos federal e estadual fecharam um acordo para dar uma saída à disputa. Segundo o acerto entre as duas partes, os moradores terão um valor de R$ 250 mil para comprar novas casas, dos quais a União entrará com R$ 180 mil e o estado vai pagar os restantes R$ 70 mil. Além disso, os moradores do Moinho terão um auxílio de moradia de R$ 1.200, enquanto é aprovada a compra de suas novas casas.
Uma vitória parcial que mostra o caminho a seguir para combater a extrema direita nas ruas e sem nenhuma confiança na institucionalidade burguesa, seja pela presença de bolsonaristas nos estados ou mesmo pela esterilidade da política de conciliação de classes da esquerda da ordem.
Despejo zero!
Pelo fim da PM!
Fora Tarcísio assassino!