Já Basta!
No dia 20 de setembro aconteceu a paralisação na USP pela situação intermitente de água no CRUSP e por outras reivindicações. Embora fosse chamado pelos três setores (estudantes, SINTUSP e ADUSP), na realidade foi uma jornada de luta da vanguarda estudantil que contou com o apoio importante de um grupo pequeno de trabalhadores.
Contudo, isso não retira importância ao movimento, o qual representou a primeira experiência de luta direta para centenas de estudantes. É importante lembrar que, a pandemia e a suspensão das aulas presenciais, foram fatos reacionários que ao impedir a sociabilização desmobilizaram o movimento estudantil. Por isso, há um enorme valor na paralisação organizada pelos estudantes, um primeiro passo importante para a retomada da luta na Universidade de São Paulo; muitos deram os primeiros passos como lideranças estudantis.
As ações começaram cedo, com um “trancaço” na portaria 1 –o principal acesso à cidade universitária- das 6h até às 9h; logo, o movimento foi até a reitoria para entregar o manifesto com as exigências. Na tarde houve uma mesa de discussão no vão da FFLCH, onde diferentes representantes dos centros acadêmicos, professores e trabalhadores e trabalhadoras universitários, falaram sobre os ataques contra a educação universitária por parte do governo Bolsonaro e da atual reitoria. Pela noite se realizou outro ato em frente a reitoria, onde novamente os manifestantes externaram suas exigências por permanência diante das autoridades da USP.
Durante a manifestação foi evidente a raiva e indignação estudantil diante da grave situação que atinge os moradores do CRUSP, os quais têm messes com extensos cortes de água. Mas isso se misturou com a alegria de lutar e reconhecer-se como sujeitos políticos, é dizer, como um coletivo social que tem voz própria e ferramentas para organizar-se por seus direitos. Com respeito a isso, vale a pena lembrar o slogan agitado durante a mobilização: “Nas ruas, nas praças, quem disse que sumiu, aqui está presente o movimento estudantil”.
De acordo com a informação do DCE, depois da paralisação a reitoria apresentou algumas propostas para avançar na solução da problemática situação da residência estudantil, como garantir a extensão do horário do fornecimento de água com pressão total de 18h para 00h, além de disponibilizar funcionários da zeladoria para garantir a manutenção no CRUSP aos finais de semana. São pequenas conquistas que, embora não resolvam a problemática no todo, representam uma vitória parcial da mobilização e, por isso, há que exigir à reitoria que cumpra com seus compromissos.
Porém o maior legado deixado pelo dia de luta são as aprendizagens sobre como organizar-se para lutar. Quando as pessoas lutam mudam sua consciência e os movimentos sociais crescem politicamente, pois nas ruas os setores explorados e oprimidos aprendem a identificar seus aliados e inimigos. Nesse sentido, nós do Já Basta! queremos sublinhar três lições principais:
- Ficou claro que a reitoria não é uma aliada do movimento estudantil (nem dos professores e trabalhadores e trabalhadoras universitárias); pelo contrário, ela é a responsável direta pela precarização nas condições de estudo – sobretudo à permanência da juventude trabalhadora..
- A paralisação foi produto de um debate e votação na assembleia geral do DCE (no que pese a desorganização para sua construção) e de uma plenária ampla dos três setores da USP. Isso deixa claro a importância de garantir assembleias democráticas para organizar as futuras lutas e determinar os métodos para desenvolver as mobilizações.
- É importante a construção de um comitê unificado de luta, com a tarefa de organizar os próximos atos e marchas. Nas assembleias se discute e vota encaminhamentos gerais, mas ficam muitas tarefas concretas para garantir as mobilizações. Além disso, dentro do movimento estudantil há muitas correntes políticas e ativistas independentes, pelo qual são naturais as diferenças táticas sobre os métodos de luta. Diante disso, é fundamental ter um espaço para construir acordos, pois o movimento estudantil não vai avançar se persistir a fragmentação onde cada setor atue por conta própria. Nós do Já Basta! rejeitamos os métodos ultimatistas –tentar impor pela força as diretrizes de um setor- e acusar de pelegos a quem não concorde; nosso método é construir um movimento de luta unificado e democrático.