A “Rejeição” da nova constituição no Chile venceu com 61,8%, equivalente a 7,8 milhões de votos, contra 38,1% do “aprovo”. Portanto, a atual Constituição continua vigente.
REDAÇÃO
Após uma extraordinária rebelião popular, após um esmagador “eu aprovo” de mais de 70% para a realização de uma convenção constituinte, deram-se estes resultados. Mas também depois de mil manobras, após o condicionamento da assembleia constituinte – que não foi nem livre e nem soberana -, depois que todas as antigas instituições permaneceram no poder e inclusive através delas foi eleito um novo governo.
O resultado confirma que a campanha de medo das últimas semanas triunfou. Tudo o que foi dito estava fora da realidade: que a nova constituição era “socialista”, que o “Estado Plurinacional” significava dividir o país, que os trabalhadores iriam ter suas casas tiradas deles, etc. Com o triunfo desta campanha, um giro eleitoral à direita está ocorrendo no Chile.
A nova Constituição era extremamente limitada: não tocava na propriedade capitalista ou mesmo em qualquer pilar importante do capitalismo neoliberal chileno. Ela introduzia algumas reformas progressivas, como o direito ao aborto ou o reconhecimento dos direitos dos povos indígenas. Mesmo com todas as suas limitações, se a nova Constituição tivesse sido aprovada, ela teria permitido a mobilização para exigir o cumprimento desses novos direitos, bem como para continuar pressionando por uma Assembleia Constituinte verdadeiramente livre e soberana, que questionaria os fundamentos do capitalismo chileno.
O governo Boric é o principal responsável por tudo isso. Depois das expectativas que despertou entre aqueles que questionaram “os 30 anos” do capitalismo neoliberal, decidiu fazer um pacto com a ala “progressista” dos 30 anos, formar um governo com eles e deixar tudo como estava. Ele até capitulou à campanha do medo, e para fazer os proprietários do país felizes, prometeu reformar a nova Constituição uma vez aprovada, eliminando tudo o que havia de progressivo nela. Estes são os resultados.
O apelo dos setores de esquerda à abstenção também contribuiu para dar esta vitória ao regime, aos proprietários do país e à direita.
As contradições que isto deixa são muitas. A enorme maioria do país, como foi plenamente demonstrado, não quer que a antiga constituição continue a governar, mas acredita nas mentiras da ala direita. Assim, nada foi resolvido de tudo o que foi aberto com a rebelião de 2019.
A situação na América Latina é, portanto, muito complexa. A resposta maciça nas ruas ao ataque reacionário contra o CFK coloca-o no lugar do polo de defesa das liberdades democráticas, no outro extremo está o Brasil, onde Bolsonaro se prepara para suas marchas golpistas na quarta-feira.
Nada está resolvido em uma região e no mundo polarizado. Tudo está em aberto e os resultados do referendo no Chile após a rebelião popular de 2019 e o triunfo de Boric no ano passado o comprovam.