Justiça para as vítimas da Vila Cruzeiro e para Genivaldo

Nessa semana, a política de extermínio animada por Bolsonaro fez novas vítimas pelo país. Os assassinatos perpetrados por policiais na Vila Cruzeiro (Zona Norte do Rio de Janeiro) e em Umbaúba (interior de Sergipe) chamaram a atenção de todo mundo

ANTONIO SOLER

No dia 24, a ação conjunta entre o Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais) e a PRF (Polícia Rodoviária Federal), que é considerada a terceira mais letal da história recente da região metropolitana pelo Geni-UFF (Grupo de Estudos de Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense), deixou 23 mortos e vários feridos na Vila Cruzeiro (RJ). 

Segundo informações da polícia fluminense, um grupo de investigadores de uma operação que pretendia prender 50 traficantes em fragrantes, foi descoberto e atacado, o que foi respondido por uma “operação urgente” a partir das 3h30min. Assim teria começado uma invasão que durou horas, atravessou a favela até uma zona da mata que liga a Vila Cruzeiro ao Complexo do Alemão e acabou com 23 mortos. 

Dentre os mortos estão pessoas ligadas ao tráfico, mas também moradores, trabalhadores e um estudante menor sem envolvimento algum com a venda ilegal de drogas. (Ferreira da Cunha, 41, Ricardo José Cruz Zacarias Júnior, 26, Douglas Costa Inácio Donato, 23, e João Carlos Arruda Ferreira, 16). 

Essa não é a primeira incursão policial deste ano que acaba em chacina. Em fevereiro, em uma ação que buscava um chefe do tráfico fugido do Jacarezinho devido à ocupação pela polícia para um programa do governo estadual, oito pessoas também foram mortas durante ação conjunta da Polícia Militar e da PRF.

PRF a serviço do extermínio

No dia 25 – exatamente dois anos após a morte por asfixia de George Floyd nos EUA pela polícia – em Umbaúba (interior de Sergipe), Genivaldo de Jesus Santos, de 38 anos, ao passar de moto sem capacete por uma viatura da PRF – a mesma polícia que participou inexplicavelmente da operação e, consequente, chacina da Vila Cruzeiro – foi abordado e submetido a uma totura que levou à sua morte. Durante a abordagem, que ocorreu dentro de um posto de oficinas mecânicas, o homem, que sofre de esquizofrenia e tinha consigo os medicamentos que utilizava, foi brutalmente torturado pelos policiais. 

Testemunhas, fotos e a filmagem dão conta que por volta das 11h Genivaldo, mesmo colaborando com a abordagem, foi imobilizado, atingido por gás pimenta nos olhos, derrubado ao chão, espancado com vários chutes e jogado dentro da viatura em sua parte traseira. Na viatura, os policiais tentaram colocar algemas nas pernas de Genivaldo – procedimento totalmente irregular que provocou ainda mais dor na vítima -, depois um dos policiais jogou gás lacrimogêneo e gás pimenta dentro do veículo e fechou a porta. Genivaldo com as pernas para fora se debateu e pediu socorro por vários minutos antes de perder a consciência, mesmo assim, os policiais não abriram a porta da viatura. 

Quando a sua esposa chegou ao local, viu que Genivaldo estava desfalecido (provavelmente já morto) dentro da viatura da PF e pediu que abrissem a porta, o que foi negado pelos policiais. Já no hospital, a morte foi confirmada para a esposa pela médica que o atendeu. Os policiais no Boletim de Ocorrência relataram que, no caminho para a Delegacia, Genivaldo teve um mal súbito e foi levado para o hospital, no entanto,  de acordo com laudos preliminares dos peritos do IML (Instituto Médico Legal), a morte ocorreu por asfixia. 

Bolsonaro é responsável pelo aumento da violência 

Estes dois casos, ocorridos há apenas 1 dia um do outro, e uma série de outros que presenciamos diariamente, confirmam o verdadeiro Estado de Sítio que está submetida a população no Brasil. Desde a Primeira República, as polícias militares estaduais não passaram por mudanças substanciais em suas estruturas, mesmo depois da ditadura militar, as polícias mantiveram-se militares, reacionárias, racistas, homofóbicas e anti operárias.

Porém, o discurso neofascista de Bolsonaro e de todos os seus seguidores que ocupam cargos públicos (governos estaduais, municipais e legislativos em todos os níveis) faz aumentar os crimes motivados por ódio e também a violencia policial contra os mais pobres, os negros e a periferia. Diante da chacina, a declaração de Bolsonaro em sua rede social foi “parabéns aos guerreiros do Bope e da PM-RJ que neutralizaram pelo menos 20 marginais ligados ao narcotráfico em confronto, após serem atacados a tiros durante operação contra líderes de facção criminosa” e  “lamentamos pela vítima inocente, bem como pela inversão de valores de parte da mídia, que isenta o bandido de qualquer responsabilidade, seja pela escravidão da droga, seja por aterrorizar famílias, seja por seus crimes cruéis”. 

Como uma série de outras, diante da violência policial, de mortes ou execuções perpetradas pelas forças repressivas, Bolsonaro – aberto defensor da tortutura e do estado de exceção – invariavelmente se coloca a favor dos que “neutralizam” criminosos,  mesmo que seja a custa de alguma “vítima inocente”. Ou seja, como parte do seu arcabouço político ultrarreacionáriro, defende abertamente a mais do que comprovada ineficaz política de guerra às drogas e a execução como forma de combater o comércio ilegal. Por essa razão, Bolsonaro, o governo do estado do Rio de Janeiro e os comandantes das corporações militares envolvidas, são responsáveis políticos diretos por todas as mortes ocorridas, não apenas dos “bandidos” – produtos esses de uma sociedade extremamente desigual, do abandono do Estado e do proibicionismo. 

Urgente: é preciso apelar para a mobilização de massas

A população das periferias de todo o Brasil, em que pese a apatia generalizada, no que se trata de se colocar contra a violência policial, mobiliza-se em todos os rincões. No caso da Vila Cruzeiro, em pleno tiroteio, a população local e ativistas de direitos humanos se mobilizaram para encontrar vítimas do massacre, e no caso de Umbaúba várias pessoas, mesmo ameaçadas pelos policiais, tentaram ajudar Genivaldo e realizaram protestos.

É preciso, porém, que os partidos políticos, os movimentos sociais, as centrais, as pré-candidaturas – Lula limitou-se ao lado de Alckmin (genocida mor) a segurar um cartaz “Justiça por Genivaldo” e o PSOL nem uma nota sequer sobre os casos tem em seu site – coloquem-se efetivamente ao lado dessas populações dos movimentos em defesa dos direitos civis para que a luta por justiça possa ser feita e para que uma saída efetiva contra a violência policial possa ser dada.     

A incursão violenta do Estado nas periferias e suas formas de abordagem devem ser substituídas imediatamente pelo fim da polícia militar em todo o país, de um lado, e pela legalização da produção e do comércio das drogas, da produção estatal sob controle dos trabalhadores e por políticas educacionais e de tratamento à dependência química, por outro. Sem combinar essas duas políticas, que só podem ser impostas pela luta direta das massas nas ruas, não se pode acabar com a violência assassina nas periferias 

Apenas chamando o voto em outubro, sem apostar na mobilização direta das massas para derrotar Bolsonaro nas ruas, como está fazendo Lula em sua campanha com o apoio vergonhoso do PSOL, não se pode combater nenhuma forma de violência. Para combater a crescente violência policial (violência essa que pode voltar-se contra os resultados das próximas eleições, aliás), as ameaças aos direitos democráticos e à soberania popular, de parte do neofascista e seu movimento, é preciso apelar para a organização e mobilização urgentemente!