As autoridades cubanas decidiram na quarta-feira permitir a entrada sem restrições de alimentos, produtos de higiene e medicamentos por viajantes vindos do exterior. Uma minúscula “concessão” para os protestos.
Redação de Izquierda Web
Três dias após uma onda de protestos, as autoridades cubanas decidiram, na quarta-feira, permitir a entrada sem restrições de alimentos, produtos de higiene e medicamentos por viajantes do exterior.
A medida é sem precedentes, pois o país tinha uma limitação na quantidade de produtos que poderiam entrar na ilha, e também tinha um sistema de tarifas em vigor. A decisão será válida até 31 de dezembro e é de natureza “excepcional”.
De agora em diante, aqueles que entrarem em Cuba não terão um limite para levar estes tipos de produtos em sua bagagem. Só estará sujeito aos limites estabelecidos pela companhia aérea. A liberalização diz respeito apenas às importações não comerciais.
Até agora, a lei cubana permitia a entrada de até 10 kg de medicamentos livres de impostos. Para alimentos e outros produtos, a entrada estava sujeita a uma tarifa. De agora em diante, todos esses limites e impostos serão suspensos.
A decisão vem no contexto de uma série de medidas pró-mercado que o governo do PC vem implementando nos últimos tempos, incluindo a reunificação cambial e monetária, mas também uma crescente descentralização das empresas estatais.
No domingo, uma série de protestos massivos em Havana se tornou a maior mobilização no país caribenho desde os anos 90.
Eles expressaram o mal estar popular pela pobreza e a falta de produtos básicos, uma situação muito agravada pela pandemia. Além destas exigências legítimas, também é verdade que existiam setores pró-Yankee que exigiam a intervenção dos EUA na ilha.
Entretanto, vários dos manifestantes presos nas mobilizações eram militantes de esquerda e socialistas, apesar do fato de que o aparato da mídia burguesa tentou retratar as mobilizações como operações orientadas ao imperialismo.
Uma concessão à mobilização
Apenas três dias após as manifestações, a medida de liberalização da entrada de bens básicos só pode ser vista como uma concessão aos protestos.
Um dos principais slogans escutados durante as manifestações pedia o fim da fome e a falta de suprimentos básicos.
Entretanto, esta medida é de natureza extremamente limitada e seu impacto real será muito relativo. Muitos cubanos não têm parentes ou contatos no exterior que possam enviar-lhes medicamentos ou necessidades básicas.
Na realidade, esta é uma medida paliativa perfeitamente compatível com a liberalização econômica que o governo cubano vem buscando há anos, com ênfase especial nos últimos meses.
De fato, são precisamente estas medidas, juntamente com o impacto da pandemia, que levaram a um aprofundamento da desigualdade e da pobreza. Especialmente a “reunificação cambial” entre o peso cubano e a CUC, o que significou uma brutal desvalorização da renda das massas populares.
Isto implica que o descontentamento político na ilha não necessariamente derivará num fortalecimento dos setores pró-capitalistas, isto ainda está por ver-se
Portanto, o conteúdo das mobilizações está em disputa com este outro setor que defende os ganhos da Revolução, mas rejeita as políticas de fome e repressão da burocracia castrista.
Tradução: José Roberto Silva