KIM MOOD(*)
A classe trabalhadora do século XXI é uma classe em formação, como era de se esperar em um mundo no qual o capitalismo só recentemente se tornou universal. Ao mesmo tempo, o próprio Marx nos lembrou há muito tempo, ao falar do desenvolvimento das classes na Inglaterra, onde elas “se desenvolveram na forma mais clássica“, que “nem mesmo lá, no entanto, essa articulação de classes emerge de forma pura”1/. A classe trabalhadora, é claro, é muito mais ampla do que as pessoas que estão empregadas em um determinado momento. Guiar-se apenas pelas estatísticas da força de trabalho escamoteia aspectos importantes da vida da classe trabalhadora no sentido amplo, incluindo sua reprodução. Entretanto, aqueles que entram e saem do emprego constituem o núcleo da classe trabalhadora, outrora considerado o domínio dos homens, mas hoje também composto, quase igualmente, de mulheres. Além disso, tanto as limitações de espaço quanto as de pesquisa me obrigam a concentrar este artigo nos setores empregados ou semiempregados desta classe global. Com estas reservas em mente, vamos examinar primeiro o crescimento da força de trabalho global no século XXI.
As forças motrizes contemporâneas por trás desta dinâmica foram a globalização desigual do capitalismo em geral e o aumento simultâneo das corporações multinacionais após a Segunda Guerra Mundial; a queda na taxa de lucro que começou no final dos anos 60 empurrou o capital para fora de suas antigas fronteiras, causando crises recorrentes, bem como a abertura ao capitalismo das antigas economias burocráticas comunistas e, mais recentemente, o aprofundamento das cadeias de valor globais (CVGs). Estas últimas vêm se desenvolvendo há algum tempo, mas nas últimas duas décadas moldaram o crescimento econômico e as mudanças em muitas economias em desenvolvimento, ao incorporar o trabalho reprodutivo doméstico anteriormente não remunerado, a pequena produção de mercadorias e as cadeias de abastecimento doméstico pré-existentes na esfera das cadeias de produção de valor do capital multinacional. Isto deslocou alguns setores e postos de trabalho nas economias desenvolvidas, mas também levou a uma expansão para novas áreas. Assim, por exemplo, embora o peso dos países desenvolvidos na produção mundial tenha diminuído, os EUA e a UE produzem agora mais valor agregado do que há 20 ou 30 anos atrás.
Crescimento da força de trabalho global
De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), a força de trabalho global cresceu 25% entre 2000 e 2019. O número de pessoas empregadas em troca de uma renda aumentou de 2,6 bilhões para 3,3 bilhões durante estas duas primeiras décadas do século 21. Destes empregados, nos dados da OIT, 53% são assalariados, contra 43% em 1996; 34% são considerados trabalhadores por conta própria, contra 31% em 1996; 11% são colaboradores familiares, menos da metade dos 23% que representavam em 1996; e 2% são empregadores, que somavam 3,4% em 19962/ .
Obviamente, nem todos os não-empregadores destas estatísticas da OIT fazem parte da classe trabalhadora. Muitos são profissionais ou executivos assalariados de vários tipos, outros são proprietários de pequenas empresas, vendedores ambulantes, e assim por diante. É provável que cerca de dois terços, ou pouco mais de 2 bilhões, das pessoas que a OIT classifica como empregadas constituam a classe trabalhadora. Entretanto, estas pessoas empregadas da classe trabalhadora do século XXI é uma classe em formação, como seria de esperar em um mundo no qual o capitalismo só recentemente se tornou universal. A classe trabalhadora não é apenas aquela que recebe um soldo ou um salário. Muitas das pessoas consideradas, assim como os colaboradores familiares, estão de fato incluídos na relação de emprego entre capital e trabalho através das cadeias de valor ou de fornecimento nacionais ou globais expandidas e aprofundadas que têm caracterizado o crescimento capitalista por algum tempo. O trabalhador por conta própria ou autônomo é frequentemente um truque usado pelos empregadores para fugir de impostos, benefícios e responsabilidades sobre essas pessoas. As mulheres são muito mais propensas do que os homens a serem empregadas informalmente.
Agora, esta informalidade é uma definição jurídica de trabalhadores situados fora da maioria das formas de regulamentação oficial de emprego. Por esta definição, a maior parte da classe trabalhadora na época de Marx seria informal. Como diz Ursula Huws a respeito de várias formas de trabalho reprodutivo não remunerado ou da prestação de serviços individuais não produtivos (de mais valor), “a história do capitalismo pode ser vista sinoticamente como a história da transformação dinâmica deste tipo de trabalho em outros, com o efeito geral (como previu Marx) de deslocar uma proporção crescente de trabalho humano para a categoria produtiva, onde se sujeita à disciplina dos capitalistas, para os que produzem valor“3/ .
Assim, o Banco Mundial observa que os trabalhadores domésticos, que são desproporcionalmente mulheres, constituem uma parte significativa do extremo inferior das cadeias de valor (de fornecimento) empresariais mundiais. Além disso, estudos sobre o impacto dessas cadeias de fornecimento mostram que um grande número de trabalhadoras do setor informal, classificadas nas categorias de trabalhadores por conta própria ou trabalhadores colaboradores familiares no Sul da Ásia, África e em todo o mundo em desenvolvimento, se incorporam comumente nos CVGs4/.
Essas cadeias de fornecimento dominadas pelas empresas não apenas conectam as economias em desenvolvimento às multinacionais, mas também remodelam a economia local e a força de trabalho para atender às necessidades corporativas. Mesmo que a maioria da classe trabalhadora de um país não esteja diretamente ligada a uma cadeia de valor empresarial, o grau de informalidade, os níveis salariais, o ritmo de trabalho e as proporções de gênero são, na maioria dos casos, estabelecidos pela dinâmica e velocidade das cadeias de fornecimento just in time das multinacionais. Como Bhattacharya e Kesar apontam, o crescimento da manufatura capitalista na Índia fez aumentar o setor informal porque é mais barato usar antigos pequenos produtores de mercadorias e lidar com as trabalhadoras domésticas, sendo as mulheres aportam trabalho (escassamente) remunerado e trabalho reprodutivo não remunerado que reduz o custo de cada trabalhadora. Longe de ser pré-capitalista, este emprego informal é um produto do capitalismo universalizado 5/.
Os CVGs se expandiram de cerca de 45% do comércio mundial em meados dos anos 90 para quase 55% em 2008, antes de diminuírem ligeiramente para cerca de 50% 6/. Como resultado, os setores de crescimento mais rápido foram os associados à infraestrutura e ao funcionamento desses CVGs. Segundo estimativas da OIT, o emprego nos transportes e comunicações cresceu nas duas primeiras décadas do século 21 em 83% – na construção civil em 118% – a um ritmo mais rápido do que em qualquer outro setor importante. Em termos de emprego direto, esses setores empregam principalmente trabalhadores masculinos. Entretanto, um resultado importante da expansão dos CVGs foi o aumento da proporção de mulheres, de 40% da força de trabalho empregada em 2000 para quase metade (49%) em 2019, enquanto na fabricação que depende dessas cadeias de valor, a proporção de mulheres aumentou de 41% para 44% em 2019 7/.
Além disso, um número cada vez maior de trabalhadores e trabalhdoras também tem sido pego no nó das relações sociais de produção do capital, como diz Huws, através da crescente mercantilização dos serviços públicos e do trabalho de reprodução social anteriormente não remunerado, ou seja, através da organização capitalista dos serviços anteriormente prestados pelo Estado através do trabalho assalariado, ou em casa ou na comunidade sem remuneração. Uma parte desproporcional desses setores é composta por mulheres, que constituem dois terços da força de trabalho em educação, saúde e serviços sociais em todo o mundo 8/. Uma indicação desta tendência é o rápido aumento dos serviços de mercado, que aumentaram de 20% do emprego na definição da OIT em 1991 para 31% em 2018. Outra é o declínio para menos de 10% do capital público e do patrimônio público como parte da riqueza nacional na maioria dos principais países industrializados 9/.
Ao examinar a recomposição da classe trabalhadora nos países desenvolvidos, é comum apontar o aumento dos serviços e o declínio da produção de bens, no pressuposto de que isto equivale a uma contração da classe trabalhadora. Na verdade, a divisão entre os dois setores é em grande parte o resultado do desconhecimento de como a classe trabalhadora global cria valor no capitalismo contemporâneo. A produção de serviços também é cada vez mais dominada por corporações gigantes e envolvidas nas CVGs, e sua participação no comércio de valor agregado aumentou de 31% em 1980 para 43% em 2009.
É importante ter presente que a produção de bens é essencial para o fornecimento de serviços e vice-versa. Nenhum serviço é fornecido sem coisas e nenhum bem é produzido sem o insumo de serviços. Presume-se que a mão-de-obra invertida em ambas as atividades gera mais-valia. O valor de uso da mercadoria que produz é secundário. Enquanto o emprego no setor mundial de serviços cresceu 61% nas duas primeiras décadas do século 21, a força de trabalho industrial internacional cresceu 40% 10/. Esta diferença relativa no crescimento se deve em parte ao crescimento contínuo da produtividade na manufatura global a um ritmo mais rápido do que o da economia mundial como um todo, e não a um declínio na produção industrial.
De fato, mesmo neste período de crescimento mais lento, o valor agregado da manufatura global, longe de desaparecer, cresceu 123% em dólares atuais, ou cerca da metade em termos reais, de 2000 a 2019. Em geral, ao contrário da noção de um mundo pós-industrial, a força de trabalho industrial cresceu de 393 milhões em 2000 para 460 milhões em 2019, enquanto a força de trabalho industrial (manufatura, construção e mineração) cresceu de 536 milhões para 755 milhões durante o mesmo período. Este número não inclui os trabalhadores dos transportes, comunicações e serviços urbanos, que também são essenciais para a produção de bens e que empregavam outros 226 milhões de pessoas em 2019, em comparação com 116 milhões duas décadas antes. Juntos, este núcleo industrial representava 41% da força de trabalho global não agrícola em 2019 11/. Em outras palavras, as e os industrial workers of the world, para tomar emprestada uma expressão, continuam sendo um núcleo maciço de produção de valor e da população trabalhadora. No entanto, sua distribuição geográfica mudou.
Dispersão geográfica e desigualdade
O crescimento da produção global, e com ela da força de trabalho, não está igualmente distribuída pelo mundo. Enquanto os países desenvolvidos ainda produzem a maior parte do valor agregado industrial (IVA), os países em desenvolvimento aumentaram sua participação de 18% em 1990 para cerca de 40% em 2019, enquanto a dos países industrializados caiu de 79% para 55% no mesmo período. A participação da UE caiu de 33% do IVA global em 1990 para 22% em 2018, enquanto que a participação da Ásia aumentou de 24% para 37% durante este período. Só a China passou de cerca de 5% da IVA mundial em 2000 para 20% em 2018. No período mais recente, muito do aumento da participação da Ásia na IVA ocorreu em quatro países – China, Índia, Indonésia e República da Coréia. O emprego seguiu o exemplo, com a participação dos países industrializados no emprego industrial caindo de 30% em 1991 para 18% em 2018 12/. No século XXI o crescimento do trabalho informal e de produção de bens, e o crescente papel da mulher em ambos, ocorreu principalmente no mundo em desenvolvimento.
Ao mesmo tempo, o deslocamento econômico, políticos e resultantes da guerra e da miséria geraram uma crescente população migrante internacional. O número de pessoas que vivem fora de seu país de origem aumentou de 173.588.441 em 2000 para 271.642.105 em 2019, um aumento de 57%. A maioria delas está em idade de trabalhar, e 48%, quase metade, são mulheres. A Organização Internacional para as Migrações (OIM) em 2017 classificou cerca de 111 milhões como trabalhadores migrantes, que em 2018 enviaram remessas para seus respectivos países de origem no valor de US$ 689 bilhões 13/ .
Pelo menos 500 milhões de pessoas recebem essas remessas, que contribuem significativamente para a reprodução social da classe trabalhadora mundial e, portanto, para a redução dos custos do trabalho para o capital internacional. Como Ferguson e McNally têm assinalado, ignorar o papel do trabalho migrante é “perder os processos internacionais de desapossamento e acumulação primitiva, que, entre outras coisas, geram reservas globais de força de trabalho cujos movimentos transfronteiriços estão no coração da produção e reprodução do capital e do trabalho no mundo“. Assim, 111 milhões de trabalhadores mais estão entrando e saindo dos estáticos números de emprego da OIT e dos processos de formação de classe, particularmente nos centros de produção importantes como os EUA, Europa e Oriente Médio 14/.
O capital em geral tem jogado muito bem suas cartas com as mudanças geográficas, avanços tecnológicos, reorganização da produção e até mesmo crises no sistema como um todo. Em geral, na maioria das economias desenvolvidas e em desenvolvimento, quer os salários reais tenham aumentado ou diminuído, a participação da renda do trabalho no PIB diminuiu a partir de meados dos anos 70, com altos e baixos, até 2019. A participação da renda do capital aumentou, portanto. Como resultado, a participação dos 10% mais ricos na renda nacional em todas as grandes economias aumentou, enquanto que a dos 50% mais pobres diminuiu15/.
A pobreza continua sendo uma característica central do trabalho nos países em desenvolvimento, apesar das alegações de que diminuiu, em grande parte como resultado da manipulação da definição de pobreza. Aconselhamos também a visitar o site dos nossos patrocinadores – https://blackjack-online.nz/ Mesmo na Europa, antes o pináculo do estado bem-estar social, segundo o teórico socialdemocrata Wolfgang Streeck, “seguidamente se analisará a trajetória de longo prazo da política social europeia, que mudou de um previsto estado federal socialdemocrata para um programa de ajuste competitivo aos mercados globais” 16/. Em resumo, a classe trabalhadora perdeu a partida em todos os lugares.
Muito desse aumento da desigualdade se deve ao declínio relativo dos sindicatos e à conseguinte estagnação dos salários nas economias desenvolvidas, ao aumento contínuo da produtividade industrial em todo o mundo e à crescente incorporação de setores formais e informais de baixos salários nos sistemas de produção globais. Estas tendências contribuíram para o aumento generalizado das taxas de exploração. Como aponta o economista político Anwar Shaikh, “o nível global de desigualdade de renda se baseia, em última análise, na relação entre lucros e salários, ou seja, na distribuição de mais-valia” 17/ . Esta relação tem se inclinado em favor do capital com métodos avançados de supervisão, medição, quantificação e padronização do trabalho, que em última instância afetam a classe trabalhadora em todos os lugares.
Tecnologia e controle do trabalho
Para centenas de milhares de trabalhadores em todo o mundo, o trabalho continua sendo, antes de tudo, um esforço físico cansativo, aparentemente eliminado do regime de automação de alta tecnologia e gestão digital, que não tem feito mais do que intensificar o trabalho. Não importa como ou onde eles estejam trabalhando, o ritmo e o esforço são ditados por esta medição digital e das instruções de trabalho ao longo das vastas cadeias de fornecimento just-in-time que agora atravessam o globo.
O que mais mudou na natureza do trabalho nas últimas duas décadas foi o grau, penetração e aplicação de tecnologias digitais que controlam, quantificam, padronizam, modulam, mapeiam e instruem o trabalho de indivíduos e grupos18/ . Estes se baseiam, ainda que transcendam, nos esforços do Taylorismo e da produção ajustada para quantificar, fragmentar, padronizar e assim controlar o trabalho individual e coletivo, independentemente do produto ou serviço que produz. A digitalização de grande parte da tecnologia relacionada ao trabalho pode ser medida e sequenciada até nanos segundos, ao contrário dos minutos e segundos de Taylor, proporcionando uma precisão que falta na simples eliminação do desperdício da produção ajustada através da gestão pelo estresse. Isso também significa que todos os aspectos do trabalho são quantificados. A simplificação através da quantificação permite a velocidade, e a velocidade requer quantificação. O estresse pode ser medido, mas não a emoção, os efeitos do treinamento profissional ou as habilidades tácitas de cada pessoa.
Tudo isso se aplica aos serviços já convertidos no século XX de serviços domésticos e trabalhos realizados por profissionais locais ou pequenas empresas para serviços prestados por grandes empresas, então reorganizados com critérios ajustados e agora administrados digitalmente, de call centers a hotéis e manutenção de edifícios. As medidas digitalizadas de hoje também são aplicadas a trabalhos profissionais, tais como saúde e educação. Os dados são coletados do pessoal e utilizados contra eles nestas áreas, como em uma fábrica ou armazém. Assim, o trabalho de um professor é medido pelo nível do corpo estudantil (que supostamente é seu produto) à luz de testes padronizados baseados em conhecimentos padrão, de modo que os professores são forçados a ensinar para passar no teste.
As enfermeiras hospitalares podem ser rastreadas por GPS e seu trabalho é ditado por sistemas algorítmicos de Apoio à Decisão Clínica, que recomendam tratamentos padrão. Em ambos os casos, o pessoal pode ser substituído por pessoas menos qualificadas e menos caras que executam tarefas padronizadas. Uma vez que são em sua maioria mulheres que desempenham um trabalho emocional, o conteúdo emocional do posto de trabalho é concebido como um presente não reconhecido ao capital: o aspecto não remunerado do trabalho de reprodução social, realizado no local de trabalho e não em casa 19/.
A Amazon é o exemplo mais citado de pessoal dirigido digitalmente, e por bons motivos. Um estudo recente de um centro logístico da Amazon na Califórnia descreve o contexto em que o pessoal trabalha: “Para coreografar o brutal balé que se desencadeia assim que um cliente clica para enviar seu pedido para a entrega no dia seguinte na Amazon Prime, a empresa aproveita seu poder algorítmico e técnico dentro de sua enorme rede de tecnologia digital e de comunicação, instalações de armazenamento e maquinário, enquanto flexibiliza numericamente sua força de trabalho para cima e para baixo em sincronia com a demanda flutuante de sua clientela“. Em centros idênticos em todo o mundo, o trabalho em si é dirigido por scanners e computadores portáteis ou de pulso que rastreiam, cronometram e guiam o pessoal até o produto em questão. Os funcionários têm 30 minutos por turno de tempo não-tarefa, ou seja, tempo em que não estão em movimento. Além disso, se veem empurrados por robôs Kiva, que também localizam e coletam produtos20/. Este é o protótipo do trabalho em todos os lugares, a menos que a resistência da classe trabalhadora o impeça.
Raramente mencionada é outra dimensão da tecnologia de trabalho atual: como com a própria força de trabalho global, a força de trabalho em armazém da Amazon é multirracial e multinacional. Como ressaltou a revolta internacional de Black Lives Matter em 2020, a raça e o racismo, embora especialmente entrincheirados nos EUA, estão enraizados em todo o mundo desde os dias da escravidão e do colonialismo. O racismo sob o capitalismo não é apenas um meio de dividir a classe trabalhadora, mas também de impor o status de classe trabalhadora a grupos raciais ou étnicos cujas oportunidades na vida são limitadas por barreiras raciais ou étnicas. É uma força na formação da classe. Por isso, a população afro-americana é desproporcionalmente de classe trabalhadora e pobre. Embora o capitalismo possa ter herdado o racismo da era da escravidão e da conquista colonial, tem distribuído o trabalho e a força de trabalho em bases raciais, étnicas, de gênero e nacionais desiguais por gerações 21/ . Como nas práticas de gestão em geral, a tecnologia que classifica o pessoal de acordo com a ocupação, posto, qualificação, atitude, etc., tem a marca desta herança.
A inteligência artificial (IA) e os algoritmos são programados por humanos que cresceram neste contexto histórico, que na maioria das vezes mantêm muitas de suas suposições ancestrais, geralmente inconscientemente, ao mesmo tempo em que utilizam dados necessariamente baseados no passado. Como disse um analista, “o passado é um lugar muito racista“. E só temos dados do passado para formar inteligência artificial” 22/ . O argumento de um matemático em referência aos resultados raciais dos programas de IA usados pela polícia para prever áreas de alta criminalidade aplica-se a todos os aspectos da vida: dados racialmente tendenciosos “criam um loop de feedback pernicioso que reforça os clichês raciais e, portanto, a alocação de pessoal racial e das oportunidades na vida 23/ .
Um dos exemplos mais chocantes é a tecnologia de reconhecimento facial, utilizada por empresas e departamentos policiais, que muitas vezes não consegue distinguir indivíduos com tez escura uns dos outros 24/. Não é por acaso que a maioria das trabalhadoras mal remuneradas e super exploradas neste armazém da Amazon na Califórnia sejam latinas ou negras. O racismo, afinal, é uma das armas de luta de classe do capital, agora enxertada em sua tecnologia. O mesmo pode ser dito de gênero e machismo. Por exemplo, os sistemas de Apoio à Decisão Clínica impostos às enfermeiras baseiam-se em estudos clínicos que “excluíram sistematicamente as mulheres e as minorias” 25/.
O trabalho e o controle das rotas do capital
A tecnologia, os padrões de emprego e os fluxos de bens, serviços e capital que caracterizam a produção nacional e configuram o mundo do trabalho são, por sua vez, apoiados por uma infraestrutura física internacional cada vez mais profunda para o transporte de produtos e de valor em todo o mundo. Estas rotas materiais do capital consistem principalmente de estradas, ferrovias, vias marítimas, portos, oleodutos, aeroportos e armazéns tradicionais. Agora eles também incluem grandes conglomerados logísticos de base urbana com suas instalações e mão-de-obra, quilômetros de cabos de fibra ótica, que só foram amplamente utilizados desde o final dos anos 90, centros de dados cuja aplicação é ainda mais recente, e armazéns projetados mais para transferência do que para o armazenamento e reconvertidos tecnologicamente.
Esta infraestrutura em sua maior parte incrustada é fruto do trabalho de milhões de pessoas que a constroem e mantêm e das qual depende. Se a tecnologia impõe controles, a dependência da infraestrutura de trabalhos continuados proporciona à mão-de-obra seu próprio instrumento de controle: a possibilidade de retardar ou parar o constante movimento de valor e, portanto, o processo de acumulação.
Marx entendia que o transporte e as comunicações fazem parte da produção de valor26/. Assim, as dezenas de milhões de trabalhadores em todo o mundo que trabalham nesses depósitos incrustados de capital fixo constante, e nos caminhões, trens, navios, aviões, centros de transmissão por cabo e centros de dados que movimentam mercadorias, dados e finanças através dessa infraestrutura, são mão-de-obra produtiva da mesma forma que aqueles que trabalham em fábricas ou em locais de prestação de serviços. Eles fazem funcionar os circuitos do capital e garantem grande parte da velocidade de operação desses circuitos. É através destas rotas de transporte e comunicação que estes circuitos do capital se movem na familiar fórmula marxista, D-M-D’, movimentos que se repetem sequencialmente e simultaneamente milhões de vezes ao dia. A velocidade com que isso acontece determina o lucro potencial27/. E, é claro, impulsionados pela concorrência global, velocidade e entrega just-in-time tornaram-se requisitos importantes da produção e da logística contemporânea.
Isto é tão verdadeiro para aqueles que trabalham no movimento de dados, informações e dinheiro quanto para aqueles que dirigem um caminhão, operam os motores de um navio porta-contêiner, mantêm uma tubulação ou trabalham em uma fábrica – todas aquelas pessoas que combinam força de trabalho viva com força de trabalho morta acumulada para produzir valor. Nenhuma parte desta infraestrutura, como tampouco os bens de capital que passam por ela, funciona sem a mão e a mente da pessoa que trabalha. Mesmo o sistema mais automatizado requer manutenção e reparos constantes. Por exemplo, no início da década de 2020, os 39 centros de dados supostamente 100% automatizados nos EUA e na Irlanda empregavam 10.000 pessoas para mantê-los cantarolando 28/.
O que é chamado de nuvem ou ciberespaço nada mais é do que um vasto complexo de cabos de fibra óptica, centros de dados, transmissores e computadores. Como aponta um artigo do New York Times, “as pessoas pensam que os dados estão na nuvem, mas não estão. Estão no oceano“. Na verdade, eles também estão acima e abaixo da terra, bem como debaixo do mar, seguindo as rotas originalmente estabelecidas em meados do século 19 para os cabos telegráficos. Os atuais cabos de fibra ótica transportam 95% do tráfego da Internet. Todo o sistema físico conectado e suas partes são altamente vulneráveis e as rupturas e interrupções abundam29/.
O sistema é implantado e reparado por pessoas que trabalham em navios cabeiros, em estações de transmissão ao redor do mundo, por pessoas empregadas por empresas nacionais de telecomunicações e pelo crescente número de grandes centros de dados que, como disse James Bridle, “geram enormes quantidades de calor desperdiçado e requerem quantidades correspondentes de resfriamento de milhares de sistemas de ar condicionado“30/. Tudo isso, por sua vez, requer trabalho humano para funcionar. Em todos os pontos deste movimento aparentemente imaterial de dados e dinheiro há trabalhadores de diferentes categorias e diferentes qualificações sem os quais nada se movimentaria. Não há digitalização sem manipulação humana.
Em um período de níveis relativamente baixos de investimento em bens de capital, inúmeros bilhões foram gastos na ampliação e aprofundamento desta infraestrutura. Olhando para uma medida ligeiramente mais ampla, a Price Waterhouse Coopers estima que o investimento privado em infraestrutura atingiu 1,7 trilhões de dólares de 2010 a 2017, em um setor onde o investimento público é frequentemente muito pesado31/. Novos cabos são regularmente instalados, portos e canais cavados, linhas ferroviárias internas instaladas, mais aeroportos construídos e os existentes expandidos32/. Por maiores que sejam estes novos investimentos, eles representam apenas o custo e a mão-de-obra iniciais. Como aponta Akhil Gupta com respeito aos muitos novos projetos de infraestrutura ao redor do mundo, “assim que o projeto for concluído e oficialmente inaugurado, os trabalhos de reparo começarão” 33/. Isso significa que trabalho morto envolvido na infraestrutura requer a entrada constante de trabalho vivo ao longo de sua vida operacional.
Uma grande força motriz por trás desta expansão de infraestrutura é a iniciativa da Nova Rota da Seda do Presidente chinês Xi Jinping, lançada em 2013. Sob seu guarda-chuva, tem sido financiada, em grande parte através de empréstimos, uma rede de super estradas, ferrovias (três da China para a Europa), portos e aeroportos que “se estende ao Oceano Pacífico, ao Oceano Índico e ao coração da África“, assim como ao Oriente Médio e à Europa. A partir de 2015, a China reservou US$ 890 bilhões para investir em 900 projetos 34/. Em 2019, ela “focou em energia, infraestrutura e transporte, com um investimento potencial total de cerca de US$1,4 trilhão, uma escala sem precedentes“, segundo o analista Daniel Yergin35/ . Estes planos implicam no recrutamento de um grande número de trabalhadores nos vastos territórios da Ásia Central e do Sul, do Oriente Médio e da África, que realizam estes projetos e têm o potencial de paralisá-los através de sua ação coletiva.
Uma era de rebeldia: classe ou multidão?
Tudo isso ocorreu em um período de turbulência econômica e crises recorrentes, uma crise climática que não pode mais ser negada, e agora a pandemia da covida-19. Cada um desses fatores contribuiu, de uma forma ou de outra, para um aumento dramático do ativismo social, do número de greves e da mobilização de massas em oposição à situação prevalecente. Em quase todos os lugares, essas greves, manifestações de massa e mobilizações foram desencadeadas por mudanças econômicas, rupturas e estados de angústia às vezes causados por guerras. Mas eles têm sido de caráter político, na medida em que têm sido dirigidos principalmente contra os governos e as políticas neoliberais e a corrupção concomitante, que tem causado sofrimento para a maioria das pessoas ao redor do globo. A revolta internacional que começou com a primavera árabe em 2011 e que continuou e até acelerou durante a pandemia de 2020 é muito grande para ser descrita aqui em detalhes. Em vez disso, vou tentar analisar algumas de suas principais características e o papel da classe trabalhadora nesta revolta geral.
De acordo com uma análise da agitação social em 2019 pela empresa de avaliação de risco Versisk Maplecroft, 47 países, ou quase um quarto do total, assistiram grandes distúrbios civis somente em 2019. Esta contagem mostra como estes protestos abrangeram todas as regiões do mundo, exceto a América do Norte 36/. Entretanto, omitiu algumas ações importantes na América do Norte, incluindo várias greves gerais, a revolta maciça do Black Lives Matter e as manifestações e greves de julho em Porto Rico37/. A esta convulsão social se somaram em 2020, novas mobilizações e manifestações em massa, que em parte continuam, em Belarus, Tailândia e Extremo Oriente russo; greves em massa na Indonésia; assim como a revolta do Black Lives Matter nos EUA e em grande parte do mundo 38/.
Muitas dessas mobilizações foram iniciadas por estudantes ou ativistas de diversas classes, portanto, a questão do papel desempenhado pela classe trabalhadora e suas organizações em toda essa convulsão social precisa ser abordada. David McNally analisou “o retorno da greve de massa” com algum detalhe. Com relação às greves de massa que ocorreram desde a recessão de 2008, ele escreve em 2020:
Ao longo da década transcorrida desde a Grande Recessão, assistimos a uma série de grandes greves gerais (Guadalupe e Martinica, Índia, Brasil, África do Sul, Colômbia, Chile, Argélia, Sudão, Coréia do Sul, França e muitas outras), bem como a ondas de greve que ajudaram a derrubar Chefes de Estado (Tunísia, Egito, Porto Rico, Sudão, Líbano, Argélia, Iraque) 39/.
Além disso, houve greves em massa de magnitude variável ao redor do mundo, muitas vezes relacionadas a questões de reprodução social, incluindo as greves dos professores de 2018-2019 nos EUA. Como McNally salienta, a greve de massa também tem sido uma arma empunhada pelo movimento feminista, especialmente nas greves internacionais de mulheres que abrangeram 50 países em 2017 e 2018, em nome do feminismo dos 99%. Algumas das greves de massa, observa ela, ocorreram em meio a mobilizações mais amplas em ruas e praças ao redor do mundo, como em Hong Kong, Chile, Tailândia, Ucrânia, Líbano e Iraque 40/.
O fato de que a ação da classe trabalhadora tem estado no centro da revolta se reflete em algumas figuras gerais. O Instituto Sindical Europeu estima que entre 2010 e 2018 houve 64 greves gerais na União Europeia, quase metade delas na Grécia 41/. De modo mais geral, a OIT calcula, com respeito a apenas 56 países, que houve 44.000 paradas de trabalho entre 2010 e 2019, principalmente em fábricas. O autor do relatório da OIT, no entanto, assinala que, em vista da limitação dos, o número de greves “poderia ser muito superior a 44.000” 42/. Somente na China, o China Labour Bulletin contou cerca de 6.694 greves entre 2015 e 2017 numa ampla gama de setores. Lu Chunsen estima que houve 3.220 greves de trabalhadores industriais na China entre 2011 e maio de 2019, apesar da natureza precária do trabalho, da migração interna maciça para as cidades e da proibição de greves por parte do governo43/. Vemos aqui um exemplo claro da fusão da mão-de-obra migrante informal com a força de trabalho formal e suas ações subsequentes.
Sabemos que os sindicatos têm desempenhado um papel importante em muitas das lutas recentes, inclusive nos casos em que foram líderes da classe média que estiveram na vanguarda das massas. Em Belarus, por exemplo, uma entrevista da BBC com um líder sindical revelou que ele havia sido um dos principais líderes da rebelião. E mais, os participantes relatam que as manifestações “estavam se convertendo em um movimento mais amplo da classe trabalhadora, implicando em mobilizações nos locais de trabalho” 44/.
Em uma análise detalhada da primavera árabe, Anand Gopal observa que enquanto a classe trabalhadora sindicalizada desempenhou um papel fundamental na maioria das revoltas árabes, nos estágios iniciais da revolta síria, as massas trabalhadoras fragmentadas surgiram primeiro nas favelas e que “a base do movimento era composta por trabalhadores precários, semiempregados que simplesmente não tinham poder estrutural suficiente para ameaçar a elite síria” 45/.
Em outras palavras, grande parte da base de massa de 2011 veio dos setores da classe trabalhadora organizada e informal na maioria dos países árabes, e muitas dessas pessoas, como vimos acima, terão estado envolvidas nos CVGs do capital multinacional, trabalhando nos campos petrolíferos, na manutenção de oleodutos, no Canal de Suez ou nos muitos portos do Oriente Médio e do Norte da África. Gopal afirmaa que a sua mesma precariedade e o seu emprego informal implicam que seu poder era fraco. Em muitos países em desenvolvimento, entretanto, estes trabalhadores se organizaram em seus bairros e em sindicatos nacionais, associações e cooperativas de trabalhadores informais ou migrantes, bem como em locais de trabalho, para tomar as ruas e praças, como a classe trabalhadora tem feito durante gerações 46/.
A aparência interclassista de muitas das pessoas que protagonizavam as greves e manifestações deve-se também à proletarização de setores educados, como professores e enfermeiros, cujos trabalhos foram padronizados e sujeitos a uma gestão corporativa mais rigorosa, de acordo com os processos descritos acima, assim como a incorporação de muitas e muitos millennials em empregos de classe trabalhadora. Nesses casos, as divisões de classe aparecem borradas, mas o destino social da maioria desta geração e da próxima é sem dúvida a classe trabalhadora. Muitas dessas pessoas estão envolvidas em greves de trabalhadores de plataforma ou de entregas ou outras trabalhadoras que acabam se descobrindo como essenciais para a reprodução social no contexto da pandemia, o que provavelmente acelerará esta transformação social.
O que parece claro é que se foram os estudantes que acenderam o pavio ou não, ou se profissionais e políticos de classe média assumiram a liderança, a base de massa da maioria das revoltas da última década foi de composição trabalhadora, e que em grande parte eles usaram a arma tradicional da greve de massa. Isto ocorreu quer fossem membros do sindicato, quer tivessem ou não um emprego permanente, da mesma forma que as massas analisadas por Rosa Luxemburgo na revolução russa de 1905, cujas greves “mostram uma tal multiplicidade das mais variadas formas de ação” 47/ . Todo este período tem sido um exemplo de auto atividade da classe trabalhadora com exigências tanto econômicas quanto políticas.
Agora, em nenhum dos casos as greves ou mobilizações em massa visavam tomar o poder para a própria classe trabalhadora ou implementar um programa para o estabelecimento do socialismo. Em nenhum país a classe trabalhadora ou as classes mistas em transição foram organizadas para alcançar tais objetivos. Em alguns casos, parecia não haver líderes reconhecíveis. Os participantes se articulavam em uma “multiplicidade das mais variadas formas de ação [e organização]“, muitas vezes através do uso de redes sociais.
A dificuldade em analisar o potencial deste tempo de convulsão é aumentada pelo impacto incerto da tríplice crise do capitalismo, e em particular o efeito da pandemia, sobre uma variedade de setores econômicos e CVGs. Esta especulação dá para outro artigo. A compreensão mais útil do potencial da atual revolta é a descrita por McNally, que argumenta que “os novos movimentos de greve são precursores de um período de recomposição de culturas de resistência dos trabalhadores combativos, o verdadeiro terreno em que podem florescer políticas socialistas”48/.
É impossível prever se esta recomposição ajudará a organizar uma revolta geral da classe trabalhadora, mas como Mark Meinster, representante do sindicato United Electrical Workers, escreve em Labor Notes, “as revoltas dos trabalhadores ocorrem frequentemente no contexto de profundas mudanças sociais na sociedade como um todo, tais como um deslocamento econômico abrupto e generalizado, uma profunda perda de legitimidade das elites dirigentes ou uma instabilidade política incomum” 49/. Isto descreve bem a situação que o movimento operário enfrenta hoje em dia em todo o mundo.
Notas
1/ Karl Marx, O Capital, vol. III.
2/ Organización Internacional del Trabajo, Perspectivas Sociales y del Empleo en el Mundo: Tendencias 2020 (OIT, 2020), 19; Organización Internacional del Trabajo, Estimaciones y proyecciones basadas en modelos de la OIT: empleo por sector: anual, noviembre de 2019, MBI_33_EN(2).xlsx; Informe Mundial Sobre Salarios 2008/2009 (OIT, 2008), 10.
3/ Ursula Huws, ” Social Reproduction in Twenty-First Century Capitalism”, en Leo Panitch y Greg Albo, eds., Socialist Register 2020 (Londres: The Merlin Press, 2019), 169.
4/ Banco Mundial, Informe anual 2020, 88; Snehashish Bhattacharya y Surbhi Kesar, “Precarity and Development: Production and Labor Process in the Informal Economy in India”, Review of Radical Political Economics (vol. 52, nº 3, 2020), 387-408; Kate Maegher, “Working in chains: African informal workers and global value chains”, Agrarian South: Journal of Political Economy (vol. 8, nº 1-2, 2019), 64-92; OIT, Interacciones de las organizaciones de trabajadores con la economía informal: Compendio de Prácticas (ILO, 2-19), 13-14.
5/ Bhattacharya e Kesar, “Precarity”, 387-408.
6/ Banco Mundial, Relatório Anual 2020, 19.
7/ OIT, Perspectivas Sociales y del Empleo en el Mundo, 19; Estimaciones y proyecciones basadas en modelos, noviembre de 2019; Bhattacharya and Kesar, “Precarity”, 387-408; Maegher, “Working in chains”, 64-92.
8/ Ursula Huws, “Labor in the Digital Economy: The Cybertariat Comes of Age”, Monthly Review, 2014, 149-181; OIT, Estimaciones y proyecciones basadas en modelos.
9/ World Inequality Lab, World Inequality Report 2018, Executive Summary (World Inequality Lab, 2017), 11; OIT, Perspectivas Sociales y del Empleo en el Mundo: Tendencias 2019 (OIT, 2019), 14.
12/ UNIDO, Report 2020, 144-149; BDI, Global Power Shift, 11/11/2019.
13/ Organización Internacional para las Migraciones, Informe sobre las Migraciones en el Mundo 2020 (OIM, 2019), 3, 21.
14/ Susan Ferguson y David McNally, “Precarious Migrants: Gender, Race and the Social Reproduction of a Global Working Class”, en Leo Panitch y Greg Albo, eds., Socialist Register 2015 (Merlin Press, 2014), 1. 3.
15/ Conferência das Naciones Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento, Informe sobre el Comercio y el Desarrollo 2020 (UNCTAD, 2020), 6; World Inequality Lab, Report 2018, 5-8.
16/ Wolfgang Streeck, “Progressive Regression: Metamorphoses of European Social Policy”, New Left Review (118, julio/agosto de 2019), 117.
17/ Anwar Shaikh, Capitalism: Competition, Conflict, Crises (Oxford, 2016), 755, ênfase no original.
18/ Huws, Digital Economy, 94-96.
19/ Institute for Health and Socio-Economic Policy, Health Information Basics (Institute for Health and Socio-Economic Policy, 2009), 4-7; Lois Weiner, “Walkouts Teach U.S. Labor a New Grammar for Struggle”, New Politics (n.º 65, verano de 2018), 3-13; Will Johnson, “Lean Production”, en Shawn Gude y Bhaskar Sunkara, eds., Class Action: An Activist Teacher’s Handbook (Jacobin Foundation, 2014), 11-31; Huws, Digital Economy, 34-41.
20/ Jason Struna y Ellen Reese, “Automation and the Surveillance-Driven Warehouse in Inland Southern California”, en Jake Alimahomed-Wilson y Ellen Reese, eds., The Cost of Free Shipping: Amazon in the Global Economy (Pluto Press, 2020), 90-92; James Bridle, New Dark Age: Technology and the End of the Future (Verso, 2018), 114-116.
21/ Ver por ejemplo David R. Roediger y Elizabeth D. Esch, The Production of Difference: Race and the Management of Labor in U.S. History (Oxford, 2012).
22/ Bridle, Dark Age, 144-145.
23/ Cathy O’Neil, Weapons of Math Destruction: How Big Data Increasing Inequality and Threatens Democracy (Penguin, 2016), 87.
24/ Bridle, Dark Age, 139-144.
25/ Institute for Health, 4-7.
26/ Karl Marx, Grundrisse: Introducción a la crítica de la economía política; Karl Marx, El Capital, vol. II.
27/ Marx, Grundrisse.
28/ Datacenters.com, “Amazon AWS, maps and photos” (visitada el 20/04/2020).
30/ Bridle, Dark Age, 61; Starosielski, The Undersea Network.
32/ Para exemplos de dragagem e construção de portos e canais, especialmente no Oriente Médio, ver Laleh Khalili, Sinews of War and Trade: Shipping and Capitalism in the Arabian Peninsula (Verso, 2020).
34/ Peter Frankopan, The New Silk Roads: The Present and Future of the World (Bloomsbury, 2018), 89-114.
35/ Daniel Yergin, The New Map: Energy, Climate, and the Clash of Nations (Allen Lane, 2020), 181..
36/ Miha Hribernik y Sam Haynes, “47 countries witness surge in civil unrest – trend to continue in 2020”, Maplecroft, 16/01/2020; Saceed Kamali Dehghan, “One in four countries beset by civil strife as global unrest soars”, The Guardian, 16/01/2020.
37/ Rafael Bernabe, “The Puerto Rican Summer”, New Politics (no. 68, Inverno 2020), 3-10.
38/ Dera Menra Sijabat e Richard C. Paddock, “Protests Spread across Indonesia Over Job Law”, New York Times, 08/10/2020.
39/ David McNally, “The Return of the Mass Strike”: Teachers, Students, Feminists, and the New Wave of Popular Upheavals”, Spectre (vol. 1, n.º 1, primavera de 2020), 20.
40/ McNally, “Mass Strike”, 15-27.
41/ European Trade Union Institute, Strikes in Europe, 07/04/2020.
42/ osina Gammarano, “At least 44,000 work stoppages since 2010”, OIT, 04/11/2019.
43/ Yu Chunsen, “All Workers Are Precarious: The ‘Dangerous Class’ in China’s Labour Regime Laboral”, en Panitch y Albo, eds., Socialist Register 2020, 156.
44/ Ksenia Kunitskaya y Vitaly Shkurin, “In Belarus, the Left Is Fighting to Put Social Demands at the Heart of the Protests”, Jacobin, 17/08/2020 [publicado em castellano em Viento Sur: https://vientosur.info/la-izquierda-lucha-por-introducir-demandas-sociales-en-la-revuelta/]
45/ Anand Gopal, “The Arab Thermidor”, Catalyst (vol. 4, no. 2, Verão 2020), 125-126.
46/ Vejam numerosos exemplos disso em OIT, Interacciones de las organizaciones de trabajadores con la economía informal: compendio de prácticas (OIT, 2019); Ronaldo Munk et al., Organising Precarious Workers in the Global South (Open Society Foundations, 2020).
47/ Rosa Luxemburg, “The Mass Strike, the Political Party and the Trade Unions”, en Mary-Alice Waters, ed., Rosa Luxemburg Speaks (Pathfinder Press, 1970), 163, 153-218 [publicado en castellano por la Fundación Federico Engels en: https://proletarios.org/books/Luxemburgo-Huelga_de_masas_partido_y_sindicato.pdf].
48/ McNally, ” Mass Strike “, 16.
49/ Mark Meinster, “Let’s Not Miss Any More Chances”, Labor Notes (no. 500, novembro de 2020), 3.
(*) Kim Moody foi um dos fundadores do Labor Notes e é autor de vários livros sobre o movimento operário e a política. Atualmente ele é professor visitante na Universidade de Westminster, em Londres.
Original publicado na edição 70 da revista New Politics, Winter 2021.
Tradução de José Roberto Silva, da versão em castelhano em http://izquierdaweb.com/clase-obrera-mundial-crecimiento-cambio-y-rebelion/