Passados três anos desse crime político bárbaro, é preciso uma campanha unitária de toda a esquerda e dos defensores dos direitos democráticos para exigir justiça para Marielle Franco e Anderson Gomes.
RAMOS SILVA e ANTONIO SOLER
Nesse domingo (14/03) completaram-se três anos da execução de Marielle Franco e de Anderson Gomes. Estes foram vítimas de dois milicianos que já estão presos, mas as perguntas, quem foram os mandantes e por qual razão ainda seguem sem respostas.
Marielle era uma militante e vereadora do PSOL que lutava contra a violência em territórios ocupados pelas organizações milicianas no Rio de Janeiro, as mesmas milícias que têm ligações com partidos políticos de direita e com o clã Bolsonaro.
Não é por acaso que após ter ocorrido esse longo período após o caso, a polícia ainda não conseguiu achar sequer a arma do crime, mesmo tendo uma grande quantidade de testemunhas, cerca de 230, e mais de 190 denúncias – inclusive de que várias armas foram jogadas ao mar.[1]
Por essa razão, essa execução não poderia deixar de estar envolta no cenário de um governo de extrema direita – que tem um neofacista no comando – que colocou a polícia federal e outros órgãos de investigação a serviço dos interesses da sua família e dos aliados milicianos.
Marielle condensava muitas lutas
Vivemos em país extremamente violento contra as mulheres e os casos de feminicídios crescem a cada ano. Segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, durante o período de 2020 houve um aumento de 22% nos casos de feminicídios entre março e abril no Brasil e cerca de 25% durante todo o ano.[2]
Apesar deste grande aumento de violência contra as mulheres no geral, é preciso fazer um recorte de raça, a grande maioria das mulheres vítimas de violência no Brasil são as mulheres negras, o que reafirma que temos um país extremamente machista e, também, racista.
Na última década (entre 2008 e 2018) a violências contra as mulheres negras teve um aumento de cerca de 12,4% em comparação das mulheres não negras. Isso ocorre por condições socioeconômicas de maior vulnerabilidade e pelas dificuldades dessas mulheres terem acesso aos canais de denúncia e proteção, o que demonstra que a situação de exploração e opressão estrutural desta parte das população feminina é mais profunda.[3]
A vereadora do PSOL incorporou o drama e a resistência destas mulheres como ninguém, era um amplificador imenso e crescente da voz dessa população. Era uma militante política de esquerda que representava essas mulheres negras, o setor mais explorado e oprimido da sociedade, que não está mais disposto a se calar diante de tamanha opressão.
Marielle era uma militante política na melhor acepção da palavra, pois condensava na sua luta os moradores das periferias, as mulheres e os/as negros/as. Além disso, era uma defensora dos direitos humanos e franca inimiga das milicias
Como uma figura em plena ascensão política e sua atividade parlamentar impactava crescentemente corações e mentes. Tornou-se assim um perigo político para a rede miliciana que tomou conta do Rio de Janeiro com fortes ligações com o Palácio do Planalto; daí surge uma hipótese de trabalho em relação à investigação desse crime que tem que ser seguida até o final.
Um legado vivo
Neste momento de crise pandêmica, de enorme sofrimento da população periférica, esse legado político de imensa combatividade precisa ser incorporado em nossas vidas para enfrentar a necropolítica pandêmica que predomina no poder.
Sendo assim, não podemos deixar as forças reacionárias silenciar ou tentar apagar este legado. Nestes três anos sem Marielle Franco e Anderson Gomes várias Marielles surgiram e levantaram as bandeiras contra a violência às mulheres, negros e LGBTs.
O assassinato de Marielle foi um ataque violento, de caráter mafioso e fascista, ao direito de organização do conjunto dos explorados e oprimidos no Brasil, por isso não pode ficar de jeito algum sem resposta de todos aqueles que defendem os direitos democráticos.
Esse atentado político é parte da ofensiva reacionária que levou perigosamente um neofacista ao poder que ameaça constantemente os direitos políticos e democráticos, por essa razão, não podemos ter sequer uma luta pelos direitos democráticos sem que a bandeira por justiça para Marielle e Anderson não esteja colocada em destaque.
Com a sua morte, Marielle se tornou uma gigante política que, além da defesa das populações periféricas, negras e lgbts, condensa a luta contra o neofascismo no poder central e em defesa dos direitos democráticos.
Para que o tempo não apague a luta de Marielle em defesa dos explorados e oprimidos, particularmente das populações periféricas, dos negros e lgbts, é preciso não apenas rememorar o seu legado, mas agir para dar continuidade a ele – exatamente como tem feito milhares de mulheres negras, com destaque para a juventude por todo o país.
Essa luta não foi em vão! O PSOL e sua direção devem cumprir o papel fundamental de levar a luta por justiça em todos os fóruns, atividades e momentos da luta de classe no Brasil. Nós, militantes do Socialismo ou Barbárie – tendência do PSOL, prestamos nossa solidariedade aos amigos e familiares e, somados aos milhares de ativistas por todo o país e pelo mundo, estamos à disposição da luta por justiça para Marielle e Anderson já!
Campanha unitária permanente por justiça para Marielle e Anderson!
Fora Bolsonaro e seu bando neofascista do poder!
Eleições Gerais para todos os cargos!
[1] G1, 14/03/2021.
[2] Universa, 01/06/2020.
[3] Atlas da violência de 2020.