Na continuidade de seu posicionamento negacionista, na semana, em que as mortes pelo SARS-Cov-2 quebraram todos os recordes imagináveis chegando a dobrar a quantidade relativamente ao pico médio do ano passado, o presidente Bolsonaro, respondendo sobre o assunto lançou a seguinte pérola: “Chega de frescura e mimimi. Vão ficar chorando até quando?”.[1]. Diante disso, é preciso que a esquerda socialista tenha uma postura radicalmente diferente da que está tendo agora e assuma a estratégia de mobilização permanente para tirar Bolsonaro do poder e lutar pelas necessidades mais imediatas dos trabalhadores.
JOSÉ ROBERTO SILVA
Efetivamente, escudado por seu ministro Paulo Guedes, Bolsonaro continua na defesa dos interesses do grande capital, principalmente o agropecuário e financeiro, justificando a completa falta de uma política voltada para a minimização dos efeitos da Covid19 na necessidade de reativação da economia, sob a ignominiosa fala de que, segundo o Globo.com: “o Brasil ‘precisa dar certo’ e tomar medidas para consertar a economia, caso contrário corre o risco de se transformar em uma Venezuela.”[2]
Há que se considerar que a postura e falas do presidente não são jogadas ao léu: ele fala o que setores da pequena burguesia e alguns da própria classe trabalhadora, que apostou no PT e ficou a margem de tudo, querem ouvir e reproduzem nas redes sociais. Encontramos aí e ouvimos nas conversas de ônibus coisas do tipo: “….pandemia? Que pandemia? Quem pode provar que todas as mortes são pela Covid?” ou ainda “…quando ela nasceu o médico disse que não chegava aos doze anos. Morreu agora com dezesseis e dizem que foi de Covid. Será mesmo que foi?”.
São esses setores que dão suporte ao “mito” e à sua política armamentista, misógina, racista, retrógrada, conservadora e neofascista. São esses os que assumiram o papel de guardiães “da pátria amada” contra os criminosos integrantes dos movimentos sociais, contra os comunistas defensores das questões de gênero, contra as “mordomias e privilégios” dos direitos dos trabalhadores alcançadas com sangue, suor e luta. São os que, ao apoiar a política de liberação de armamento de Bolsonaro, deixam claro sua opção pelo justiçamento e não pela justiça. Em suma, são os que manipulado por um discurso religioso e de ódio, acabam se organizando e assumindo a posição de direitista, visto que todo esquerdista, ou qualquer um que não concorde com eles, tem pacto com o demônio vermelho.
Para estes, conforme repete o governo e a mídia burguesa, todas as agruras por que passamos atualmente, quiçá da própria pandemia, formam o legado deixado pelo PT que o “mito” prometeu varrer da história. Assim justificam qualquer coisa odiosa: as 261.188 mortes e 10.796.506 casos de contaminação pela Covid-19 [3], bem como, a insuficiente quantidade de vacinas 1compradas e/ou entregues; o aumento de 25% em 2020 no preço dos alimentos em geral e de 67,9% nos de soja, milho e carne e 62% no de arroz, segundo levantamento do Ibre da FGV[4]; os 14,1 milhões de desocupados e os 78,565 milhões de pessoas fora da força de trabalho, cerca de 54% da PEA sem renda formal (dados de novembro 2020)[5]; o aumento nos casos de feminicídio durante a pandemia, principalmente; etc…
No entanto, não podemos deixar de considerar que esse movimento retrogrado de consciência que faz setores da classe média, da pequenoburguesia e do subproletariado da classe trabalhadora – essa, além das condições materiais de existência que não lhe permitem sequer ficar um dia em casa de quarentena sem passar fome -, não encontram objetivamente nenhuma alternativa política concreta às politicas burguesas para enfrentar a crise devido à perspectiva miseravelmente eleitoreira posta pelo setor que hegemoniza a esquerda no Brasil, ou seja, PT e seus satélites.
A vista destes poucos dados podemos sintetizar a situação dos explorados e oprimidos do país, a partir de suas necessidades, em uma só frase: PÃO (Renda Mínima de um salário), TRABALHO (Redução da Jornada sem redução de salário) e VIDA (Lockdown Nacional para quebrar a circulação do vírus e Vacina para Todos Já). A partir disso, somos obrigados a repetir o “mito”: chega de frescura e mimimi! Impeachment Já! Fora Bolsonaro e Mourão!
Nesse sentido é preciso que, principalmente, a direção e os parlamentares do PSOL devem ser os catalizadores de um sentimento de indignação que cresce a cada dia, mas que ainda não ganhou o fundamento necessário para detonar a mobilização NACIONAL. Assim, não podem se colocar apenas nas trincheiras da institucionalidade com ações no parlamento e junto ao STF. O PSOL, os partidos de esquerda socialista e os movimentos sociais mais atuantes, além de atuar praticamente para além do parlamento, tem que exigir que o conjunto da esquerda, particularmente a lulista, saia dessa mórbida apatia e convoquem a luta dos trabalhadores.
É preciso que os dirigentes e parlamentares do PSOL mobilizem a militância e exijam que os demais partidos de esquerda o façam para construir um movimento de envergadura nacional, a partir de SP, RJ e demais capitais, de caráter permanente nas ruas – mantidas as normas de segurança contra a pandemia, principalmente diante da aceleração do contágio e necessidade de estabelecer um lockdown para salvar vidas – pela Renda de um Salário Mínimo, Lockdown Nacional de 20 dias, Vacinas para todos e Fora Bolsonaro.
Esse movimento tem que se realizar levando em consideração a realidade pandêmica e sua dinâmica, assim tem que ganhar várias formas e táticas, mas o que é estratégico é que a mobilização tem que ser permanente, direta e democrática até que se possa superar esse giro neofascista, não só com a queda do governo, mas, também, com o chamado de novas Eleições Gerais.
CHEGA DE MIMIMI! IMPEACHMENT JÁ! FORA BOLSONRO E MOURÃO!
ELEIÇÕES JÁ!
VACINAÇÃO TOTAL JÁ!
RENDA ASSISTENCIAL DE EMERGÊNCIA DIGNA JÁ!
LOCKDOWN NACIONAL PARA SALVAR VIDAS JÁ!
NOTAS:
[1]https://www.correiobraziliense.com.br/politica/2021/03/4910286-chega-de-frescura-e-de-mimimi–vao-ficar-chorando-ate-quando–diz-bolsonaro.html [2]https://oglobo.globo.com/economia/sem-reformas-esquerda-volta-brasil-pode-virar-venezuela-diz-bolsonaro-23394305 [3]https://especiais.g1.globo.com/bemestar/coronavirus/estados-brasil-mortes-casos-media-movel/ [4]https://economia.ig.com.br/2020-12-07/preco-dos-alimentos-acumula-alta-de-25-no-ano-arroz-oleo-e-carne-disparam.html [5]https://www.ibge.gov.br/explica/desemprego.php