Pedro Cintra
No último domingo (17/01), milhões de estudantes realizaram a 1ª prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Mesmo diante de diversas manifestações por parte de entidades estudantis e organizações sanitárias pedindo o adiamento da aplicação da prova, o MEC e o Inep se mantiveram intransigentes e indiferentes com milhões de vestibulandos que arriscaram suas próprias vidas para comparecer ao exame. Tudo isso em um contexto nacional de aumento do número de mortes diárias pela COVID-19 e uma crise sanitária e socioeconômica agravadas pela postura assassina do Governo Bolsonaro que interrompeu o auxílio emergencial aos mais vulneráveis em uma pandemia que já vitimou mais de 210 mil brasileiros.
A tragédia já estava anunciada. O 1º dia do Enem foi marcado por aglomerações na entrada e saída dos locais de prova, salas de aula com mais de 50% de ocupação, alunos impedidos de realizar o exame pela superlotação das salas e também o maior número de ausências da história (51,5%) desde a primeira aplicação em 1998. Vale lembrar que dias antes da prova o Inep garantiu que os espaços de aplicação teriam ocupação máxima de 50% e que todos os protocolos de segurança e distanciamento seriam cumpridos.
A decisão do Ministério da Educação além de irresponsável e criminosa, contribui para o agravamento das desigualdades e o abismo do acesso ao ensino superior no Brasil, principalmente levando em conta que milhões de jovens, sobretudo estudantes de escolas públicas, tiveram seu ano letivo totalmente comprometido pela pandemia e não puderam se preparar para o vestibular.
O Ministro da Educação, Milton Ribeiro, considerou a aplicação da prova como um sucesso, uma declaração que não surpreende já que a atual gestão do MEC está a serviço de um projeto ultraliberal de mercantilização da educação e exclusão da classe trabalhadora, mais especificamente de jovens negros periféricos, das universidades e dos espaços acadêmicos. O pastor dá continuidade a um plano de desmonte do ensino público que havia se iniciado ainda na gestão de seu antecessor, Abraham Weintraub, responsável pelos cortes bilionários no orçamento das universidades federais em 2019.
Com o intuito único de preservação da vida, visto que o Inep já se mostrou incapaz de proporcionar os protocolos básicos de proteção aos candidatos, exigimos o adiamento da aplicação da 2ª prova do Enem que está prevista para este domingo (24/01) até que haja condições sanitárias adequadas para a realização do exame.
Jair Bolsonaro precisa imediatamente ser responsabilizado por seus crimes hediondos, porém para que isso aconteça é indispensável que 2021 seja um ano de intensa mobilização respeitando os protocolos de segurança e de construção da luta organizada pelo fim do pesadelo chamado bolsonarismo, a começar pela carreata nacional de amanhã (23/01) que ocorrerá em várias capitais e grandes cidades.
Também é fundamental a reivindicação de um programa de vacinação seguro e gratuito para toda população para que possamos finalmente tomar as ruas junto aos setores mais dinâmicos da sociedade, movimentar as massas e exigir a saída deste governo. Os mais vulneráveis não aguentam mais sangrar nas mãos de um presidente negacionista e autoritário. O grito e a luta pelo Fora Bolsonaro são urgentes!