A chapa Boulos/Erundina avança para o segundo turno das eleições municipais como alternativa para a classe trabalhadora e juventude derrotar as expressões do bolsonarismo e os tucanos
Enrico Bigotto e Gabriel Mendes
A poucos dias do segundo turno das Eleições Municipais no Brasil, a polarização entre os candidatos a prefeito se aprofunda. A esfera municipal é aquela que mais aproxima o poder público da população em geral, compreendendo ações de projetos e programas políticos de forma mais concreta do que se pode perceber nos âmbitos estadual e nacional. A expressão dos votos dessa esfera, que se alterna em 2 anos em relação às outras camadas do poder público, costuma identificar as condições mais objetivas das pessoas, dos seus problemas cotidianos e de como se posicionam politicamente a respeito desses interesses e anseios.
Em notas recentes já apontamos o caráter político que caminha esse processo a nível nacional¹, com a inflexão do bolsonarismo em seu núcleo duro, que exala ódio na disputa pelas prefeituras e vereanças, em direção às candidaturas consideradas mais “ao centro”. Mesmo que muitas delas recebam essa caracterização, fazem parte de uma direita tradicional, que pode ser mais comedida no discurso, mas que cumpre o mesmo papel do bolsonarismo quando se trata de ataques contra os trabalhadores e repressão às mobilizações.
O fortalecimento do chamado “centrão” – que nada mais é do que o crescimento eleitoral de velhos partidos burgueses oriundos do sistema político-partidário dos anos de ditadura militar – vem acompanhado de polarizações à esquerda, com alternativas que escapam da centralização entorno do lulopetismo, que continua em queda livre. O PT perdeu prefeituras, retraiu nas capitais e sofreu um importante recuo em São Paulo, onde teve a pior votação de sua história.
Novas expressões crescem como alternativa, um contundente voto antirracista, antilgbtfóbico, pelo Fora Bolsonaro, expresso principalmente através das candidaturas do PSOL, partido que avançou em importantes capitais e saiu fortalecido principalmente onde foi formada uma aliança com independência de classe, como em São Paulo com a coligação da chapa Boulos/Erundina, contando com PCB e UP.
Entendemos que o caminho para se conectar as lutas e retomar mobilizações passa longe do que está sendo chamado de “frente ampla”, articulada pelas direções partidárias desde muito antes das eleições desse ano e expresso no segundo turno em São Paulo pelo apoio de figuras como Lula, Ciro Gomes, Flávio Dino e Marina Silva para a chapa pessolista. Esse projeto de conciliação de classes que busca levar a luta contra o bolsonarismo no terreno eleitoral tem tudo pra ser uma faca de dois gumes, que traz um sério comprometimento para o PSOL ao se aliar com partidos da conciliação de classes ou diretamente burgueses, colocando a perspectiva de um governo pessolista com base num programa ultramoderado.
O PSOL, partido que construímos e reivindicamos como ferramenta de luta, vive uma ascensão que ainda necessita de um balanço a ser feito pela militância do partido.O crescimento de Boulos nas pesquisas no primeiro turno já era extremamente expressivo, apontando para uma alternativa de esquerda que ganha apoio principalmente entre a juventude. Para o segundo turno cresceu o apoio entre os jovens, tanto que na última pesquisa Datafolha é indicado que Boulos vence entre jovens de 16 a 24 anos (65% a 35%) e também na faixa entre 25 a 34 anos (56% a 44%).
Nesse sentido, o PSOL se manifesta como uma alternativa viável à esquerda, que conta com a disposição de muitos trabalhadores, jovens, mulheres, negros e lgbts em expressar a indignação nas urnas. Sai fortalecido também por ter triplicado as candidaturas eleitas para a câmara municipal (de dois vereadores eleitos em 2016 foi para seis cadeiras), sendo que muitas ligadas às questões das identidades, com nichos de agregação de votos mais específicos e que refletem as rebeliões populares como fenômeno internacional.
Temos que apostar na luta pela derrubada de Bolsonaro, construindo a unidade de ação nas ruas para derrubar seu governo genocida, para isso se faz necessário que não se exclua a necessidade de superação do lulopetismo, com independência programática para que a mobilização eleitoral, em quaisquer que sejam os resultados, não signifique retroagir no acúmulo político-programático, como aponta publicamente Juliano Medeiros ao afirmar que o PSOL “não rechaça suas origens socialistas e radicais”, mas que “amadureceu” ao longo dos anos.
Mesmo que o PSOL ainda não seja um partido de massas, e que boa parte do sua base militante e eleitores se encontre numa classe média mais escolarizada, é fundamental que cumpra o papel de um partido de vanguarda quando, e se, tiver a chance de fazê-lo. Há de nos atentarmos que a “frente ampla” não pode ser programática, mas apenas nas ruas, com unidade de ação para a mobilização e organização das massas exploradas e oprimidas.
Nesse segundo turno chamamos o voto 50, vamos com Boulos e Erundina nas ruas. Vamos virar votos a partir de uma campanha militante, que seja cada vez mais construída pela base, avançando em novas filiações e núcleos, onde a juventude debata e construa alternativa de esquerda radical e socialista.
¹https://esquerdaweb.com/eleicoes-derrota-de-bolsonaro-fortalecimento-do-centrao-e-possibilidades-para-a-esquerda-pessolista/