Renato Assad

No último sábado (25) o segundo dia de paralisação nacional dos entregadores e das entregadoras de aplicativos aconteceu nas principais cidades brasileiras. A luta desse setor que pode ser chamado do proletariado de serviços, dinâmica presente nos grandes centros urbanos mundiais, vem denunciando à sociedade e transparecendo contradições veladas na normalidade cotidiana. Este é um dos setores mais ativos neste período de pandemia e que regressivamente apresenta condições de trabalho que pareciam ter sidas superadas.

A questão do trabalho no setor de serviços ou no que formalmente conhecemos como setor terciário da economia é um fenômeno em franco crescimento e que não pode ser interpretado de outra maneira a que não pela crise crônica do capitalismo internacional que no Brasil se materializa pela devastação do trabalho produzida por sucessivos governos e que é um processo com consequências terríveis aos explorados e oprimidos, valendo ressaltar que tudo isso com a cumplicidade do “sindicalismo negocial” (sindicatos burocratizados que muitas vezes se limitam a pautas salariais ou quando cumprem o papel da patronal).

Os entregadores e entregadoras de aplicativos entram em cena, substituindo o carro em grandes centros urbanos, pela necessidade de uma circulação mais rápida do capital nestes espaços, isto é, a uberização do trabalho e essa necessidade de circulação veloz do capital nada mais é que uma expressão da crise com desdobramentos críticos das relações de trabalho.

Em um mundo em crise e um capitalismo extremamente fragilizado – há que se evitar qualquer leitura catastrofista deste sistema político-econômico, unilateral –  o trabalhador da era digital e a informalidade se apresentam como alternativa das grandes empresas transnacionais como forma de exploração, sustentada pelo discurso do trabalho autônomo e da meritocracia numa criminosa ideia de uma economia coletiva que trazem dificuldades imensas à organização e luta dos trabalhadores devido a diluição da força social do trabalho e a sua individualização.

Entretanto, o movimento dos entregadores e entregadoras vem construindo de maneira extremamente progressiva, e aqui não descartamos as contradições presentes nesta luta, um crucial resgate de métodos históricos de luta dos trabalhadores como a greve, colocando a política desmobilizadora da direção do SINDIMOTOS (UGT) na lata do lixo.

Em praticamente todos os bolsões de motos (lugar onde entregadores e entregadores esperam para realizar as entregas de pedidos) o sentimento frente as condições objetivas de trabalho é o da revolta e de indignação. Basta encostar em qualquer um destes bolsões ou na frente de restaurantes lotados em que dezenas de entregadores esperam pelos seus pedidos para saber o que pensam sobre este cenário.

No que pese a dificuldade de organização deste setor pela sua inediticidade e partindo do pressuposto de que a luta de classes é a lei de todas a leis, não há mistério que o papel das organizações revolucionárias e da militância socialista, para além de interpretar e compreender este fenômeno, é de intervir concretamente e cotidianamente neste setor que internacionalmente vem forjando sua experiência como categoria na luta direta pelas ruas deixando claro a necessidade de superação das velhas e traidoras direções.

Viva a luta dos entregadores e entregadoras!

A guerra continua!

Brecar até a taxa aumentar!