O Brasil se tornou o epicentro da pandemia superando 1000 mortes por dia, escancarando uma realidade cruel do capitalismo: o descaso com os mais desamparados. Quem mais necessita de ajuda no momento, é justamente quem está sendo mais deixado de lado. Até agora, no mês de Julho chegamos a 65.466 óbitos e a mais de 50 dias sem ministro da saúde.
Gabriela Barbosa – Vermelhas
No Brasil, a desigualdade social é alarmante e recorrente, fruto da má distribuição de renda, falta de políticas de capacitação, criação de oportunidades e investimentos na saúde, na educação e na cultura. A conjuntura mundial nos coloca em uma crise aparentemente sem fim, trazendo conseqüências devastadoras para uma parcela gigante da população, principalmente, a grande massa periférica e negra, sendo, desde sempre, as mais afetadas.
A verdadeira face do capitalismo mostra o abismo de desigualdades do qual é construído, onde uns fazem quarentena e não falta comida na mesa, e outros estão em risco todos os dias para ter o que comer. Um exemplo disto são os trabalhadores de aplicativos que recentemente protagonizaram uma importante luta. Esse sistema que deu errado, proporciona somente o isolamento social como uma das melhores opções para conter o contágio, mas, que não é cabível para todos.
A classe mais afetada pela crise depende totalmente do Sistema Universal de Saúde (SUS), que já entrou em colapso em alguns estados, afetando diretamente todos os que desse sistema dependem. O SUS é um dos maiores sistemas de saúde do mundo e disponibiliza desde atendimento simples, até os mais complexos, garantindo acesso integral, universal e gratuito para toda a população do país e estrangeiros que aqui se encontram, sem distinção. Atende 80% da população brasileira, aproximadamente 150 milhões de pessoas e utiliza 45% do gasto total com saúde do Brasil.
A COVID-19 mostra os limites das seguidas gestões públicas que, apesar de aparentemente tratarem a pauta como prioridade, nunca cuidaram da Saúde pública, nem de sua manutenção. Outro problema que agrava atualmente são os mais de 30 milhões de brasileiros sem acesso ao saneamento básico e 11 milhões que vivem em comunidades.
De acordo com o IBGE, 57% das mães solos no Brasil vivem em situação de extrema vulnerabilidade. Desta forma se torna extremamente difícil seguir as recomendações sanitárias básicas, como lavar as mãos frequentemente. Em alguns locais a informação sobre a COVID-19 sequer chega, o mesmo pode se dizer de itens essenciais preventivos ao contágio, como o álcool gel e máscara. Em casas onde nem mesmo há água nas torneiras, essas recomendações soam como uma verdadeira abstração.
A burocracia também mata
Outro fator que agravou as desigualdades socioeconômicas nessa pandemia é a burocracia por trás do auxílio emergencial. O recurso que deveria atender a parcela mais vulnerável da população brasileira, não chegou às mãos nem da metade dos solicitantes.
De acordo com dados divulgados pela Caixa, 41,5 milhões de informais tiveram o auxílio emergencial de R$600,00 negado. A Dataprev já analisou 81,3 milhões de cadastros para o auxílio emergencial de R$ 600,00, sem contar os beneficiários do Bolsa Família. Dentre os 32,1 milhões de pedidos de quem é do CadÚnico, 21,6 milhões foram considerados inelegíveis. Para quem se cadastrou pelo site ou aplicativo, o pedido foi negado para 19,9 milhões de pessoas e 4,5 milhões estão em reanálise Ao todo foram 41,5 milhões de negativas, o que representa mais de 50% das solicitações.
Para os inscritos, os motivos das negativas variam, o principal deles é que alguns trabalhadores informais tiveram rendimento tributável acima de R$ 28.559,70, em 2018, o que os tornam inelegíveis. Há ainda alguns casos em que se verifica, inclusive, a ausência dos documentos necessários para realização do cadastro. O fato é que a grande parcela das muitas e muitos trabalhadores depende deste auxílio para se manterem em meio à pandemia, sendo, por vezes, sua única fonte de renda. Sem receber o auxílio e sem fonte de remuneração, a única saída é sujeitarem-se ao risco de contraírem o coronavírus para que suas contas sejam pagas.
É desumano que mesmo em meio a uma situação gravíssima como essa, as necessidades mínimas da população vulnerável ainda seja negada ou dificultada. Estamos falando de mães e pais de família, de trabalhadoras e trabalhadores sem nenhum sustento, de pessoas em situação de rua sem sequer abrigo. Esses setores deveriam ter preferência no recebimento do auxílio, mas seguem sendo os mais negligenciados.
No país onde a desigualdade avança cada vez mais, inclusive, de maneira ainda mais estrutural, a corrupção se apresenta de forma escancarada. A falta de comprometimento público e ineficiência de gestão, agora, em tempos bolsonaristas, nos traz uma única certeza: não sabemos quando essa crise terminará e nem como combatê-la eficazmente, nos restando somente o sério debate sobre a desigualdade social e o fortalecimento do SUS e da Ciência, que desempenham um papel indispensável neste momento.
#ForaBolsonaro
#ForaMourão