Juventude Já Basta

No dia de ontem, sexta-feira (03), começou a circular um trecho da entrevista concedida pela primeira dama de São Paulo para a “socialite” Val Marchiori, esta que ficou famosa após sua participação em um dos mais bizarros realities shows da TV brasileira, Mulheres Ricas.  Neste asqueroso trecho gravado, Bia Dória, que hoje está à frente do Fundo Social de SP, diz que os moradores de rua gostam de estar nesta situação pois se trata de um atrativo.

Segundo dados oficiais do governo o número de pessoas em situação de rua não para de aumentar em nossa cidade, nos últimos quatro anos tivemos um aumento da população urbana sem teto em 53%, fato que não é exclusivo apenas na maior cidade do Brasil. Contudo, a falta de precisão no levantamento de dados sobre este setor da sociedade indica que podemos ter até o dobro do número de pessoas morando pelas ruas no Brasil.

Não entendemos ao certo o que significa atrativo para Bia Doria, seria as péssimas condições sanitárias em que se encontram os CTA’s, com banheiros inutilizáveis, sem estrutura mínima de higiene e acolhimento adequada? Seria depender de migalhas oferecidas pelo governo, ou de ações de solidariedade para ter ao menos uma refeição ao dia e não morrer de fome? Seria sentir frio e enfrentar as chuvas nas ruas sem qualquer tipo de proteção? Seria cotidianamente encarar o preconceito, e muitas vezes sofrer violência? Atrativo é a palavra mais distante da situação encontrada nas ruas.

Sabemos que a população sem-teto é uma consequência internacional do modelo de sociedade capitalista, que nos últimos anos trouxe um recorde para a desigualdade entre os mais ricos e os mais pobres. Uma pesquisa realizada em 2019 do IBGE apontou que o 1% mais rico tem 33 vezes mais que os 50% mais pobres.

Vale lembrar e ressaltar aqui que o governador do estado de São Paulo João Doria editou 3 vezes o projeto da prefeitura para oferecer vagas em hotéis destinados a sem-teto idosos nesta pandemia, além do risco iminente a contaminação por Covid-19 agora estas pessoas também enfrentam nas ruas as baixas temperaturas e chuvas sem qualquer expectativa de auxílio pois, o referido projeto até agora não saiu do papel. Ressaltamos que de acordo com a última pesquisa realizada a cidade tem 3.164 moradores com mais de 60 anos, 13% do total.

Como se não fosse suficiente o claro descaso com que o Governador trata a pauta, apontamos que mesmo durante esta crise sanitária mundial vem acionando violentas ações da PM e GCM na Cracolândia, e também ações de despejo, como, por exemplo no último mês de maio, onde 50 famílias foram arrancadas e despejadas a base da força e repressão no município de Piracicaba. Este episódio nos deixa claro que, por um lado, o governo estadual trabalha ampliando o número de moradores de rua e, por outro, não apresenta qualquer tipo de politica pública para enfrentar esta cruel realidade.

Doria é um serviçal do capital financeiro, um lobista e jamais podemos nos esquecer da sua tentativa, quando ainda prefeito do município, de implementar a distribuição da “farinata”, alimento granulado à base de restos de comida, para os estudantes e famílias carentes de São Paulo.

A fala de Bia Doria, que com muita certeza e cotidianamente é reproduzida pela elite brasileira, nos revela mais uma vez quem são os nossos inimigos e como numa imensa cara de pau naturalizam e culpabilizam os próprios moradores de rua, o setor mais invisibilizado da sociedade, por estarem nesta situação.

Em repudio e solidariedade para com os moradores de rua de São Paulo, várias campanhas começaram a surgir com a intenção de contribuir para a redução da fome das famílias sem teto. Reivindicamos todo nosso apoio às campanhas independentes e a sua fundamental importância neste período de pandemia.

Ressaltamos aqui o fundamental papel que devem cumprir todos deputados estaduais do estado de São Paulo e vereadores municipais da esquerda socialista e do campo progressista no trabalho de denúncia à postura da primeira dama e a construção de projetos e políticas públicas que coloquem uma perspectiva humanizada para este setor socialmente excluído.

A Juventude Já Basta se solidariza com todos os moradores de rua, se enoja e se revolta com o que falou Bia Doria e imediatamente pede o seu afastamento da direção do Fundo Social de SP. Reivindicamos que enquanto não pudermos eliminar a classe dominante dos espaços de poder institucionais, a realidade daqueles que são ignorados cotidianamente, os mais vulneráveis, seguirá sendo naturalizada socialmente.