Durante toda sua trajetória a frente do MEC, o ex-ministro nunca se furtou de atos que o levaram a ocupar a segunda posição na lista de inimigos da Educação no Brasil, ficando atrás somente do seu chefe.
Por Enrico Bigotto
Após 14 meses a frente do Ministério da Educação (MEC), Abraham Weintraub anuncia sua saída do ministério, vai sem deixar nenhuma saudade. Fruto da primeira troca de ministros do cargo ocupado anteriormente por Ricardo Vélez, Weintraub, que fazia parte da “ala ideológica” do governo Bolsonaro, encarnava em sua figura a expressão mais vulgarizada do obscurantismo científico e do negacionismo da realidade social brasileira que perpassa a base do governo.
“Olavista” declarado – termo usado aos que se identificam como aprendizes do astrólogo Olavo de Carvalho -, diversas vezes o ex-ministro declarou-se contrário ao termo “povos indígenas”, negando profundamente também o racismo estrutural no Brasil. Após as declarações infames apresentadas no vídeo da reunião ministerial de Bolsonaro, de 22 de abril desse ano, em que vociferava pela prisão dos “vagabundos” do STF (Superior Tribunal Federal), a situação política de Weintraub tornou-se insustentável, até a sua saída anunciada pelo presidente da república e por ele nessa quinta-feira (18/06).
Durante toda sua trajetória à frente do MEC, o ex-ministro nunca se furtou de atos que o levaram a ocupar a segunda posição na lista de inimigos da Educação no Brasil, ficando atrás somente do seu chefe. Após uma série de ataques às Universidades públicas em 2019, sobretudo profundos cortes de verba das Universidades Federais, além de injúrias declaradas publicamente, a reação do movimento estudantil foi instantânea, resultando em um grande número de manifestações pelas ruas de todo o país, movimento que foi denominado “Tsunami da Educação”. O ímpeto acabou não se alastrando aos outros setores da sociedade devido à traição cometida por parte das principais centrais sindicais na desmobilizada e derrotada Greve Geral contra a Reforma da Previdência no dia 14 de julho de 2019.
Entre as últimas polêmicas que Weintraub centralizou está a disputa pelo adiamento do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), em que houve uma intensa mobilização dos alunos secundaristas e universitários em diversas redes sociais através da #adiaEnem, impelindo o recuo do então ministro para aceitar a demanda que ganhava apoio no Legislativo. Além disso, o ex-ministro também é investigado no inquérito das Fake News, que corre no STF, investigando e apurando casos de ataques aos ministros do Supremo e ao próprio poder judiciário, configurando ações extremamente antidemocráticas.
Weintraub deixa o governo Bolsonaro em meio a uma crise que concentra diversas facetas: a de crise pandêmica, que mata mais mil brasileiros por dia devido a política negacionista do presidente e seu governo; a crise política, dentro do próprio governo sob a figura do neofascista Bolsonaro, e que tem cada vez mais se agravado com os tensionamentos entre os poderes da democracia burguesa, enquanto avança a ala militar dentro do Executivo; e a de crise econômica que assola tanto o cenário nacional quanto internacional, e que está enraizada a uma crise muito mais profunda do capitalismo em geral. O cargo deixado para trás ainda está em aberto, apenas com especulações de nomes para assumir o cargo, mas é certo que enquanto esse governo se mantiver de pé não podemos esperar nada muito além do que mais um inimigo da educação.
Como último ato de injúria à educação e democracia nas Universidades, Weintraub assinou uma portaria extinguindo a necessidade de vagas na pós-graduação reservadas a alunos negros, indígenas e deficientes, medida já questionada no Congresso por diversos partidos como PSOL, PT, PCdoB, entre outros. A ação que tem intenção de aprofundar ainda mais a desigualdade social na produção de conhecimento e pesquisa pode ter efeito contrário, uma vez que a conjuntura mundial é fortemente sacudida pela rebelião negra nos Estados Unidos, e que, além de colocar a pandemia do Covid-19 pela primeira vez em segundo plano no cenário político internacional, dá novo fôlego à disputa política pelas ruas.
É necessário nesse momento organização para direcionar a revolta dos explorados e oprimidos que tem como vanguarda da luta a juventude trabalhadora, negra e das mulheres. Apontar para o “Fora Bolsonaro e Mourão” é fundamental para a superação dessas crises, o que só poderá se concretizar pela mobilização massiva contra esse nefasto governo.
Fora Bolsonaro!
Fora Mourão!