O presidente Jair Bolsonaro logo, após as manifestações de domingo, declarou a seus apoiadores que manifestações como as do domingo são ‘o grande problema’ do momento. Esse foi o segundo final de semana de manifestação da esquerda dessa envergadura. A convocatória que reuniu cerca de 5 mil pessoas, foi feita pela Frente Povo Sem Medo, da qual pertence Guilherme Boulos (PSOL), movimento Vidas Negras Importam, participação das torcidas organizadas, como o movimento Somos Democracia, formado por torcedores do Corinthians, entre outros.
Bolsonaro o vírus que será derrotado nas ruas!
VERMELHAS
As manifestações pela Democracia, Contra o Fascismo e o Racismo, que ocorreram no último domingo (7/6), foram ainda mais massivas que na semana passada, e, mais uma vez, uma expressão popular, tendo em sua dianteira a juventude e uma presença importante de mulheres, demostrou que não aceitará a avançada antidemocrática e a política genocida do governo Bolsonaro, em silêncio. Os ares da luta antirracista, trazidos dos EUA, ganharam protagonismo nas principais capitais e até pequenas cidades do nosso país.
À direita até tentou, mas apenas o mesmo pequeno grupo de apoiadores, entre eles, alguns funcionários infiltrados do governo, foi às ruas. Um setor basicamente composto por homens cis brancos de meia idade, que possuem em comum um saudosismo a ditadura, pedindo o fechamento do Congresso e do STF, retórica única como bons papagaios de pirata.
Esse esvaziamento da direita, também se dá, muito por conta desta volta da esquerda nas ruas, recuperando um espaço que foi postergado por um período, mas que, hoje, deve ser ainda mais valorizado devido as condições totalmente adversas que vivemos.
Domingo ficou evidente o real tamanho do governo, que, por hora, tem como grande aliado o medo a contaminação do COVID-19. Bolsonaro é um ditador que não respeita nem seus apoiadores, até o fechamento desta nota desrespeitava uma eleitora que questionava a política negligente contra a pandemia. Essa deserção virará rotina sempre que a esquerda falar das ruas para a sociedade. As duas manifestações seguidas, em algum momento isolará o presidente, político e institucionalmente.
A grande cisão que o bolsonarismo causou em nossa sociedade, dividindo o pais praticamente em dois grandes pólos, foi extremamente nociva para toda a sociedade, e não pode ser reproduzida nesse momento no interior da esquerda, pois a direita se unifica para separar e atacar coletivamente os setores mais progressivos da sociedade, principalmente a esquerda.
Mesmo que a esquerda tenha começado a tirar o protagonismo de meses da direita nas ruas, o governo se mantém e contra-ataca. Seus gestos exagerados miram agora o ensino superior, com a tentativa de por um fim na Autonomia Universitária. O que redobra a necessidade do movimento estudantil e da juventude, como um todo, entrar de cabeça nas mobilizações para defender o futuro e a educação.
Na segunda-feira, ao ser perguntado sobre a rotina do governo, frente ao aumento da contaminação e vítimas fatais do COVID-19, Bolsonaro disse que o mais importante agora seria se preocupar com as manifestações da esquerda no dia anterior. Ou seja, o governo se rearma e contra-ataca, deixando de lado a urgência das reais necessidades do país, para combater quem denuncia e se opõe a ele, típico realmente de governo ditatoriais.
Todas as manifestações estiveram sobre intensa pressão da polícia, e em alguns estados como São Paulo, houve repressão. O ato, que a princípio havia sido convocado para a Avenida Paulista, foi impedido pela “justiça” do estado. Diante do cenário extremamente recessivo e de temor da segurança física dos manifestantes, o MTST, a Frente Povo Sem Medo e todos os partidos que apoiavam a realização do ato unificado, para manter a manifestação, decidiram por bem transferi-la para o Largo da Batata. Com exceção apenas do Partido da Causa Operária (PCO) único setor organizado a ficar na Paulista.
Com tudo, o que pesa as diferentes análises dos eventos que se seguiram no ato da capital paulista, é importante considerar que os atos de domingo foram muito importantes, mas ainda não foram massivos o suficiente, foram de vanguarda que precisam ser ampliados para que possamos de fato fazer frente à escalada regressiva em nosso país.
Por isso, acreditamos que o fundamental é manter a unidade construída até agora, e, por isso, somaremos com os setores antirracistas como Vidas Negras Importam, a esquerda organizada, sindicatos, coletivos de juventude e do feminismo que estiveram ainda mais representados nesse domingo, e o movimento antifascista que vem sofrendo tentativa de criminalização. É a hora da esquerda mostrar que tem capacidade de conversar e, principalmente, de ouvir as divergências, sem por risco a unidade.
A situação é desesperadora, não há um dia se quer em que o povo possa literalmente respirar tranquilo com esse governo. Esse terror psíquico e objetivo, somado ao descaso institucional com a população pobre, negra e periférica (as maiores vítimas da pandemia), é o que tem motivado diversos setores, apesar das diferenças, a irem juntas para às ruas. O que vimos no dia 31/5, na Av. Paulista e domingo passado no Largo da Batata, foi uma pequena demonstração do que o povo é capaz quando se unifica. Não queremos colocar todas as pessoas nas ruas, pois sabemos da nossa responsabilidade e temos um compromisso com a saúde pública.
Ir as ruas não é uma decisão fácil nesse momento, mas é necessário. E todos aqueles e aquelas que podem, devem ir. Além de todas essas razões manifestadas, sabemos que Bolsonaro é inimigo público das mulheres e que não moverá um milímetro para mudar nossa realidade, por isso, aquelas que podem devem ir e as que não podem, fiquem em casa, cuidem-se e apoiem as companheiras.
Em relação aos companheiros que organizaram uma passeata após o ato ter acabado, pensamos que tentaram fazer uma experiência em separado que foi importante para testar os limites da correlação de forças entre movimento e as forças repressivas, e diante da repressão decidiram corretamente finalizar o ato na estação Fradique Coutinho do Metrô. E para aqueles que conseguiram se direcionar isoladamente para a Avenida Paulista, decisão totalmente compreensível diante de tamanha revolta contra o governo, ponderamos que em momentos de acirramento da luta e das forças repressivas, o mais importante e seguro é manter a unidade tática para que nossa ação ganhe setores de massas e para não favorecermos o casuísmo covarde da polícia. Por isso, também nos solidarizamos profundamente com as e os companheiros presos e agredidos pela policia de João Dória.
Diante dessa realidade cada vez mais dinâmica, mas não menos problemática, movimentos e coletivos de mulheres e LGBTQI+ também devem ir as ruas enfrentar esse desgoverno. Somente uma grande reação popular, daqueles que tem condições de ir às ruas nesse momento, pode frear o genocídio do nosso povo e a destruição em curso do nosso país, virando esta página horrível e autoritária da nossa história.
Chega de Bolsonaro!
Vidas Negras Importam!
Ditadura Nunca Mais!
Fora Bolsonaro e Mourão!