A favela da Rocinha, localizada na zona sul da cidade do Rio de Janeiro, tem enfrentado o atual cenário unicamente com a força e suporte de seus moradores. Até o presente momento o governo municipal não apresentou qualquer proposta de contenção ou prevenção ao vírus, ainda que as estatísticas apontem números para além de preocupantes.
Samantha Aragão, Vermelhas – Rio de Janeiro
A ONG Viva Rio e a MN Estatística realizaram uma pesquisa que constatou que os efeitos da Covid-19 são mais agravantes dentro de comunidades e periferias do estado do Rio de Janeiro, isso pela falta de assistência a saúde. A pesquisa aponta que do total de vítimas fatais – que se tem registro, 20% vieram a óbito em suas próprias residências, sendo que 75% destas sequer conseguiram procurar ajuda médica.
A Clínica da Família que atende a comunidade opera nesse momento com quantidade reduzida de pessoal, com procedimentos e agendamentos para acompanhamento de diversos tratamentos suspensos. Os Agentes Comunitários de Saúde (ACS) têm se desdobrado para prestar serviço ainda que sem a devida estrutura e, em contato direto com alguns, é nítida a preocupação com a proporção em que a situação pode chegar.
A Rocinha, em estimativas não oficiais, conta com mais de 100 mil habitantes – em registros da empresa Light S.A foram contabilizados aproximadamente 120 mil. São moradores dispostos em uma área de 143 mil hectares, uma dimensão que vai muito além dos principais acessos e vias da comunidade, onde são vistas estruturas de prédios mais trabalhados e muitos comércios. São incontáveis as famílias que residem em regiões de acesso precário, em casas de madeira e, não incomumente, sem saneamento básico adequado.
Os principais agentes que atuam diretamente para tentar mitigar o efeito do Covid-19 dentro da comunidade são os próprios moradores. Alguns, organizados em pequenos grupos ou de forma individual, tentam recolher doações de roupas, comida e produtos de limpeza para destinar a unidades familiares em maior estado de carência. Existem também as iniciativas coletivas, como o ARR (A Rocinha Resiste).
O ARR é uma rede mobilizadora da comunidade, formada por moradores e não moradores da Rocinha e que atua com objetivo na transformação da realidade do território. O coletivo tem organizado e realizado ações para beneficiar diversas famílias que enfrentam situação de extrema precariedade durante o Covid-19. Em parceria com os Agentes Comunitários de Saúde e graças a diversas doações, o ARR está mensalmente doando kits de cesta básica e cesta higiene para mais de 200 famílias. Além da distribuição de EPIs e máscaras para os moradores.
Em geral a realidade das comunidades é de mútua ajuda. A população carente e periférica, devido a ausência da presença positiva do Estado, sempre se organizou para encarar os desafios que se apresentam em seu contexto social.
Contudo, apesar das redes de apoio e solidariedade serem imensamente valiosas nesse momento ímpar de crise na saúde pública, é fundamental que a comunidade planeje sua auto-organização política. Ações tal como foi a manifestação dos trabalhadores da saúde na Linha Amarela, no dia 14/04, duramente reprimida pela polícia genocida de Wilson Witzel. Estabelecer conexão criar canais de comunicação com novas manifestações com distanciamento social é fortalecer politicamente a comunidade e cobrar iniciativas da prefeitura, sendo ela a principal responsável diante do crescimento do desemprego e da mortalidade nas comunidades.
A Rocinha resiste!
Fora Bolsonaro, Witzel e sua polícia assassina!