Vermelhas: Restauração da consciência crítica e saúde mental em tempos de pandemia

Com o surto de coronavírus (COVID-19), o impedimento de sair de casa e constatação da fragilidade humana diante de um mal invisível, é natural que as pessoas sintam medo e ansiedade neste momento de isolamento social. Alguns sentimentos podem parecer esmagadores e gerar emoções extremamente aflitivas, tanto em adultos, crianças e até mesmo nos animais. O estresse é inevitável, mas quanto mais saber lidar com ele melhor se tornará a convivência e qualidade de vida com você e com as outras pessoas.

Josi Lênin, 02 março 2020 *

Esse cenário ansiogênico e apoca-político que estamos vivenciando, está desafiando psiquicamente a todos nós. Incertezas, insegurança e medo estão instalados nesse cenário e governo atual. Isso pode gerar sentimentos de angustia, ansiedade, tristeza, abandono e desamparo.

Estamos atravessando um momento histórico e sombrio da humanidade, as tendências destrutivas do sistema capitalista manifestam-se plenamente sem cessar, a supremacia do capital, a desvalorização da vida e a obsolescência das relações nos colocam num declínio social perigoso e doentio. Políticas e ideologias discriminatórias estão em ascensão, o conhecimento e a ciência estão sendo atacados de todas as formas possíveis.

Catastroficamente, esse é o percurso escolhido pelos governos brasileiros que, em todos os níveis, estão colocando em curso, de forma acelerada, um sistemático programa, cujo único objetivo é a destruição do futuro científico do país, da educação e da saúde mental da população.

Diante dessa situação, medidas e soluções de inteligência coletivas são de extrema importância, como a solidariedade, o combate às desigualdades e a equidade social, devem ter direcionamento maior em grupos mais vulneráveis, sobretudo os relacionados a gênero, raça e nível socioeconômico. Tudo isso é de extrema importância nesse momento que enfrentamos.

Para uma possível estabilidade psíquica, precisamos identificar que essa é uma situação completamente atípica e que foge ao nosso controle, compreender o que temos condições de lidar e o que não temos já é um começo. Pensar constantemente nos impactos da pandemia, buscar informações em demasia, podem causar o surgimento ou aumento de sintomas que ampliam quadros de ansiedade, depressão, pânico e transtornos obsessivos.

O importante agora é perceber o que é realmente necessário, entender que o desnecessário não tem que estar em nós, pois é excesso. Estocar energia psíquica é essencial, afinal iremos precisar para passarmos por esse momento tão difícil. 

Todo cuidado na procura de fatos e dados, dar preferência aos meios de comunicações oficiais e científicos, tudo isso ajuda a evitar informações e imagens alarmistas irresponsáveis e desnecessárias que podem levar a desestabilização psíquica e emocional.  

É importante identificar excessos e limites, buscar uma consciência crítica de si mesmo e do mundo, entender que nosso pensar, ideias e ações são de responsabilidade nossa, que nossa existência interfere na vida do outro e no meio onde estamos inseridos. Enfrentar esse momento com maturidade e responsabilidade é dever de todos nós.

O confinamento, juntamente com a estrutura social patriarcal na qual todos estamos inseridos, pode desencadear conflitos familiares, principalmente em relação aos afazeres domésticos e cuidados com os filhos dependentes. É importante ressaltar que todos que ocupam um espaço comum, no caso aqui (casa), tem responsabilidade com esse espaço, dessa maneira, ninguém deve se sobrecarregar para manter organizado um ambiente de convívio comum a todos. Não há ajuda, há contribuição, todos, inclusive as crianças maiores, podem contribuir.

Para concluir, não há certo ou errado na forma como cada pessoa vai procurar lidar com suas angústias e seus medos, quem sabe da nossa condição somos nós, portanto viver apenas em função ou ignorar a pandemia são dois extremos que não são saudáveis e pode nos trazer danos. 

*Josi Lênin é Psicóloga, Pós Graduanda em Neuro pela USP e constrói as Vermelhas

Revisão: Suellen Ciccotti