Ato político marca lançamento da tese “Por um PSOL de Luta, Radical e Pela Base” para o 7º Congresso do PSOL que se aproxima. Fruto de esforço de elaboração militante e amplamente democrático, escrevemos em conjunto com outras outras organizações e militantes independentes essa ferramenta política importante que aponta os novos rumos do partido e sua intervenção.
Gabriel Mendes
Na sexta-feira, 14 as organizações e militantes que compõem o Bloco se reuniram no Sindicato dos Metroviários em São Paulo, e lançaram-se em uma luta política por uma alternativa de esquerda revolucionária, ecossocialista e radicalmente democrática para o PSOL. O evento foi aberto com saudações internacionalistas entre elas Manuela Castañeira – ex-candidata à presidência da Argentina pelo NuevoMAS – iniciou saudando a formação de um bloco que busca manter de pé a perspectiva da independência de classe no interior de partidos que representam a classe trabalhadora como PSOL. A sindicalista ferroviária e ex-deputada argentina pela Frente de Esquerda dos Trabalhadores (FIT) Mônica Schlotthauer, também registrou sua saudação trazendo elementos da luta internacional marcada hoje por sua expressão latino-americana através das rebeliões populares que perpassam países.
O ato seguiu por saudações de coletivos e organizações que, apesar de não corroborarem com o texto de conjunto, entenderam a importância da iniciativa e demonstrando acordo parcial com a Tese, organizações como Comuna e o Movimento Esquerda Socialista (MES), essa última representado pela Deputada Federal Sâmia Bomfim, também marcaram presença no evento. O Deputado Estadual Carlos Giannazi não pode comparecer, mas fez questão de enviar sua saudação.
Como não poderia faltar – mesmo que através de diferentes formulações – foi reforçada a necessidade de impor nas ruas a derrota de Bolsonaro e de construir um amplo movimento por Fora Bolsonaro/Mourão, criticando duramente a adaptação política que a esquerda da ordem que apresenta como única alternativa o calendário eleitoral. Adaptação que é expressa em declarações, como o reconhecimento do Lula a legitimidade do governo Bolsonaro, e pelo freio escancarado que as principais direções sindicais operam para que as lutas não sejam unificadas e ultrapassem as reivindicações parciais.
Em um balanço comum sobre o ano que passou afirmamos: “Em vez de apostar nas ruas, a esquerda da ordem legitimou a Reforma da Previdência no parlamento. Pior ainda. Seus governadores aplicaram, no apagar das luzes de 2019, com mão de ferro, as contrarreformas neoliberais em seus Estados.”. Por isso, não faltaram nas falas dxs companheirxs presentes a necessidade de superação dos instrumentos políticos criados pelos trabalhadores nas últimas décadas – partidos como PT e PCdoB – e que hoje, não apenas desmobilizam, como também são muitas vezes mais eficientes para grande capital na aplicação de ataques aos trabalhadores do que os ultra-direitistas que estão no governo quando esbarram na resistência e organização dos de baixo.
Diante das enormes tarefas que temos pela frente e diante do protagonismo que o PSOL pode ter a depender do caminho que decidir trilhar, queremos aproveitar o período de intensificação do debate entre toda a militância que acontecerá durante o 7º Congresso. Para intervir nesse processo é preciso repetir quantas vezes for necessário que o PSOL nasceu com o objetivo de superar o PT como referência da classe trabalhadora, entretanto setores de nosso partido insistem em reeditar métodos e estratégias que levarão à dissolução do partido enquanto alternativa, ao rebaixamento programático e na conformação de alianças oportunistas com setores que governam com e para a classe dominante.
É preciso diferenciar frente e unidade pela ação nas lutas da formação de frentes eleitorais!
Se tornou clichê lembrar do papel vergonhoso que setores do PSOL cumpriram na cidade de Macapá, onde ocupavam cargos na prefeitura, composta por uma articulação política de partidos fisiológicos que incluía até o Democratas (DEM). Mas esse não deve ser elencado como o único caso problemático, afinal outras forças políticas no interior do PSOL também vêm estabelecendo alianças estranhas à nossa classe, lançando candidaturas com clara associação com a patronal e, nos locais onde são maioria, defendendo alianças com os partidos da ordem.
Por isso reforçamos os pontos levantados por nossa tese reafirmados durante o ato de lançamento pela companheira Rosi Santos, e Renato Cinco, um dos nomes cotados a pré-candidatura a Prefeitura do Rio, é fundamental defender a construção de uma FRENTE CLASSISTA e ANTICAPITALISTA, para ser realmente uma alternativa para as mulheres a juventude e os trabalhadores, que coloque diferente do petismo as lutas nas ruas e se expresse com independência de classe no terreno eleitoral. Isso significa, como bem disse Cinco com alianças apenas com PCB, PSTU e outros setores classistas dos movimentos como (CSP Conlutas, Intersindical, fóruns de luta e sindicatos).
Ao mesmo tempo, acrescentamos que propor uma frente fundada na ação militante, nos locais de trabalho, ruas, escolas e bairros onde a classe trabalhadora vive significa reafirmar o PSOL enquanto alternativa da esquerda socialista. Por isso é fundamental que no processo eleitoral nos apresentemos com candidaturas e programa próprios, buscando sempre dirigir programaticamente as alianças e encabeçar chapas. Propor uma frente classista e anticapitalista não deve significar simples contraposição e negação da Frente Ampla com PT, PCdoB, PDT e outros partidos da ordem (defendida pelo bloco “Aliança”).
Por ampla democracia interna, que a base decida!
Um dos pontos altos da tese que ressaltamos em nossa intervenção foi sobre o papel da democracia interna no partido, e os riscos que a tentativa de resgatar o petismo em crise, promovida por setores à esquerda da ordem burguesa que buscam enterrar a necessidade de superação do lulopetismo.
Avaliamos que está em andamento um projeto “refundacional” capitaneado por uma burocracia com fraca penetração na classe trabalhadora, que busca enquadrar as diferenças políticas que temos nos debates a portas fechadas entre um punhado de dirigentes. Em nome da “unidade” – entorno de frentes eleitorais num amplo arco de alianças partidárias – deve-se abrir mão da crítica, das denúncias e exigências às direções que hoje são corresponsáveis pelo imobilismo diante dos ataques em todos os níveis e que ajudam Bolsonaro a recuperar terreno.
Por isso reforçamos que é necessário que decisões fundamentais sejam tomadas com o amplo envolvimento das filiadas e dos filiados, diferentemente do que foi feito durante a escolha presidencial em 2018, quando uma aliança foi formada para falar “pra fora” enquanto o PSOL definia sua candidatura majoritária reproduzindo uma correlação de forças interna altamente questionável.
Destacamos do ato de lançamento a valorosa contribuição do coletivo PSOL Pela Base, cujo companheiro foi enfático na necessidade das decisões serem tiradas pelo conjunto da militância. A fala foi reforçada afinal um dia antes do lançamento da tese parte do diretório municipal de São Paulo operou na reunião uma manobra para prorrogar o prazo de inscrição das pré-candidaturas, anteriormente definido para 14/02.
O motivo da prorrogação é simples: aguardar a definição de Guilherme Boulos sobre lançar sua pré-candidatura a prefeitura ou não. A decisão de Boulos, além de depender das definições do PT na cidade (que ainda não decidiu se sairá com Haddad ou algum nome ligado a base), conta com a postura passiva do bloco “Aliança”, que prefere colocar o PSOL a disposição de uma liderança que não tem comprometimento com a construção partidária pela base.
Feito o lançamento, temos a importante tarefa de difundir ao máximo a nossa tese “Por um PSOL de Luta, Radical e Pela Base” para os filiados e simpatizantes em nossos locais de trabalho, de moradia e de estudo, defendê-la nas etapas do Congresso que se aproxima, levando aos municípios, estados e, por fim, a etapa nacional do congresso.
Nós da Corrente Internacional Socialismo ou Barbárie assinamos e convidamos a apoiar uma tese que tem como centro, como o próprio nome diz, a necessidade de construir um partido que tenha papel significativo na luta de classes – lugar onde se resolve a dinâmica política e o destino da classe trabalhadora -, que seja construído democraticamente através dos núcleos partidários efetivamente funcionais e decisórios das linhas politica e da organização pela base do partido – de outra forma não se pode mover milhares de lutadores, mobilizar setores de massas e acertar uma linha política – e que conte com um programa radical (que vai à raiz dos problemas) – pois a luta imediata se perde se não for conectada permanentemente com todas as demandas dos explorados e oprimidos e com a luta contra o capitalismo.