É necessária a mais ampla unidade para derrotar nas ruas qualquer ataque aos direitos democráticos e às liberdades de expressão
Socialismo ou Barbárie – tendência do PSOL, por Antonio Soler
Na madrugada desta terça-feira (24), o prédio onde fica a produtora do Porta dos Fundos[1], na cidade do Rio de Janeiro, foi atacado por um grupo de 4 homens através do uso de coquetéis Molotov. O ataque provocou um incêndio que foi controlado pelo funcionário que se encontrava no local.
Desde que o especial de Natal “A primeira tentação de Cristo” foi disponibilizado na plataforma Netflix começou a ser alvo de inúmeras ações na justiça movidas por igrejas, ameaças de CPI na Assembleia Legislativa de São Paulo e petição online para que a Netflix retire o especial da programação.
Em vídeo divulgado na quinta-feira (25), o ataque foi assumido por um grupo de inspiração integralista (fascista) que se denomina como “Comando de Insurgência Popular Nacionalista da Grande Família Integralista Brasileira”.
Segundo os possíveis autores, o ataque teria sido motivado para “justiçar os anseios de todo povo brasileiro contra a atitude blasfema, burguesa e antipatriótica”.
O que tem causado a fúria fundamentalista e, agora, o atentado fascista é que no especial de Natal, Porta dos Fundos satiriza vários dogmas cristãos, dentre eles, retrata um Jesus que se descobre homossexual no deserto com Lúcifer, o triângulo amoroso entre Maria, José e Deus e as hesitações de Jesus em relação à sua missão.
A questão é que a fúria não foi causada apenas pela sátira aos ícones cristãos, mas porque a sátira se voltou para uma possível homossexualidade do messias. A fúria ocorre porque um Jesus gay é inadmissível entre os que pensam que a condição homo afetiva é indigna, suja e inferior à hétero.
Note-se que, em 2018 o Porta dos Fundos satirizou outra passagem da vida de Jesus com o Especial de Natal “Se beber não ceie”. Nesse, Jesus durante um porre na Ceia de Natal comete homicídios, corrompe e mente. No entanto, o episódio passou quase “desapercebido” pelos fundamentalistas e pelos fascistas.
Mas, é importante que se diga que a violência religiosa fundamentalista é praticamente cotidiana nas periferias das grandes cidades, com ataques aos terreiros de candomblé, aos ícones das religiões de matriz africana e a todas as formas de expressão cultural da juventude nas comunidades. Sem que, no entanto, o mesmo destaque, que está dando ao episódio que atinge o Porta dos Fundos, seja dado pela grande mídia, por setores da classe média e da esquerda.
Nesse momento político, no qual um governo protofascista instalado no poder central faz gestões diárias contra as liberdades de expressão e de organização e aos direitos econômicos e sociais dos trabalhadores e a diversidade cultural do nosso povo, é necessária a mais ampla unidade para exigir investigação e punição dos responsáveis pelo atentado fascista contra o Porta dos Fundos.
Uma unidade que não pare aí, na exigência de investigação desse caso e punição dos responsáveis, mas que se organize desde baixo contra o neofascismo, contra Bolsonaro e que tome as ruas do país contra qualquer ataque aos direitos dos explorados e oprimidos.
Em defesa dos direitos democráticos e de expressão!
Punição dos responsáveis pelo atentado fascista ao Porta dos Fundos!
Fora Bolsonaro/Morão, eleições gerais e democráticas já!
[1] O Porta dos Fundos é um grupo de humoristas notabilizado pela sátira social, política e cultural.