A luta dos entregadores, de uma juventude mundial precarizada, se levanta e começa a ganhar força pela reivindicação de direitos e contra os vergonhosos preços pagos por entrega.

Gabriel Mendes

Os lucros das empresas de delivery por aplicativos são mantidos pelos salários de fome pagos aos entregadores, de motos, bicicletas ou mesmo a pé, trabalham sem quaisquer direitos para empresas como Loggi, Rappi, UberEats ou Ifood e retomam, em pleno século XXI, condições de trabalho que remetem a formas de organização do trabalho sob o capitalismo que pareciam historicamente superadas, característica elementar de um capitalismo insuportavelmente agressivo e extremamente fragilizado.

Sem nenhum vínculo empregatício, benefícios como alimentação ou plano de saúde, qualquer dano a seus instrumentos de trabalho deve ser pago com o valor que recebem por entrega, a cada dia piores – chegando a ridículos 2 ou 3 reais que comprometem a subsistência de milhões de jovens, mesmo trabalhando! -, forçando esses trabalhadores a extensas jornadas de 12 ou mesmo 14h. A mentirosa promessa de “flexibilidade” nos horários tenta esconder o fato de que milhões de jovens trabalhadores dependem de forma exclusiva do trabalho para sobreviver e encontram, cada vez mais, situações instáveis, precárias e sem direitos. Uma vida sem perspectivas por condições dignas.

Antes e durante a pandemia do Covid-19 o desemprego vêm aumentando segundo os dados divulgados pelo IBGE, que calculou em 12,2% a taxa desocupação no final do primeiro trimestre de 2020, ante 11% no final de 2019 – ainda é preciso levar em consideração que o impacto da pandemia não foi levantado por essas estatísticas, pois foi anterior a propagação do Covid-19 no Brasil. Com a combinação entre crise econômica e a ação do governo negacionista-genocida que avançou em medidas como a MP927, que possibilita suspensão de contratos sem pagamento de salários ou a MP905, não podemos esperar outra perspectiva que não seja o aumento dos índices de desemprego e de trabalhadores na informalidade mostrados pelas estatísticas, com ampliação das demissões.

Durante a pandemia também ficou exposta a superexploração desse setor que passou por um aumento na demanda por entregas, já que temos uma quantidade significativa de pessoas em isolamento, enquanto os entregadores estão circulando e sujeitos a maiores riscos de contaminação pelo Covid. O que não falta são relatos de entregadores trabalhando sem acesso a álcool gel e EPIs e que acabam contaminados diariamente.

Diante das condições colocadas entraram em cena esses trabalhadores na sua maioria jovens, que vêm participando ativamente dos recentes processos de luta, mobilizando entorno de reivindicações por melhorias nas condições de trabalho como o fim das pontuações impostas pelos aplicativos, que divide a categoria e obriga muitos entregadores a trabalhar em longas jornadas nos piores horários e dias. Essa nova geração de trabalhadores esteve representada na semana passada fechando parte da Avenida Paulista e também se organizando em coletivos como o “entregadores antifascismo”, que marcaram presença nas recentes mobilizações pela democracia e pelo Fora Bolsonaro que ocorreram nos últimos finais de semana em São Paulo e já vinham ocorrendo em outras cidades.

Logo após o primeiro ato, onde a Polícia Militar atuou de maneira escancarada como segurança privada dos bolsonaristas, escoltando amigavelmente uma fascista que portava um taco de baseball e do outro lado reprimiu os antifascistas com bombas de gás e balas de borracha – foram destaque os entregadores que mostram disposição de luta contra a repressão e vêm se organizando contra as precárias condições de trabalho e por direitos.

Antes de declarar solidariedade e apoio a greve das e dos trabalhadores de aplicativos que está sendo chamada para o dia 1º de julho, é preciso destacar que é algo de enorme envergadura o fato de que estão sendo construídos instrumentos de organização política por setores que têm como característica a atomização de suas atividades, a ausência  de vínculos empregatícios com as empresas que os exploram até o completo esgotamento e os descartam sob qualquer situação, sabendo que há um grande exército de proletários prontos a assumir seus postos. 

Também é preciso destacar que a organização das e dos entregadores se dá sem o apoio das principais centrais sindicais, como a CUT e a CTB, essas que atualmente estão negociando a suspensão de salários colocada pela MP de Bolsonaro e estão totalmente inertes, sem nenhum papel na organização das manifestações por direitos democráticos e pelo fim do governo ultraliberal-genocida de Bolsonaro.

É fundamental que centrais sindicais classistas como a CSP-Conlutas e partidos da esquerda socialista, como o PSOL, fortaleçam o chamado para a greve que está sendo convocada para 1º de julho, apontando para a necessidade da auto-organização desse setor que avança politicamente e tem hoje um papel essencial na luta nas ruas, como parte de uma ampla parcela da classe que vive do trabalho e não têm condições de optar por sair ou não sair de casa.

Desde já nos colocamos solidários e apoiamos a luta dos trabalhadores, nos somando à greve e demais paralisações que vierem a chamar, compartilharemos aqui algumas das reivindicações do movimento.

Chamado

💥 CHAMA GERAL: PARALISAÇÃO NACIONAL DOS ENTREGADORES DE APP ⚠️

🗣️ Entregadores em todo o Brasil estão se mobilizando pro #BrequeDosAPPs, que vai acontecer no dia 1º de Julho, a partir das 9h da manhã em todo Brasil.

⚠️ As reivindicações são as seguintes: ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀

1. AUMENTO DO VALOR DAS CORRIDAS E PACOTES ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀

2. AUMENTO DO VALOR MÍNIMO POR ENTREGA ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀

3. FIM DOS BLOQUEIOS E DESLIGAMENTOS INDEVIDOS ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀

4. SEGURO DE ROUBO, ACIDENTE E VIDA ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀

5. FIM DO SISTEMA DE PONTUAÇÃO ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀

6. AUXÍLIO PANDEMIA (EPIS E LICENÇA) ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀

Esse é um movimento dos entregadores, de todos os apps, de todas as cidades e quebradas do país. É cada um organizando no seu bolsão com seus parceiros, sem liderança, pela melhoria da classe toda.

💥 NO DIA 1º DE JULHO VAMO FAZER ELES SENTIREM NO BOLSO O QUE A GENTE SENTE TODOS OS DIAS!