Segue abaixo carta escrita por militantes que compreendem que a luta para derrotar Bolsonaro, defender direitos democráticos, sociais e políticos passa necessariamente pela mobilização independente dos patrões e da burocracia e pela construção de um programa anticapitalista. Contribua com esse esforço assinando a carta e compartilhando o link.

Redação 

CARTA EM DEFESA DA DEMOCRACIA DA CLASSE TRABALHADORA

A crise capitalista em curso é gigantesca e alcança todos os cantos do planeta. A emergência climática revela que as condições socionaturais para a reprodução da vida estão sob séria ameaça. A reprodução do meio ambiente na Terra está em vias de colapsar. A crise econômica agrava-se. A crise sanitária provocada pela pandemia da Covid-19, resultado do próprio modelo de produção capitalista, matou milhões pelo simples fato de o poder econômico e político centrar-se em uma classe dominante que não se importa com as duríssimas condições de vida de trabalhadoras e trabalhadores, desde que seus lucros cresçam. A crise política, expressão caótica de todas essas crises, evidencia que as soluções não serão encontradas dentro da ordem burguesa.

No Brasil, esse cenário de crise política foi deflagrado pelas Jornadas de Junho de 2013, com uma campanha maciça das classes populares por direitos, seguida pelas manifestações contra a Copa em 2014, ambas violentamente reprimidas pelo Estado burguês, incluindo os governos do PT. Tudo isso ocorreu em meio à crise econômica mundial inaugurada em 2008, que provocou uma nova onda de políticas de austeridade e fez com que as diversas burguesias mundiais aprofundassem seus ataques contra direitos e conquistas da classe trabalhadora.

O agravamento do cenário partidário e eleitoral brasileiro se seguiu ao aprofundamento da crise mundial e seus reflexos devastadores sobre nossa sociedade. A crise se amplificou em todos os sentidos e em todas as formas; as crises políticas se internacionalizaram; a crise econômica gerou uma crise social generalizada, de caráter estrutural, desencadeando outras crises: humanitária, migratória, sanitária, etc.

Bolsonaro, na presidência da República, aprofundou os ataques contra a classe trabalhadora, os oprimidos e o meio ambiente, e desestabilizou ainda mais nossa já periclitante democracia burguesa, trabalhando dia e noite para criar condições políticas e sociais em direção ao fechamento do regime. Por isso, muitos no país, por diferentes motivos, desejam sua derrota nas eleições. Democratas se preocupam com a democracia liberal representativa; financistas, com o teto de gastos; já trabalhadoras e trabalhadores, com a inflação, o desemprego, a fome.

O bolsonarismo e a extrema-direita não são a causa de nossos problemas, mas são algumas de suas piores expressões. As causas relacionam-se com a forma da reprodução social no mundo atual: o capitalismo, notadamente em sua versão neoliberal, mas também o neodesenvolvimentismo de Lula e de outros governos ditos progressistas na América Latina. O bolsonarismo radicaliza essa dinâmica social. O lulismo pretende conter tal dinâmica, mas não a modificará. Foi eventualmente capaz de incluir mais pessoas no consumo, mas os limites da inclusão social na periferia do capitalismo são restritos. Não pode admitir que se trata de uma impossibilidade lógica, uma vez que nossa formação social segue produzindo exploração e exclusão social independentemente de hegemonias políticas conservadoras ou progressistas. Daí ser inevitável a frustração de todos que vivemos do próprio trabalho.

As trabalhadoras e os trabalhadores estão desarmados para enfrentar os desafios do atual momento histórico. Liberais e lulistas optaram por tentar derrotar Bolsonaro por meio de uma estratégia meramente eleitoral. Para nós, isso não basta, especialmente diante dos avanços golpistas do governo. É preciso armar nossa luta para derrotá-lo nas ruas e enterrar o bolsonarismo e a defesa do projeto burguês que seu governo e a maioria do congresso representam. Para isso, temos de ocupar as praças e avenidas, enfrentar as contradições do capitalismo brasileiro e mudar a atual correlação de forças na sociedade, o que é impossível de ser realizado através da conciliação de classes recolocada pela volta de Lula à cena política. Não há outra forma de garantir as liberdades democráticas da classe trabalhadora.

É hora de fortalecer a indignação popular e as lutas classistas de trabalhadoras e trabalhadores, bem como aprofundar o combate às opressões (em defesa dos direitos das mulheres, negros e negras, povos indígenas e quilombolas, LGBTQIA+, pessoas com deficiência e demais segmentos das classes populares), criando novas ferramentas organizativas que auxiliem na autonomia política, na consciência de classe e no reaprendizado de ideias socialistas e revolucionárias por parte de explorados e oprimidos. É por esse caminho que entendemos que as maiorias pobres no Brasil devem marchar. Novos caminhos devem ser construídos; não podemos repetir (mais uma vez) as fórmulas conciliatórias e reformistas já tentadas e fracassadas, que só levaram à perpetuação do que está posto.

Por isso, a mera defesa da democracia burguesa, liberal, representativa – expressa nas cartas de juristas, intelectuais, artistas, banqueiros, empresários, políticos tradicionais, burocratas sindicais e partidários – é patentemente insuficiente para interessar à classe trabalhadora que busca sobreviver em meio à crise atual. Daí a necessidade da defesa da uma democracia das trabalhadoras e trabalhadores, que não pode ser empunhada nem por burgueses nem por conciliadores de classe.

Hoje a esquerda socialista é representada unicamente por partidos (PCB, PSTU, UP e Setores combativos do PSOL), pela frente política Povo na Rua, pelo Polo Socialista Revolucionário, pela Central Sindical e Popular CSP-Conlutas, pela Intersindical Instrumento de Luta e Organização da Classe Trabalhadora e por coletivos militantes autonomistas e anarquistas. Conclamamos todos que estão junto ao cotidiano e aos movimentos sociais dos explorados e oprimidos a colocar nossa própria voz na luta contra Bolsonaro e por uma democracia substantiva, não meramente retórica.

Alterar os termos do rebaixadíssimo debate político-eleitoral em 2022 é absolutamente necessário. O mundo precisa de outras formas de vida, que só o socialismo pode proporcionar. É necessária uma política que diga isso. De imediato, propomos: a defesa do trabalho e de um modelo produtivo que estimule a auto-organização de trabalhadoras e trabalhadores; a supressão da miséria por meio da tributação progressiva dos mais ricos (agronegócio, bancos, empreiteiras); auditoria e suspensão do pagamento de todas as dívidas; reestatização das empresas privatizadas com controle popular; desprivatização do Estado em favor das urgências sociais dos mais pobres; educação e SUS públicos, gratuitos, universais, democráticos, laicos, de qualidade e socialmente referenciados; proteção intransigente das populações tradicionais e do meio ambiente. O papel da esquerda socialista, em que nos incluímos, é alimentar a transformação revolucionária, que será possível apenas quando a democracia for expressão participativa dos que vivem do próprio trabalho.

As derrotas não são definitivas na história. São as contradições inescapáveis do capitalismo que alimentam a luta de classes no Brasil e no mundo, renovando incessantemente a legião de trabalhadores e trabalhadoras que se batem pelo socialismo e pela liberdade. No momento atual, a luta de classes polariza-se entre rebeliões populares e giros reacionários, revolução e contrarrevolução. Nossa tarefa prioritária é aglutinar a esquerda contra a ordem, também em defesa da democracia sob a perspectiva dos interesses socioeconômicos e das lutas de trabalhadoras e trabalhadores.

Precisamos transformar este 7 de Setembro em um 7 de Setembro de luta da classe trabalhadora e juventude unificando todos os socialistas que são contra a conciliação de classes e defendem a independência política da classe trabalhadora e que lutam por um poder socialista da classe trabalhadora independentemente das suas candidaturas próprias nas eleições burguesas do 1º Turno de 2022.

Se você deseja assinar esta carta, e divulga-la ou se organizar junto com a gente para os próximos passos da luta socialista com independência de classes e contra a conciliação de classes das direções da esquerda liberal brasileira, preencha os seus dados e deixe seu contato abaixo:

https://docs.google.com/forms/d/1Lkn2pOAzSDSXgw19vaezsNbsuSRSFPliAOcLYQZvRss/edit

Assinaturas iniciais: Plínio de Arruda Sampaio Jr – SP , Claudia Santana Martins – SP , Beto Bannwart – SP, Severino Ramos Félix – SP , Marlene Petros Angelides – SP , Anderson Nogueira Alves – SP , Antonio Carlos Soler Notário – SP, Gabriel Manhães Barreto – SP, José Roberto Silva – SP , Deborah Lorenzo – SP, Bernardo Lopes Favero – SP, Renato Assad – SP, Marcos Honorio Fabiani Vieira – SP, Martin Torres Castro – SP, Marinalva Oliveira – RJ, Viviane Becker Narvaes – RJ, Marco Antônio Perusso (Trog) RJ, Valter de Almeida Freitas – RS, Jennifer Ribeiro – RS, Flávio Marcelo Pinto Soares – RS, Marco Andre Cadona – RS, Luiz Antônio Sypriano – PR, Fernando Michelis – PR, Chan Kin Con – PR, Gustavo Ramires Fernandes – RR

Organizações e Coletivos: Socialismo ou Barbárie, Juventude Já Basta!, Bancada Anticapitalista de SP, Coletivo Socialista e Revolucionário – PR