Nas primeiras horas da manhã de hoje, a Venezuela viveu um novo capítulo do golpe de Estado “em parcelas”, iniciado em janeiro deste ano.
Guaidó, em um vídeo em conjunto com o direitista Leopoldo López, anunciou a “fase final da Operação Liberdade”, pedindo uma revolta militar acompanhada por um pequeno grupo de policiais uniformizados. A tentativa falhou novamente.
Em ocasião da assunção de Maduro para um novo mandato e com a desculpa de “defeitos legais” da eleição que lhe deu novamente a vitória, Donald Trump e um grupo de governos subordinados a ele tentou deslegitimar o governo eleito e deu base à proclamação de Guaidó como “presidente encarregado”.
A partir de então, uma situação de “duplo poder” burguês foi estabelecida. De um lado, aqueles que detêm o poder efetivo: Maduro, as Forças Armadas e a Assembleia Constituinte (de convocação “democrática” questionável). Por outro, a Assembleia Nacional com um mandato já expirado e dominada pela oposição de direita.
À tentativa de golpe de Estado de hoje se somou um setor das forças armadas, mas ainda é muito pequeno. Desde janeiro, a tentativa de golpe foi paralisada porque não alcançou uma base real de apoio no exército, muito menos entre os grandes setores das massas. Nessas condições, o novo apelo de Guaidó foi mais midiático do que qualquer outra coisa.
A nova proclamação do golpe vem com a provocação de que, junto com o “presidente encarregado”, aparece Leopoldo López. É uma figura indiscutivelmente ligada ao golpe, ultradireitista e amplamente repudiado pelos setores populares. Ele foi responsável por tentativas de golpe em anos anteriores desde a época do próprio Chávez. Participou ativamente do golpe de Estado em 2002 e foi um dos responsáveis pelas mobilizações racistas das “guarimbas” que deixaram dezenas de mortes anos atrás.
Em uma das mobilizações preparadas por personagens como este, os “guarimberos” colocam fogo em um trabalhador por “ter um estereotipo chavista”, isto é, por ser negro. Em suma, Lopez é uma figura nefasta que representa o pior da velha classe dominante venezuelana e os setores médios ultrarreacionários. Desde o início de 2014 foi preso e, por um tempo, viveu em um regime de prisão domiciliar.
No vídeo transmitido hoje a partir das redes sociais de Guaidó, o “presidente” golpista afirma ter iniciado hoje a “fase final da Operação Liberdade”. Isso foi o chamado do operativo de golpe há cerca de um mês. “Hoje, como presidente da Venezuela, como legítimo comandante-em-chefe das Forças Armadas, peço a todos os soldados, toda a família militar, que nos acompanhem neste feito como sempre fizemos.”
Os governos dos Estados Unidos, Argentina e Colômbia se manifestaram em apoio. Trump pela boca de seu secretário Pompeo. Duque, presidente da Colômbia, foi o único presidente que falou diretamente: “Pedimos aos militares e ao povo da Venezuela que estejam do lado certo da história, rejeitando a ditadura e a usurpação de Maduro”. Macri, por outro lado: “Apoiamos mais do que nunca a democracia na Venezuela, celebramos a libertação de Leopoldo López e acompanhamos a luta do povo venezuelano para recuperar sua liberdade.”
Por outro lado, o Chavismo afirma que a situação esta sob controle. Rodríguez, ministro da Comunicação, diz: “Informamos ao povo da Venezuela que estamos atualmente enfrentando e desativando um pequeno grupo de militares traidores do país.”
Diosdado Cabello, presidente do Constituinte Madurista e chefe militar, disse que a situação é de tranquilidade: “Já estamos implantados e convidamos todo o povo de Caracas para o Palácio de Miraflores para defender a Revolução e nosso povo. Convidamos todos os milicianos, motorizados e patrulheiros.” A mobilização em Miraflores, chamada por Chavismo, é numerosa e esclarece dúvidas sobre o tom triunfalista das mensagens de Guaidó.
Da Venezuela, vemos que o sentimento dos setores populares é que, apesar do ódio e raiva que gera a crise econômica, poucos apoiam os “esquálidos”. Há um ódio arraigado entre a população que eles veem como inimigos de seus interesses.
Esse é um fato importante, porque isso não será mantido para sempre, ainda menos com a crise pela qual a Venezuela está passando. Esse parece ser o fator determinante até agora para que as tentativas de Guaidó apoiadas pelo imperialismo naufragaram.
Como fizemos desde o início, embora adversários de Maduro, desde a corrente internacional Socialismo ou Barbárie, rechaçamos a tentativa de golpe imperialista e afirmamos que é o povo venezuelano que tem que decidir o destino do país.