USP: passado e presente de luta

USP: passado e presente de um espírito de luta

ROSI LUXEMBURGO

No dia 27 de outubro de 2011 ocorreu no estacionamento da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP) um evento que desencadeou um processo dramático: a tentativa de prisão de dois estudantes que fumavam maconha no estacionamento da FFLCH no interior de um carro.

Esse fato aconteceu em um momento em que a crítica em relação à presença ostensiva da polícia – que se dedicava a constranger alunos negros com revistas e “esculachos” – no interior do campus Butantã vinha crescendo.

Estava evidente que polícia foi instalada para garantir a política racista e elitista da reitoria. Assim, o caso dos dois estudantes foi apenas uma faísca no barril de pólvora que já estava instalado.

A tentativa de prisão dos estudantes levou a uma batalha campal no interior da FFLCH que acabou com a PM sendo expulsa a pedradas – fugiu em suas viaturas e deixou para trás suas motocicletas.

Depois desse fato, as assembleias estudantis aprovaram a ocupação da reitoria  a partir de 2 de novembro. Ocupação que terminou no dia 8 de novembro a parir de uma violenta ação policial a mando da reitoria e do governo do estado de São Paulo.[1]

Mas, a partir daí, retomava-se na universidade uma etapa de muitos questionamentos sobre a democracia em seu interior. Movimento que deu origem a ocupações, greves gerais e outros movimentos.

Nesse momento também iniciou-se no interior do movimento estudantil o debate por cotas e ocorreu a eclosão de coletivos de gênero e opressões.

Então, o que poderia ser apenas mais um caso de repressão policial, acabou gerando um movimento por democracia que reverbera até hoje e que teve como resultado nesse ano as cotas raciais no vestibular.

Em 2018 teremos Cotas na USP e podemos arrancar muito mais

É possível repetir este espírito de rebeldia da época melhorando-o, evidentemente, porque das lutas devemos tirar lições.

Para isso, precisamos de um movimento estudantil forte e combativo, um Diretório Central dos Estudantes (DCE) cada vez mais interligado aos Centros Acadêmicos, Baterias, Atléticas, Coletivos de Opressões e de Cultura, Amorcrusp, Adusp, Sintusp e todos os organismos de base. Interligação essa que se faz com muita política e espírito de luta.

Acreditamos que tanto em nível local, mas também nacional, é  possível desconstruir essa narrativa de que não é mais possível fazer nada e que o inimigo é intransponível. 

Na USP, precisamos derrotar politicamente essa reitoria para que nenhuma mais seja eleita de maneira antidemocrática que permite retirar a cada gestão mais e mais do já escasso caráter público da universidade.

Este ano temos duas eleições importantes. Uma já está ocorrendo e a comunidade sequer sabe direito o que está acontecendo, ou seja, a eleições para reitor 2018.

Para essa, a posição do DCE com o movimento estudantil é clara: não vamos referendar esse processo antidemocrático em que uma ínfima minoria elege uma lista tríplice e o governador escolhe a seu bel-prazer um dos três candidatos para impor sua politica de desmonte da universidade.

Os estudantes e trabalhadores querem ter voz e voto! Também queremos votar! E mais: queremos transformar radicalmente a estrutura arcaica dessa universidade. E é disso que a reitoria tem medo. 

A segunda eleição é a do DCE que ocorre nos dias 7,8 e 9 de novembro.

A atual gestão, “Travessia”, da qual somos parte, tirou leite de pedra nessa conjuntura dificílima em que o nosso país está inserido.

Foram diversas atividades, debates, audiências públicas, atos internos e externos, diversos ônibus para Brasília com estudantes da capital e interior para os atos contra as PECs do governo Temer.

Além dessa imensa resistência. tivemos vitórias. Em 2018 queremos consolidar a vitória por cotas étnicos-raciais.

É nesse mesmo espírito que apresentamo-nos nestas eleições com a chapa “Pode chegar e não para”. Essa é a Chapa que luta por um DCE que se ligue cada vez mais às demandas da universidade, dos estudantes, mas que esteja também com os pés na rua.

Somente com um movimento estudantil unificado, uma entidade fortalecida e em luta  que podemos garantir que todos os estudantes de escola pública, negros e indígenas não só entrem na USP, mas nela permaneçam!

Democracia na USP já!

Permanência estudantil é direito! 

Basta de sucateamento!

Mais contratações de funcionários e investimento!

[1] Geraldo Alckmin (PSDB) disse que “os estudantes da USP precisavam ter uma aula de democracia” e para isso enviou à universidade, com o aval da reitoria, 400 homens da Tropa de Choque, cães, cavalaria e helicópteros, que usaram bombas de gás lacrimogêneo na moradia com crianças no seu interior, balas de borracha, prisões e até tortura.