Construir uma campanha nacional em solidariedade às categorias em greve
No primeiro trimestre a economia desacelerou brutamente, o crescimento do PIB foi de 0,2%. No mês de abril as exportações tiveram uma redução de 8% em relação a abril de 2012. Essa desaceleração atinge todos os setores da economia, inclusive os considerados mais dinâmicos. Os pátios das montadoras estão abarrotados de carros e já existem ameaças de férias coletivas. No setor que vinha garantindo a alta do PIB nos últimos anos – exportação de commodities – há uma redução da demanda internacional dos países importadores.
Enquanto o governo Dilma protege os patrões, para os trabalhadores reserva arrocho salarial, corte de investimentos nas áreas sociais – só na educação foram cortados 2 bilhões no início do ano – e se prepara mais ataques aos direitos trabalhistas. Para responder as demandas dos capitalistas o governo Dilma abaixa a taxa de juros, com o discurso de que essa medida interessa toda a sociedade, mas sabemos que só serve aos grandes capitalistas, porque essa redução não chega às famílias dos trabalhadores endividadas, reduz impostos para eletrodomésticos e carros, outra medida que desonera os setores industriais que mais faturam.
A bola da vez agora é a retomada da reforma trabalhista através de um Projeto de Lei (PL) que acaba com a garantia de acordos coletivos previstos pela Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT). Com essa garantia, o acordo salarial firmado por um sindicato com os patrões de um determinado ramo ou região deve ser aplicado em todas as fábricas. Querem, agora, estabelecer o Acordo Coletivo Especial (ACE) que permite acordos por fábrica.
O argumento do governo, dos patrões e da CUT é de que CLT está defasada e não permite liberdade para trabalhadores e patrões negociarem sem a tutela do estado. É óbvio que essa medida é mais uma da engenharia pré-crise para impor redução de salário e retirar direitos.
A partir do exemplo da Europa, onde os trabalhadores e a juventude enfrentam nas ruas a retirada de direitos históricos. Governo, patrões e a maior central brasileira operária brasileira – CUT – preventivamente querem construir melhores condições para que em um acirramento da crise todo o seu custo seja empurrado para os trabalhadores sem que esses tenham os melhores instrumentos para resistirem.
Por uma campanha nacional em apoio às categorias em greve
Os trabalhadores têm encontrado uma situação desfavorável em suas campanhas salariais, estudantis, por moradia ou reforma agrária. Isso ocorre porque há uma orquestração do Estado e do conjunto da classe dominante para impor uma derrota à luta dos trabalhadores e da juventude. Esse acordo, que se materializa entre o governo Dilma, governos estaduais e patrões de vários ramos, objetiva manter a situação política atual marcada por elementos reacionários.
Esses elementos são compostos pela repressão policial, inclusive com o uso de técnicas de espionagem e monitoramento policial; criminalização, processamento e prisão dos dirigentes, principalmente quando se trata de lutas que ameaçam a propriedade das terras ou diretamente o poder político, mesmo quando esse questionamento é local, como nos casos de ocupação das reitorias[1] que mesmo dentro da legalidade brasileira não significa um crime contra a propriedade privada.
Essa maquinaria política repressiva visa manter as altíssimas taxas de lucro, garantias diante da crise econômica e também que nos próximos anos – e os eventos esportivos são parte dessa estratégia – padrões mais intensos de exploração e novas fontes de enriquecimento sejam estabelecidos.
Apesar da política da grande mídia e das burocracias sindicais para isolá-los, e para que suas lutas e reivindicações não cheguem a conhecimento da maioria dos trabalhadores, as greves e outros conflitos acabam roubando a cena pela truculência com a qual esses movimentos são tratados pelos patrões e pelo governo. Os trabalhadores e a juventude, de forma fragmentada e sem uma apoio político de nenhuma central com peso nacional, reagem a essa situação com greves que em muitos casos ganham aspectos heróicos, como é caso dos professores da Bahia, há quase 80 dias em greve, Metroviários e Ferroviários da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU)[2], Trabalhadores do Funcionalismo público Federal e estudantes das Universidades Federais. São processos que se dão em resposta a política econômica aplicada pelo governo e o que se pode chamar de crise do modelo de dominação imposto pela “era Lula”. O caso da recente (dia 23 de maio) da greve dos metroviários de São Paulo é emblemático, pelo impacto que causa a paralisação do metrô e pelo, consequente, poder específico que tem essa categoria. Obrigaram a direção da empresa e o tribunal regional do trabalho a negociar após apenas 15 horas de greve instalada. Mas, mesmo assim, a posição da direção do sindicato foi suspender a greve diante da proposta rebaixada apresentada pela empresa.
Nessa greve ficou mais do que evidente que faltou da parte da direção do sindicato (filiado a CSP-Conlutas) audácia política para que a luta dos metroviários tivesse o necessário efeito catalisador. Ou seja, a manutenção da greve por mais alguns dias e o chamado a unificação da luta colocaria a greve dos metroviários e dos demais trabalhadores do sistema de transporte paulista em um patamar qualitativamente superior.
Mesmo em uma conjuntura desfavorável é possível, sem perder a noção de correlação de forças concreta, aproveitar as possibilidades de unificação e fortalecimento – mesmo que regionalmente – das lutas para colocar patrões e governo contra a parede. Essa possibilidade foi perdida no caso da greve do metrô.[3]
No momento as categorias que estão em greve enfrentam o governo e os patrões sem que nenhuma das centrais, nem mesmo a CSP-Conlutas, desenvolva uma campanha nacional em defesa dos que lutam, única forma de encontrar pontos de apoio reais na luta de classes para reverter a atual correlação de forças.
A forma concreta para contribuir nessa direção é que a militância das organizações políticas revolucionárias e os sindicatos combativos se voltem para a defesa e solidariedade de cada uma das lutas em curso, bem como para desenvolver propostas e esforços com objetivo de unificar as categorias em greve e para construir campanhas políticas nacionais em defesa das reivindicações comuns das categorias em luta e uma campanha nacional com eixos que dizem respeito a toda a classe trabalhadora, tai como:
· Contra a criminalização da luta. os processos e indiciamentos políticos, os cortes de gastos na educação, Reforma Trabalhista.
· Pela recomposição geral dos salários, salário mínimo do DIEESE, educação pública e gratuita para todos e em todos os níveis, reforma agraria e urbana sob controle dos trabalhadores.
Notas:
[1] Um exemplo disso esta relatado no artigo dessa edição Contra as prisões políticas dos estudantes da UNIFESP a mando de DILMA e ALCKMIN.
[2]Os Metroviários e ferroviários da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU). isto é, que as catracas fossem liberadas. É claro que a proposta não foi aceita pela empresa que tem por objetivo atingir o lucro máximo. ( http://www.brasildefato.com.br)
[3] Veja maiores detalhes no artigo Trabalhadores do transporte e servidores depois de ficarem quarenta dias em greve voltaram ao trabalho por determinação do Superior Tribunal do Trabalho (TST) com a alegação da antecipação do dissídio coletivo para o dia 26. Essa greve abarcava os metrôs de Belo Horizonte (MG) e Recife (PE), trens de Maceió (AL), João Pessoa (PB) e Natal (RN). Metrôs e trens só operavam nos horários de pico.