As novas pesquisas de intenção de voto trazem um cenário de estável indefinição político-eleitoral. Isso porque temos há um mês Lula à frente seguido por Bolsonaro oscilando basicamente dentro da margem de erro de forma que, apesar da vantagem de Lula, os números apresentados não definem se haverá ou não segundo turno na eleição presidencial. Questão que não é menor, pois uma segunda volta pode colocar um cenário mais perigoso e a disputa nas ruas ganharia ainda mais importância para o resultado eleitoral. Quesito em que, devido a política entreguista de Lula e seus seguidores, Bolsonaro segue à frente. Por essa razão, independentemente da tática eleitoral que se possa ter, derrotar Bolsonaro nas ruas para derrotá-lo política e eleitoralmente segue sendo a tarefa principal da luta de classes hoje e não pode ser negligenciada pela esquerda socialista.

ANTONIO SOLER

Aqui vamos usar basicamente os dados da pesquisa do instituto DataFolha realizada entre os dias 13 e 15 e divulgada na quinta-feira (15), porém os dados de outros institutos de pesquisa, apesar de apresentarem números ligeiramente distintos, indicam dinâmica eleitoral parecida.  

De cara, Lula (PT) tem 45% contra 34% de Bolsonaro (PL) do total de votos, uma vantagem de 12%, o que significa, em relação à pesquisa anterior do instituto, estabilidade de Lula e queda de 1 ponto percentual de Bolsonaro. Os demais candidatos que pontuam são Ciro (PDT) com 8% e Tebet (MDB) com 5%.

Em relação aos números de votos válidos – sem contar brancos e nulos – Lula aparece estável com 48% da intenção de votos. As pesquisas demonstram que nos grandes bastiões da população brasileira, Lula mantém-se à frente, pois a política eleitoreira de Bolsonaro não tem sido capaz de conquistar mais votos nessa parcela. O ex-presidente (Lula) segue à frente e tem 52% dos votos entre os que ganham até 2 salários-mínimos, Bolsonaro tem 27%.  

Esses dados ilustram que as políticas eleitoreiras (aumento do Auxílio Brasil de R$400 para R$ 600, vale caminhoneiro, vale taxista e redução do imposto sobre os combustíveis), para frustração da campanha de Bolsonaro, não surtiram efeito entre os que ganham até 2 salários-mínimos, segmento esse que tem muito peso na eleição, pois representa 49% do eleitorado entrevistado. 

Bolsonaro patina em sua estratégia

Ainda é cedo para cravar, porém o histórico de abandono de Bolsonaro em relação ao mais pobres, a sua necropolítica contra a periferia e os negros, o genocídio durante a pandemia, a misoginia e o ódio generalizado contra a classe trabalhadora, sindicatos, feminismo, movimento negro, esquerda e tudo o que pode aparecer alguma forma de modernização, progressismo ou transformação, tem cobrado o seu preço em termos eleitorais. Isso faz com que o crescimento apresentando entre os evangélicos, na classe média (sic) e nos eleitores do sudeste (que representam 4 a cada 10 eleitores) não tenha demonstrado consistência e se estagnou por ora.

Com as dificuldades de crescimento eleitoral nos grandes segmentos da população, Bolsonaro aposta em ampliar a rejeição de Lula na região sudeste, região com o maior número de votantes. De maio a setembro, a rejeição de Lula no sudestes cresceu de 36% a 44%, mas na última pesquisa a rejeição caiu 3 pontos e está em 41%. Mas, contraditoriamente, querendo ampliar a rejeição de Lula, Bolsonaro não conseguiu fazer cair sua própria rejeição nesta região, ao contrário, essa passou de 50% para 53%. Na classe média, uma das grandes esperanças de Bolsonaro com suas medidas eleitoreiras, segue praticamente empatado com Lula em 40% do eleitorado.

Um dado interessante para a análise das tendências e contratendências dessas eleições trazido pela primeira vez pelo DataFolha foi sobre o medo da violência política. Segundo a pesquisa, 67,5% dos entrevistados dizem ter medo de serem “agredidos fisicamente pela sua escolha política ou partidária” e 3,2% dizem terem sido ameaçados por motivos políticos no mês de agosto. 

Considerando o crescimento da violência política registrado, os episódios que resultaram no assassinato de Tesoureiro do PT de Foz do Iguaçu e outros, temos mais elementos de imprevisibilidade eleitoral. Pois, a violência pode impactar no processo de votação à medida em que os setores que mais tendem a votar contra Bolsonaro também são os mais propensos à abstenção. Isso somado ao medo da violência política pode ampliar o fenômeno da abstenção e influenciar o processo eleitoral de forma significativa. 

Com as dificuldades de Bolsonaro em obter mais votos nos segmentos mais amplos da população e ampliar a rejeição de Lula, o que pode levar a um cenário de vitória de Lula no primeiro turno, uma estratégia de ampliação orquestrada da violência bolsonarista – que tem se contido por ora porque pode levar a ainda maior rejeição de eleitoral – não está descartada. Cenário para o qual, devido à política traidora do lulismo de esvaziamento sistemático da presença militante das massas nas ruas, a classe trabalhadora não está sendo preparada. Essa posição que pode ter um custo alto com um tensionamento político mais direto nas próximas semanas.  

Oportunismo e sectarismo abandonam a luta nas ruas

Essa miríade de números não pode anuviar o que mais importa: apontar que os números das últimas pesquisas de intenção de voto não dão nada por resolvido, colocam, na verdade, um cenário de indefinição político-eleitoral. 

É ligeiramente mais provável, pelos dados da mais recente pesquisa do DataFolha, que tenhamos segundo turno, porém não vamos cravar nenhum prognóstico fechado, pois nas duas semanas de campanha que restam movimentos que estão em curso em parte do eleitorado poderiam assegurar a vitória para Lula no primeiro turno ou fazer com que a disputa presidencial seja resolvida apenas no segundo.

Em uma caracterização mais geral, como já pontuamos em notas anteriores, é importante reafirmar que Bolsonaro é um neofascista que se reeleito terá ainda mais condições de avançar em seu projeto de autocratização do regime político brasileiro. Como tem ocorrido com mandatários em várias partes do mundo, o segundo/terceiro mandato são ainda mais propícios para medidas que atentem contra o regime e os direitos democráticos. 

Coloca-se, então, como necessário derrotar Bolsonaro eleitoral e politicamente – o que não é o mesmo – para que não possa avançar em sua ofensiva reacionária uma vez reeleito ou que seja uma força capaz de construir uma oposição de extrema direita e voltar ao poder daqui a 4 anos. No entanto, não podemos abstrair que o seu principal opositor (Lula) e seu partido (PT) construíram uma frente eleitoral de conciliação com a burguesia que não representam os interesses da classe trabalhadora e dos oprimidos, mas que apenas oferece a volta ao passado, não apresenta um programa que atenda minimamente os trabalhadores e não organiza a luta direta para derrotar Bolsonaro (esse sim utiliza e se utilizará de forças institucionais e não-institucionais para se manter no poder).

Como resultado direto dessa política traidora – da qual o PSOL e a maior parte de suas correntes internas são cúmplices ao ingressarem na chapa Lula-Alckmin – temos uma correlação de forças (que não é medida pelos institutos de pesquisa) indefinida e que pode levar à recuperação de Bolsonaro no segundo turno. Bolsonaro, ao contrário de Lula, tem mobilizado contingentes massivos não apenas nos comícios eleitorais, mas também em manifestações de cunho golpista, ou seja, uma postura que se contrapõe à passividade do lulismo. No entanto, vários setores da esquerda socialista identificam da boca para fora o risco da vitória de Bolsonaro, mas não têm nenhuma política concreta para organizar a luta nas ruas, não apostam na unidade de ação, em frentes de base para organizar a luta antigolpista ou em juntar as forças políticas da esquerda socialista em uma frente comum. 

Esse fato, a desmobilização das forças antigolpistas, somado ao apoio que tem de parte do empresariado, das forças armadas e de uma importante franja da população, coloca Bolsonaro como um grande perigo se for ao segundo turno. Nesse sentido, como tem sido uma linha estratégica constante do lulismo, não ter organizado um ato contra Bolsonaro no 7 de setembro e nem jogado peso no ato do dia 10 do mesmo mês (Lula e sua campanha preferiram realizar um ato eleitoral em Taboão da Serra no mesmo dia), comprova a política entreguista do PT, do PSOL, do PCdoB e de Lula. Essa estratégia traidora pode ser decisiva para que Bolsonaro não seja derrotado no primeiro turno e para que se mantenha como uma poderosa força massiva de extrema direita, ganhando ou perdendo as eleições, tentando ou não uma manobra golpista para se manter no poder. 

Em outra escala de importância menor, porém com o seu impacto na vanguarda, temos também uma política de ultra esquerda levada pelo MRT e por outras organizações de não participar e não convocaram o ato pelo Fora Bolsonaro dia 10 de setembro com o argumento de que era um ato eleitoral. Essa é uma abordagem totalmente sectária que em nada contribui para derrotar Bolsonaro, pois em que pese não ter sido um ato massivo, foi um ato combativo e contou com a participação de setores populares, de trabalhadores e da juventude e poderia ter tido um impacto maior na realidade política e contribuído para destravar a luta direta. 

Em uma momento em que a ação nas ruas é fundamental para impulsionar a luta, para colocar o bolsonarismo na defensiva nas ruas e para afastar qualquer ameaça golpista, suspender a tática de unidade de ação com uma política de independência da frente eleitoral de conciliação de classes é puro sectarismo estéril, um verniz esquerdista que esconde uma tática oportunista que não contribui em nada com a denúncia contra o entreguismo de Lula e com a exigência para que as luta para derrotar Bolsonaro seja levada para as ruas. 

Assim, Socialismo ou Barbárie -S0B, Bancada Anticapitalista e Já Basta!, compreendendo que é fundamental derrotar Bolsonaro nas ruas e nas urnas, seguiram exigindo e organizando a unidade de ação para levar a luta para as ruas, organizando Comitês AntiGolpistas para organizar a luta desde a base e lutando por uma Frente de Esquerda Socialista para centralizar a política revolucionária em uma frente de organizações que sejam capazes de contribuir com os enormes desafios que enfrentaremos nas próximas semanas e no próximo período da luta de classes.