A primeira Plenária Política Aberta da Juventude Já Basta! e da Corrente Socialismo ou Barbárie (SOB) foi um grande sucesso. Essa foi a primeira de um ciclo de reuniões com militantes, colaboradores, contatos e convidados para discutir temas políticos nacionais e mundiais com o objetivo de realizarmos sínteses e ações que nos permitam coletivamente intervir na luta de classes.
Nessa Plenária, contamos com a presença de Plínio de Arruda Sampaio Jr como convidado especial e mais de 30 companheiros e companheiras estudantes, trabalhadores e desempregados que se dedicaram ao balanço do 1º Turno da Eleições Municipais de todo o país e, particularmente, da cidade de São Paulo. Como medida do entusiasmo e da vontade de contribuir com o debate dos presentes, contamos, além das falas de abertura e encerramento, com a intervenção de 15 compas que contribuíram com análises e encaminhamentos.
Fazendo uma breve síntese do debate – publicamos as Resoluções abaixo e em breve publicaremos os vídeos das falas de abertura e encerramento em nossos canais -, podemos dizer que as eleições ocorreram em um cenário mundial e nacional de tendência crescente ao desequilíbrio, de polarização extremada entre as classes e de fracasso completo da política de conciliação que têm repercussões diretas nos resultados eleitorais e na retomada da ofensiva da extrema direita.
Considerando o resultado ainda parcial das eleições municipais – apenas o 2º Turno com o resultado das eleições de São Paulo e de outras capitais vão concretizar o processo -, houve muito acordo em torno de que os grandes vencedores dessas eleições foram a direita ultrarreacionária e a extrema direita. Os partidos do Centrão fizeram a maior quantidade de cidades e o bolsonarismo, se confirmar a vitória em algumas capitais que está disputando – além de São Paulo -, sairá vitorioso também.
Apesar de ser um fenômeno visto em outras capitais, São Paulo é o grande exemplo do processo de crescimento da hegemonia e da retomada da ofensiva ultrarreacionária no Brasil. Pablo Marçal (PRTB), com o discurso antissistema ultra individualista e reacionário de mad men yourself dos algoritmos surge como fenômeno de extrema direita por fora da órbita direta do bolsonarismo.
Contando os votos de Nunes e de Marçal no primeiro turno, chegamos a 57,63% dos votos válidos na capital paulista. Esse cenário fica ainda mais catastrófico se pensarmos que ambas chapas de extrema direita tiveram a maior parte dos votos dos setores mais empobrecidos e periféricos da população.
Mesmo com divisão interna, a extrema direita garante presença no segundo turno com amplas possibilidades de vitória, na última pesquisa de intenção de voto Nunes aparece com 55% contra 33% de Boulos. O exemplo de São Paulo é apenas a ponta de lança do crescimento da hegemonia ultrarreacionária no Brasil como um todo.
Fenômeno este que não pode ser explicado apenas por mudanças no perfil sócio-econômico-cultural da população, como quer fazer acreditar a ideologia que a esquerda da ordem (PT, PSOL, PCdoB e etc.) dissemina. Esse resultado só pode ser compreendido pela suspensão de toda luta direta exigida pelo governo Lula 3 e toda a política de conciliação de classe com a burguesia.
Trata-se de um processo que deveria servir como um grande sinal de alerta, pois uma vitória do Centrão e do ultrarreacionarismo permite ataques de todas as ordens aos trabalhadores e oprimidos. No Congresso tramitam projetos para transformar o legislativo (o Centrão, portanto) no novo poder moderador, para anistiar os golpistas de 8 de Janeiro e restituir a elegibilidade de Bolsonaro, sem falar nos ataques aos direitos reprodutivos das mulheres, em ataques aos servidores públicos e aos direitos dos trabalhadores em geral – nos quais o governo e sua frente ampla (PT e PSOL) através de seus projetos neoliberais e de cortes de gastos são parte central destes ataques.
Essa linha política permitiu a retomada da ofensiva ultrarreacionária, retirou do programa eleitoral qualquer proposta de resolução concreta dos problemas dos trabalhadores e dos oprimidos. Não se derrota a extrema direita sem luta nas ruas e programa anticapitalista, esse é um exemplo histórico que a velha (PT) e a nova (PSOL) esquerda da ordem teimam em não reconhecer.
A discussão da Plenária passou pela compreensão de que o fenômeno do crescimento eleitoral da extrema direita, de retomada da ofensiva e ataques generalizados, exige uma tática eleitoral que rompa com a velha separação social democrata entre tática eleitoral e tática de luta direta. Tanto a realidade exige a fusão de elementos táticos que o reformismo e sua conciliação com a burguesia separou.
Apesar da ofensiva burguesa, da extrema direita e do governo de conciliação de classes de Lula 3, existe um processo de resistência da classe trabalhadora e dos oprimidos que se manifestou nesse ano eleitoral na luta da mulheres em defesa dos seus direitos reprodutivos, dos povos originários pelo direito a seus territórios espoliados, dos trabalhadores precarizados, da população LGBTQIAPN+, da juventude e das famílias que precisam do uso terapêutico da Cannabis pela legalização da maconha, e dos funcionários públicos e estudantes das universidades federais.
Não podemos cair na avaliação unilateral e derrotista feita por várias correntes do PSOL de que não temos nenhum espaço para fazer a luta nas ruas. Isso, além de não ser verdade, só serve para entregar totalmente as ruas para a política da extrema direita – o resultado prático dessa linha estamos vendo a olho nu. Por isso, nossa bandeira funde a luta direta com o voto, defendemos: Tomar as ruas já! Nenhum voto em Nunes e nenhuma confiança na conciliação de classes!
Essa bandeira responde ao desafio de derrotar a extrema direita em São Paulo para que não tenha um ponto de apoio para a sua ofensiva nacional, mas com a convicção que só poderemos derrotar Nunes no 2º Turno criando um movimento imediato nas ruas, sem confiança nenhuma na frente ampla de Boulos e apresentando um programa anticapitalista para solucionar os gigantescos problemas dos trabalhadores e oprimidos de São Paulo.
Por essa razão, a Plenária também aprovou como parte de suas bandeiras lançar exigências às centrais sindicais, populares e estudantis (CUT, UNE, MTST) para que organizem imediatamente a luta nas ruas para derrotar Nunes. Da mesma forma, a CSP-Conlutas, única central independente, deve chamar uma Plenária imediatamente para tomar a iniciativa de organizar já a luta nas ruas de São Paulo para derrotar Nunes no 2º Turno.
Na parte final das suas Resoluções, a Plenária aprovou por unanimidade a elaboração de um material que leve essa reflexão para a Assembleia dos Estudantes da USP e para as ruas de São Paulo. Material que será assinado por Já Basta! e independentes.
Por fim, gostaríamos de agradecer todos/as convidados, militantes e colaboradores da Juventude Já Basta! e da Corrente SoB que com sua presença, intervenções e envolvimento nas tarefas tiradas foram fundamentais para o sucesso da Plenária que tem como desdobramento a intervenção mais concreta na luta de classes para derrotarmos a extrema direita em São Paulo e em outras cidades. Leia abaixo as Resoluções da Plenária.
Equipe de Redação
Enfrentar a ofensiva da extrema direita nas ruas com independência de classe
Resoluções da Plenária Aberta da Corrente Socialismo ou Barbárie e da Juventude Já Basta! 12/10
Considerando:
- As eleições municipais deixam claro que a direita e a extrema direita são os campos políticos vencedores. O Centrão reacionário e a extrema direita bolsonarista já garantiram a prefeitura de aproximadamente 72% dos municípios nacionais apenas no primeiro turno. Isso demonstra o fracasso da conciliação de classes para conter a extrema direita impulsionada pela esquerda da ordem, que retiram a luta das ruas e dão continuidade à agenda da classe dominante de ataques aos trabalhadores e aos setores oprimidos. A cidade de São Paulo é um grande exemplo do fracasso da conciliação de classes do PT/PSOL e joga um papel chave para colocar um contrapeso à ofensiva da extrema direita e por isso a derrota de Ricardo Nunes é fundamental diante das circunstâncias. Além do voto contra Nunes neste segundo turno, apenas uma mobilização massiva pelas ruas é capaz de garantir a derrota da extrema direita no próximo dia 27/10 e também preparar a luta pós- eleitoral. Esse deve ser o eixo da nossa política para os próximos 15 dias!
- A simultaneidade da maior seca dos últimos setenta anos com milhares de queimadas devido ao aquecimento global, que causaram sérios problemas de saúde para grande parte da população, deixaram clara a dimensão da crise ecológica no Brasil, potenciada pela convergência dos extremos climáticos com a ação intencional de uma extrema-direita negacionista e ruralista ecocida que tem colocado criminosamente fogo em suas propriedades e em áreas públicas. Diante disso, novamente, a conciliação de classes demonstrou seu fracasso para deter o agronegócio sendo responsável pelo maior Plano Safra da história. Por outra parte, cresce o sentimento de repúdio à destruição da natureza pelo agronegócio e está surgindo um novo movimento ambientalista a nível nacional que é capaz de articular cidade e campo, movimento indígena e ambientalistas, ou seja, conectar na luta espaços e sujeitos distintos. No entanto, para que essa nova conexão de lutas possa explodir nas lutas de rua e, para estar à altura do desafio, terá que ser anticapitalista e independente de qualquer governo ou setor burguês.
- Diante do acima exposto, é fundamental que a esquerda revolucionária seja um ponto de apoio para impulsionar a luta nas ruas contra a extrema direita e, ao mesmo tempo, promover a ruptura com os ataques concretos do Lula 3 a estratégia de conciliação de classes que propõe a esquerda da ordem, pois, como foi dito, funciona como uma “camisa de força” que bloqueia o desenvolvimento da organização e mobilização independente das bases nos centros de trabalho e estudo.
Esta Plenária resolve:
- Para o segundo turno eleitoral das eleições à Prefeitura:
a. Chamamos taticamente ao voto nulo em todas as capitais nacionais em que o confronto acontece entre partidos da direita e extrema direita. Já nas capitais em que a esquerda da ordem com o PT ou PSOL vai ao segundo turno, chamamos a não votarem na direita ou extrema direita e, principalmente, a tomar as ruas contra as candidaturas de extrema direita levantando bandeiras anticapitalistas, única forma eficiente de derrotar o bolsonarismo nestas cidades.
b. Na cidade de São Paulo, cidade em que uma vitória de Nunes significa um tremenda vitória da extrema direita e do bolsonarismo, pois coloca melhores condições para a reabilitação eleitoral de Bolsonaro, a anistia a todos os golpistas e a ataques ao direitos democráticos, sociais e econômicos dos trabalhadores, a nossa consigna é: “Para derrotar à extrema direita em São Paulo: Tomar as ruas já, nenhum voto em Nunes e nenhuma confiança na conciliação de classes!”. No caso de Nunes sair vitorioso das eleições, atualizaremos a nossa palavra de ordem com o “Fora Nunes”.
c. Exigir imediatamente que as direções do movimento de massas, como CUT, MST, UNE convoquem imediatamente atos de unidade de ação para lutar contra Nunes e derrotar a extrema direita em São Paulo.
d. Chamar a Conlutas, única central com independência de classes no Brasil e da qual fazemos parte, para que convoque imediatamente uma plenária no início da semana que vem para discutirmos um plano de lutas.
2. Participar da organização da “Marcha do Clima: floresta de pé, agronegócio no chão”, contribuindo na construção dessa frente ecologista sem deixar de lado nosso programa de independência de classe.
a. Somar-nos às principais atividades organizadas em outubro e novembro:
24/10 – Manhã: Mutirão de lambes pela cidade e intervenção política com faixas.
30/10 – Ato contra PEC48 (Novo Marco Temporal) – Dia nacional de mobilização indígena (horário e local por definir).
02/11 – Reunião Ampla da Marcha sobre Ato (horário pela tarde).
16/11 – Ato Marcha pelo Clima, 15h (local por definir).
b. Define como eixos programáticos para atuar na frente ecologista, as consignas:
Pelo fim do agronegócio! Expropriação dos latifúndios e reforma agrária radical!
Unificar a luta contra o ecocídio do campo e da cidade
Derrotar o Marco temporal pelas ruas!
Chega de genocídio dos povos originários
Fim do Plano Safra!
Abaixo o arcabouço fiscal! Aumento do orçamento do IBAMA!
Não ao pagamento da dívida pública! Utilização desses recursos no combate à crise ambiental!
c. Levar a política contida nas resoluções anteriores às bases dos cursos da USP bem como em espaços de circulação de trabalhadores e entregadores de plataforma, com o intuito de impulsionar a mobilização do movimento estudantil e se tornar um ator chave na luta contra a extrema direita e na luta ambientalista.
3. Participar e construir a próxima assembleia geral de Butantã (Quarta 16/10 às 17h30) para impulsionar a convocação a uma jornada de luta unitária nas ruas, convocando as demais entidades estudantis e de trabalhadores docentes e não docentes, centrais sindicais e movimentos sociais para que organizem suas bases para um verdadeiro tsunami estudantil e popular que derrote Nunes, Tarcísio e Bolsonaro! Essa política também deverá ser levada às bases dos cursos onde temos estruturação e militância.
a. Construir os atos da “Marcha pelo Clima” na USP, chamando o DCE e os Centros Acadêmicos para que se incorporem ao calendário de atividades em outubro e novembro, convocando e impulsionando as mobilizações nos espaços de base dos cursos onde temos estruturação e militância.
b. Organizar uma panfletagem perto de uma estação do metrô e em bolsões de entregadores, para apresentar a política eleitoral aprovada pela plenária. Para isso se propõe elaborar um boletim do SoB, Já Basta! e independentes. Neste material se sugere esclarecer o significado do termo conciliação de classe.
c. Com o intuito de organizar a panfletagem e preparar a próxima plenária, se aprovou criar um grupo de whatsapp e também uma vakinha para concretizar os materiais da panfletagem e outras atividades que surgirem.
4. Marcar a próxima plenária aberta para o sábado 23 de novembro.
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